O que há de bom: as dicas culturais do fim de semana do DN Brasil
Chegou a quinta-feira, dia da agenda cultural do DN Brasil para Lisboa e arredores. Para a programação dos próximos dias, destacamos os espetáculos da coreógrafa Gaya de Medeiros, a inauguração da Associação Fala Orgânica e uma programação musical de brasileiros recheada de shows em diferentes partes da cidade. A dica gastronômica é um boteco para quem gosta de (muito) alho.
A edição semanal da O que há de bom está no ar!
Gaya de Medeiros na Culturgest
A partir desta quinta-feira (10), a artista brasileira Gaya de Medeiros volta a ter um espetáculo nos palcos portugueses com Cafezinho, apresentação que cruza dança, música e performance numa reflexão sobre o tempo e a finitude. Com intérpretes entre os 23 e os 61 anos, a peça parte da memória de Café Müller, de Pina Bausch, para revisitar os traumas do pós-guerra e imaginar formas de reconstrução — tanto coletivas quanto íntimas.
Com inspiração em clássicos e cânones, Cafezinho pergunta o que merece atravessar o tempo em um gesto de resistência poética contra a paralisia do presente e um convite a adormecer as ansiedades e reacender novas forças. O espetáculo também é exibido na sexta (11) e no sábado (12), com entradas que custam €14 e podem ser adquiridas neste link.
Onde? Na Culturgest (R. Arco do Cego 50. Lisboa)
Quando? Quinta (10), sexta (11) e sábado (12)
Preço: €14
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Inauguração da Associação FALA
A partir do sábado (12), A cena cultural de Lisboa ganha uma nova associação: a Fala Orgânica, coletivo formado por artistas brasileiros e portugueses com foco na palavra poética, na arte independente e na diversidade da produção em línguas portuguesas. O evento de lançamento será a partir das 17h30, na Biblioteca de Alcântara, com entrada gratuita.
A programação inclui performances teatrais, poesia falada, música ao vivo e o tradicional slam de poesia Todo Mundo Slam, desta vez em homenagem à Revolução dos Cravos. A direção artística é assinada por Lucas França e Maria Giulia Pinheiro, e o evento reunirá nomes como Anna Zêpa, Gonçalo Antunes, Hugo Vasconcelos, Karen David, Marina Campanatti, além dos próprios diretores.
Onde? Biblioteca de Alcântara - R. José Dias Coelho 27-29, Lisboa
Quando? No sábado (12)
Preço: Entrada gratuita
Pedro Sampaio no Campo Pequeno
Em alta na terrinha após a a conquista do Prêmio Lusofonia no PLAY – Prémios da Música Portuguesa, com o single “Cavalinho”, Pedro Sampaio, um dos grandes nomes do pop brasileiro na atualidade faz duas apresentações em Lisboa neste final de semana. A primeira será na sexta (11), a partir das 21h, mesmo horário da apresentação do sábado (12). Ambos espetáculos ocorrerão na sala de shows do Sagres Campo Pequeno.
Para sábado, os ingressos já estão esgotados, mas ainda há entradas disponíveis para o show de sexta, com bilhetes que variam entre os €24 e os €45.
Onde? No Centro de Lazer do Campo Pequeno, em Lisboa
Quando? Sábado (5), a partir das 13h
Preço: €24 - €45; disponíveis neste link
Rainhas do Autoengano na BOTA Anjos
Já o domingo também será de música brasileira na Base Organizada da Toca Das Artes (BOTA), nos Anjos. As artistas brasileiras residentes em Lisboa Kali Peres e Natalia Green formam com a portuguesa Madalena Palmeirim o grupo Rainhas do Autoengano, que se apresenta na associação a partir das 21h.
Com um repertório original que abrange diferentes ritmos, como pop, bossa nova, MPB ou folk, a banda formada em 2021 retornou aos palcos em março, com uma apresentação em Sintra. Agora, chegou a vez de voltarem a se apresentar na capital portuguesa. Tanto Madalena quanto Natalia e Kali - que também integra o Coletivo Gira - são vocalistas no trio, sendo que a primeira ainda toca cavaquinho, a segunda guitarra, e a terceira guitarra e baixo acústico.
Onde? Na BOTA Anjos (Largo Santa Bárbara 3 D. Lisboa)
Quando? Domingo (13), às 21h
Preço: €10; reservas aqui.
