Crônica. Ser mulher em outro país
NUNO SERRO FERREIRA

Crônica. Ser mulher em outro país

"Em 2024, aumentou 4,8% a violência doméstica e de gênero contra mulheres brasileiras que vivem no exterior."
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Texto: Cristina Fontenele*

Na última terça (25), foi o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. Uma data que impulsiona discussões importantes, manifestações e traz à tona números perturbadores sobre diferentes tipos de violências. Além da frustração em lidar com um sistema que oprime o feminino de forma reiterada, há a percepção de que ser mulher é um constante estado de risco. E ser mulher imigrante, um fator de agravo.

A plataforma GENI, que é direcionada para mulheres brasileiras migrantes, nos lembra que marcadores como cor, etnia, classe social, orientação sexual, deficiência e condição migratória influenciam no tipo de violência sofrida e no alcance da proteção. Mulheres racializadas ou de comunidades migrantes, por exemplo, podem enfrentar barreiras acrescidas, como discriminação, menor acesso à justiça e medo da denúncia por questões de migração.

Dados divulgados pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), revelaram que, em 2024, aumentou 4,8% a violência doméstica e de gênero contra mulheres brasileiras que vivem no exterior. No contexto de Portugal, a Polícia de Segurança Pública (PSP) declarou ter registrado quase 15 mil queixas de violência doméstica contra as mulheres neste ano.

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Como ser mulher em um mundo que parece não suportar o feminino?

Como um mundo é viável sem a participação das mulheres?

Uma escritora portuguesa publicou essa semana, em sua rede social, sobre a importância de também destacarmos homens que amam e apoiam as mulheres, e que funcionam como exemplos para os mais jovens. Encaminhei o post dedicando a mensagem a um grande amigo, como uma forma de reconhecê-lo como esse homem que respeita, inclui e honra as mulheres. Faz muita diferença termos uma pessoa assim ao nosso lado.

Também li, por esses dias, uma matéria sobre um famoso ator brasileiro onde ele expunha que quase não tem mais amigos homens. O afastamento se deu pelo ator não se identificar com o comportamento machista e agressivo desses pares, algo que não condiz mais com a pessoa que ele se tornou. A convivência ficou incômoda e incoerente.

É uma espécie de depuração esse processo de excluir ambientes e pessoas com quem não nos alinhamos mais. De outra forma, podemos adoecer.

Como lidar com atitudes misóginas, preconceituosas e violentas?

Como ser mulher em outro país com uma rede de apoio limitada ou inexistente?

“Minha voz importa, meu corpo importa, e minha vida importa.”, dizia um cartaz carregado por uma mulher em uma das marchas por Lisboa contra a violência. Neste domingo (30), o núcleo de Lisboa do grupo Mulheres do Brasil também protesta pelo fim da violência de gênero na "8ª Caminhada pelo Fim da Violência contra Mulheres e Crianças".

Enquanto ainda apelamos aos direitos fundamentais - direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal -, escrevemos, gritamos, marchamos.

Enquanto empreendemos mudanças, denunciamos, apontamos, nos unimos.

Que nós, mulheres, enquanto vivemos e desafiamos, lembremos de também sermos casa umas para as outras.

*Cristina Fontenele é escritora brasileira, com especialização em Escrita e Criação. Autora de "Um Lugar para Si - reflexões sobre lugar, memória e pertencimento”, além de jornalista e publicitária. Escreve crônicas há quinze anos e, como típica cearense, ama uma rede e cuscuz com café bem quentinho.

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.
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