Texto: Cristina Fontenele*Há um ano iniciava esta coluna no DN Brasil e, desde então, tem sido uma alegria (e também um desafio) participar de um espaço que acolhe múltiplas reflexões e partilhas sobre imigração. Ambiente coletivo e precioso para pensarmos o mundo e o conviver, para contarmos nossas experiências que são as mais diversas em contextos de menos ou mais vulnerabilidade.Escrever sobre a vivência imigrante é um convite ao diálogo e à tolerância, porque as realidades podem ser muito distintas e nem sempre é fácil exercitar a empatia. Para alguns, é mais custoso imaginar um cenário diferente do que aquele no qual acordam todos os dias. Em certas situações predominam as diferenças, a restrição, o impedimento, e aí é desafiador adaptar-se e procurar convergências quando não existem alternativas aparentes.Em outras condições, os imigrantes experimentam mais oportunidades, bons encontros, um crescimento positivo de expectativas e sonhos. Ânimo, corpo e saúde acompanham essa evolução e há um consequente estado de bem-estar e esperança. Embora isso não garanta que haverá maior integração no novo país, mas é um aspecto facilitador..Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsApp!Acredito que a escrita pode ser uma das ferramentas de intermediação do viver na medida que desperta no leitor variadas possibilidades - afeto, espanto, lazer, representatividade, pertença, conhecimento. E dúvidas, porque a capacidade de questionar faz parte do amadurecer, é a via para sair do conformismo e construir nosso próprio caminho.Ao lermos um texto, pode ser que uma perspectiva diferente se descortine. Cada linha que estimula o pensamento crítico ou traz um respiro poético é um contributo por meio da palavra desenhada. Uma forma também, enquanto escritores, de honrarmos o tempo de cada um em meio à concorrência por escuta e atenção. Na primeira crônica desta coluna, escrevi sobre as dimensões de tempo e lugar, por que migramos, se é possível levar nossos sonhos para outro território e as culpas inconscientes que carregamos na mudança. Eu fazia seis anos de vida lisboeta, agora já irei para sete anos com novas preocupações: renovação de documentos e transição de carreira. .Opinião. Ser imigrante nos traz uma nova consciência política? .Na atual conjuntura de Portugal, muitos imigrantes estão com a vida em suspenso, com sensação de apneia, em decorrência das iminentes mudanças na legislação e seus efeitos críticos. Estão à espera de quando poderão respirar com alívio e normalidade outra vez (ou pela primeira vez).A coluna também abordou temas como solidão do imigrante, luto à distância, quanto tempo a gente leva para se adaptar, e se não tivéssemos mudado de país, os desafios em partilhar casa com desconhecidos, costumes de Páscoa e São João, novos rituais que criamos para pertencer. Os assuntos não se esgotam diante de uma dinâmica onde, a cada dia, pode surgir uma nova demanda para o imigrante.Ao longo das crônicas, histórias de muitas pessoas ilustraram diversidade, resiliência, coragem e a força dos recomeços. A todas elas, obrigada por partilharem seus aprendizados. Seguiremos com mais reflexões. Cada relato ecoou um pouco em todos nós imigrantes, que somos, para além da nacionalidade, seres humanos com passado, raízes, afetos e desejos de futuro.*Cristina Fontenele é escritora brasileira, com especialização em Escrita e Criação. Autora de "Um Lugar para Si - reflexões sobre lugar, memória e pertencimento”, além de jornalista e publicitária. Escreve crônicas há quinze anos e, como típica cearense, ama uma rede e cuscuz com café bem quentinho..O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil..Crônica. Os santos que nos unem .Crônica. O que as mães dizem quando emigramos?