Programação brasileira na Fábrica Braço de Prata
A Fábrica Braço de Prata recebe cinco eventos de música brasileira entre sexta (11) e segunda (14), com destaque para o Forró Factory (sexta, 22h), espaço de celebração da cultura nordestina em Lisboa. No mesmo dia, a cantora Roberta Campos (22h30), indicada ao Grammy Latino, apresenta seus sucessos em versão intimista, seguida do Vinicius Surian Trio (23h30), com um show baseado no novo álbum do multi-instrumentista brasileiro. A entrada para os três eventos custa €10.
A programação encerra na segunda (14), às 21h, com a Sarapatel Session, evento gratuito de convívio com petiscos e som do DJ Caio Azevedo, ideal para quem ainda quer dançar no início da semana.
Onde? Na Fábrica Braço de Prata (R. Fábrica de Material de Guerra 1. Lisboa)
Quando? De sexta a domingo. Mais informações neste link.
Preço: sexta (€10), segunda (gratuito)
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Extra: a dica gastronômica da semana
‘Carlitos’
Tive que pesquisar no Google para me lembrar do nome oficial do popularmente conhecido ali no bairro como Carlitos. É na Rua da Nossa Senhora da Glória que fica o restaurante do rei do alho, o senhor Carlos, que carinhosamente virou referência máxima para quem quer se referir ao seu Rebelo e Afonso pelo capricho que bota em cada prato que sai da cozinha da casa - invariavelmente acompanhado de uma grande quantidade do condimento mais indigesto para os vampiros.
Em pouco ou quase nenhum lugar de Lisboa dá para encontrar um lugar tão tradicional quanto o Carlitos. O restaurante é simples, quase decadente, com uma confusa decoração que inclui garrafas antigas e diferentes bugigangas. Perto do balcão, dezenas de sacos de batatas - caseiríssimas - alho e cebola conversam de frente com a montra recheada de queijos de distintas partes do país. O bar tem igual variedade, com uma coleção de diferentes cervejas, algo raro nessas tascas e que são buscadas pelo próprio cliente. O pessoal da casa fica do outro lado do balcão, servindo doses de ginja, Aliança Velha, uísque ou bagaço.
Se o ambiente é simples e acolhedor como o de casa - dependendo do humor do Carlos, António e resto da turma de confiança do Carlitos - a comida não foge disso. Além dos acepipes da montra, o restaurante, que diga-se, não tem cardápio, serve o que de melhor tem os botecos portugueses: pica-pau, gambas à guilho, prego e bitoque. Mais nada. Todos, como referido, com doses generosas do alho caramelizado com carinho pelas mãos do Carlos, o único que comanda a cozinha do local.
Se você é um carnívoro como eu, o ambiente do Carlitos é cinematográfico. Espreitar a cozinha do restaurante é ver o artista inspirado pintando seu quadro, no caso o Carlos com uma peça quilométrica de carne de vaca cortando um pedaço de dois dedos de bife com uma faca pontiaguda. Aqui cabe ressaltar que o prego e o bitoque do restaurante, carros-chefes do estabelecimento, não são feitos para quem não gosta de um bom bife mal passado. Se é do ponto para cima, é melhor já avisar de antecipação para os companheiros, embora provavelmente o pedido não agrade aos funcionários da casa.
Estando na Graça, região mais do que central e gentrificada, o Carlitos, para minha tristeza e alegria dos proprietários, tem ficado cada vez mais concorrido nos últimos tempos. Na mais recente visita, mesas de nômades digitais e estudantes Erasmus ocupavam grande parte do restaurante outrora refúgio dos boêmios da região: que não se torne uma regra e sim, uma exceção, afinal, não será numa padaria artesanal junto a uma omelete de salmão que os resistentes locais encontrarão o momento de reflexão pelo quais tanto ansiavam na laboriosa semana.
Voltando a comida, digo sem pestanejar: o pica-pau, prato que nunca foi dos meus favoritos, é coisa de louco no Carlitos. O prego - cuidado com o piri-piri! - é como um abraço na alma. O bitoque já quase me fez chorar. Um boteco dos sonhos em pleno coração de Lisboa, o meu favorito até pouco tempo atrás, quando uma outra tão falada cervejaria no outro lado da cidade foi objeto de visita deste que vos escreve. Mas essa história fica para uma próxima.
Onde? No Carlitos, ou Rebelo & Afonso (Rua da Nossa Senhora da Glória, 57. Lisboa)
Preço: €10 - €15
Até semana que vem!