75,4% dos que responderam ao questionário afirmam já ter sido alvo de algum tipo de discurso de ódio em Portugal.
75,4% dos que responderam ao questionário afirmam já ter sido alvo de algum tipo de discurso de ódio em Portugal. Gerardo Santos

Pesquisa identifica aumento do discurso de ódio online e nos serviços públicos contra brasileiros

Iniciativa foi realizada pela Casa do Brasil, a partir de um questionário online disponibilizado publicamente. "Não é pesquisa de amostra, mas sim, um retrato da realidade", explica Ana Paula Costa, coordenadora científica do estudo.
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A internet e os serviços públicos continuam os dois locais em que os brasileiros mais se sentem discriminados em Portugal. Os dados estão na pesquisa “Discurso de ódio e imigração em Portugal”, desenvolvido pela Casa do Brasil e divulgados hoje (03). Das pessoas que responderam ao questionário, 32,4% identificaram a internet como o principal meio em que receberam discurso de ódio, enquanto nos serviços públicos esse índice foi de 20,9%. 

As conclusões ainda revelaram que 75,4% dos que responderam ao questionário afirmam já ter sido alvo de algum tipo de discurso de ódio em Portugal. A maior parte sente que o Instagram é a rede social onde se verifica mais esse ódio, seguido das caixas de comentários de sites, jornais e Facebook.

A pesquisa também teve perguntas para serem respondidas. Entre elas, estava a questão se a pessoa concorda que houve um aumento do discurso de ódio em Portugal, tanto online quanto offline? Mais de 83% responderam que concordam muito ou concordam com a informação.

Igualmente alta é a porcentagem (77,8%) dos que concordam ou concordam muito que esse discurso contra imigrantes tem ficado mais violento e que os discursos políticos anti-imigração se convertem em práticas discriminatórias (83,6%).

A xenofobia é o tipo de discurso de ódio predominante, com 66,4% das respostas e misoginia (15,3%) na sequência, enquanto o ódio racial está em terceiro lugar (11,5%). Responderam ao questionário 262 pessoas, o dobro da pesquisa anterior, de 2021. Segundo Ana Paula Costa, coordenadora científica do estudo e presidente da Casa do Brasil, o objetivo é ser "um retrato da realidade" e não uma pesquisa de amostra representativa.

O estudo também foi realizado sem apoio financeiro. "Tivemos muita dificuldade em fazer sem o financiamento, porque o edital, que era para ser aberto em janeiro de 2024, só foi aberto em setembro e ainda não tivemos resposta", explica Ana Paula. O financeiro é do programa de apoio ao associativismo. A pesquisa faz parte do projeto MigraMyths, cujo objetivo é desconstruir estereótipos e mitos relacionados com a imigração em Portugal.

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Serviços públicos e locais privados

Nas repartições públicas, os centros de saúde estão no topo das reclamações (15,2%). Em segundo lugar estão as universidades (12,8%) e hospitais (12,2%) em terceiro. Transportes, Finanças, escolas, juntas de freguesia, Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA), Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Polícia de Segurança Pública (PSP), Segurança Social foram citados como outros serviços públicos em que as pessoas foram alvo de discriminação.

Entre os espaços privados, os restaurantes e cafés são os locais com mais xenofobia (22,8%), seguido do comércio (16%), supermercados (15,6%) e imobiliárias (10,3%). Bancos, centros comerciais, universidades privadas, hotéis e escolas privadas também são citados.

Entre as conclusões do relatório, consta que "a percepção social de que o discurso de ódio contra pessoas migrantes em Portugal aumentou, tornando-se também mais violento" e que "esse tipo de discurso se tem manifestado de forma ainda mais intensa e crescente".

Relatos

Segundo Ana Paula Costa, desde o início dos relatórios existe o espaço para relatos, com objetivo de não ficar apenas na frieza dos números. "Percebemos que a realidade dos imigrantes é muito triste e muito dura", explica.

Confira alguns dos depoimentos no relatório:

“São diários os episódios, evito ao máximo abrir a boca fora de casa. As piores agressões que sofri ocorreram dentro da Universidade (mestrado) e em atendimentos médicos" - Brasileira, 40-44 anos, Ensino superior completo e residente nos Açores.

“Numa reunião de trabalho, uma colega se levantou e disse ‘esses brasileiros estão a morrer a fome no Brasil e vêm para cá, deveriam voltar para suas terras" - Brasileira, 35-39 anos, Ensino superior completo, negra e residente em Setúbal.

“Apenas disse que as placas de trânsito são diferentes e expliquei a diferença. Quem já havia morado nos 2 países percebeu. Os demais acharam que era uma crítica e me acusaram de querer impor as regras do meu país em Portugal, mandaram-me voltar para casa e outros xingaram-me de burra por não estudar" - Brasileira, 40-44 anos, Ensino superior completo, branca, residente em Lisboa.

“Na universidade ouvi que os brasileiros eram ‘burros’ e que não tínhamos base para estar aqui a estudar e falamos o português ‘errado’. No hospital e centro de saúde ouvi que as brasileiras, angolanas e moçambicanas roubam maridos e trazem doenças para Portugal, incluindo a AIDS" - Brasileira, 30-34 anos, Ensino superior completo, branca, residente em Lisboa.

amanda.lima@dn.pt

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