O projeto do grupo EducAR, formado por docentes brasileiros e portugueses. Atuante desde 2018, o grupo dá um novo passo neste ano letivo que acaba de começar, com uma proposta diferente: receber os estudantes para atividades na Casa Capitão, em Lisboa. “Queremos trabalhar a educação para os direitos humanos com pessoas de todas as idades e nacionalidades”, explica ao DN Brasil o educador Danilo Cardoso, natural do Recife, Pernambuco. O nome da inciativa é OcuPAR.As atividades serão realizadas pela manhã, já que, à noite, a Casa Capitão - atualmente em obras - será um espaço para shows e eventos. “A proposta é justamente ocupar esse espaço cultural e torná-lo acessível às escolas durante a semana, mas também ao bairro, às famílias e à comunidade aos sábados”, completa Gabriela Lima, também integrante do EducAR.Com as escolas em férias no mês de agosto, o grupo começou a intensificar os contatos em busca de parcerias. A ideia é que os estudantes saiam da sala de aula para realizar atividades educativas na Casa Capitão. Segundo Danilo e Gabriela, todas as escolas do país serão bem-vindas. “Queremos garantir que essas escolas venham, circulem, saiam do seu ambiente escolar e se encontrem conosco. Nossa programação contempla muitos temas, com atividades direcionadas a todas as idades”, explica o brasileiro. “Pode vir uma turma do primeiro ciclo, pode vir uma turma do secundário, pode vir um grupo de associação acadêmica, de mestrado ou doutorado - temos opções para todos os públicos”, complementa.A parceria entre os brasileiros e a Casa Capitão não é nova. No ano passado, o grupo realizou um workshop sobre práticas decoloniais para políticas de espaços culturais. “Mais do que uma ação pontual, o que o Danilo iniciou conosco foi um compromisso de diálogo, escuta, intervenção e exercício crítico, que culminou na publicação do ensaio ‘Como deve ser não existe!’ na Revista MIL. Esse primeiro contato abriu um caminho de aprendizagem, diálogo e (auto)reflexão crítica”, explicam ao DN Brasil Gonçalo Riscado e Marta Gamito, responsáveis pela Casa Capitão.Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsApp!Agora, a parceria vai continuar de forma ainda mais permanente. “Em 2025, damos continuidade a esse compromisso na Convenção MIL. Mas é também o ano em que abrimos a Casa Capitão. E é precisamente a partir desse lugar de privilégio que recebemos a proposta do Danilo e da Gabriela para apoiar, acolher e abrir espaço à concretização do projeto Ocup_AR. É também nesse gesto de escuta e de compromisso que acreditamos poder contribuir para potencializar práticas de transformação real”, afirmam.Educação transformadoraAs atividades em conjunto com escolas portuguesas também não são inéditas. Clara Costa, docente do Agrupamento de Escolas de Alcácer do Sal, elogia o trabalho do grupo realizado na I Semana da Diversidade, ocorrida este ano. “As exposições que disponibilizaram foram um teaser para toda a comunidade; ninguém ficou indiferente. As atividades desenvolvidas com os alunos tiveram o papel de conscientizar sobre o impacto histórico e social do racismo, incentivar o reconhecimento e o combate ao racismo estrutural e promover a valorização da diversidade racial e cultural. Todos os participantes ficaram mais ricos com as sementes que lançaram, que certamente irão crescer. Bem-hajam”, ressalta a educadora portuguesa.As iniciativas do grupo também buscam incluir mais professoras e professores brasileiros que residem em Portugal. É o caso da imigrante Ingrit Raffaela, professora de Artes, uma das criadoras do Dicionário de Princípios: um guia infantil para ver e ouvir a cidade, que foi premiado. “Em um momento delicado, no pós-pandemia, com uma turma plural e cheia de vozes vindas de diferentes lugares do mundo, tive a oportunidade de escutar, através das minhas crianças, o que significava para elas os direitos humanos e o sentido por trás de cada palavra escolhida para este dicionário. Admiro a coragem e a persistência do Grupo EducAR em continuar nadando contra a maré, levando às escolas portuguesas projetos lúdicos que despertam consciência, promovem inclusão e constroem, com delicadeza e firmeza, um futuro onde haja respeito, equidade e afeto”, ressalta.Segundo Danilo e Gabriela, o novo projeto é uma espécie de união das melhores iniciativas que já realizaram desde a criação do EduCAR. “Fizemos uma avaliação que a gente viu que resulta, o que a gente viu que casa bem com Portugal, o que encaixa, o que é difícil dar errado. Portanto, selecionamos as melhores práticas dos últimos anos num programa só”, resumem.Na avaliação dos profissionais - ambos com ampla experiência acadêmica e carreira docente tanto no Brasil quanto em Portugal - é preciso “construir uma ponte com a educação em Portugal”. Na visão de Gabriela, ainda há “muita resistência em relação às questões históricas entre Brasil e Portugal, que precisam de um esclarecimento, principalmente entre os mais jovens”, pontua..A dupla também encara o projeto como um compromisso com a cidadania. “Pensamos num compromisso porque o que também nos leva a fazer isso é a existência de documentos nacionais e internacionais que são praticamente desconhecidos ou ignorados: direitos humanos, direitos das crianças, Plano Nacional de Educação, Plano Europeu de Combate ao Racismo, recomendações do Conselho Nacional de Educação de 2020... São muitos documentos que determinam que isso deve ser exercitado ao longo do ano, mas quem o faz não tem visibilidade”, analisa Gabriela.Os brasileiros também ressaltam que este é um momento necessário para um novo olhar antirracista e para a cidadania. “O racismo e a xenofobia são problemas urgentes e ignorados em Portugal. É exatamente esse contexto que nos faz querer ir contra a maré - e é o maior desafio do projeto”, ressalta Danilo. “É importante que as pessoas saibam que nós, imigrantes, estamos aqui para construir, para somar, não só para criticar”, complementa o educador..Apesar de não terem consolidado a carreira docente clássica (em escolas e universidades), os brasileiros destacam que o espaço da educação “também pode ser ocupado por imigrantes”. Como o DN Brasil já reportou diversas vezes, apesar da falta de docentes em várias áreas, professoras e professores enfrentam dificuldades para contratação em Portugal, sendo a burocracia no reconhecimento das habilitações um dos principais entraves.Eles estão com boas expectativas para a execução do projeto, apesar de terem consciência dos desafios. “Pensando nos professores, são profissionais muito sobrecarregados. Eu acho que pode ser uma forma desses professores de querem fazer algo diferente e encontrem em nós um apoio”, aposta Danilo.Todas as atividades são gratuitas e necessitam de agendamento, que pode ser feito através do e-mail projetocupar@gmail.com. O mesmo endereço ainda pode ser utilizado para sanar dúvidas e conhecer mais sobre o projeto OcuPAR. O objetivo é começar a receber os visitantes a partir do mês de outubro.amanda.lima@dn.pt.Este texto está publicado na edição impressa do Diário de Notícias desta segunda-feira, 08 de setembro..O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil..Português oferecia 500 euros "por cabeça de brasileiros legais ou ilegais". Foi despedido e denunciado ao MP.Mediadores culturais. Governo reforça medida para integrar alunos imigrantes