Texto: Priscila S. Nazareth FerreiraVocê, caro leitor, se viu representado no dia de hoje nas portas da Assembleia da República? Aquela que é dita como a casa do povo. E o que é ser povo. Perguntei-me algumas vezes. A que povo pertenço? Sou brasileira, portuguesa, carioca, bracarense, uma filha nascida aqui, outra lá, casada com um português de coração brasileiro. E eu uma luso-brasileira com metade do coração português!Sou povo? Sou imigrante? Posso ser os dois? Posso e sou. Assim como a identidade do imigrante colonizado é misturada com a do colonizador. Vai falar de colonizador? Vou sim. Não se passou sequer uma geração inteira para os PALOP, para o Brasil passaram quase três, mas ainda assim o passado tem memória. E a gente estuda este passado na escola para não esquecer. A história do Brasil foi contada muitos anos por Portugal. E agora o Brasil já conta sua história. Ela é diferente. O algoz sai da narrativa, e entra como personagem. E eu tenho no sangue a mistura desses dois quadros. Então sou imigrante, sou povo, sou colonizador e sou o colono, ou colonizado, como queiram. Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsApp!Mas nunca me esqueço de que, mesmo tendo em mim todos esses entes, o Direito e o respeito a todos os indivíduos deve prevalecer. Em Portugal, no Brasil, nas Índias, nos PALOP e no mundo.Lembrei do grito do Ipiranga! Dizem que Dom Pedro I ou IV, como queiram, bradou "Independência ou morte". Fofoca de bastidores à parte, a frase é de Pedro Américo, e foi dita 66 anos depois, num retoque histórico para dar mais glamour ao nosso amado primeiro Imperador. Mas aqui não se grita para fazer guerra, só se clama pelo direito de existir no país, que de toda riqueza que possui, nada tinha de seu. Tudo foi tomado de outras terras. E agora muitos de lá vêm para cá, num movimento contrário, buscando o que um dia os portugueses foram procurar: uma vida melhor! Desbravadores nobres portugueses do passado, mas pouco sábios em conservar toda riqueza e poder que um dia tiveram.Todo governo é cíclico. Basta observar a história, Assíria, Babilónia, Roma, Alemanha Década de 40, União Europeia...Nada é eterno! Somente a mudança. E precisamos nos manter dignos em qualquer momento da história. Porque como eu disse, o passado tem memória.Bom, naquela época era assim, penso resignada; mas hoje já não é. A mente precisa mudar. Não há mais escravos, não há mais súditos a ceder aos mandos e desmandos da realeza. Deveria haver República. Deveria haver Constituição. E todos os que hoje ocupam seus lugares no parlamento deveriam lembrar do juramento de posse que fizeram, de sempre respeitá-la. Já se fala até em fazer uma nova. Se a ideia pegar vai haver político desejando tirar do texto que imigrante tem direitos, com certeza que vai! migrante tem direito. Imigrante é povo. Imigrante merece respeito. Por fim reconheço, eu sou imigrante!E já não é preciso gritar. Hoje Portugal inteiro nos ouviu!*Priscila S. Nazareth Ferreira é advogada de Direito Internacional Privado a serviço da imigração..O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil..Opinião. Tribunal Constitucional e a Lei dos Estrangeiros. O que vem por aí?.Opinião. Uma lei tão importante como da imigração não se muda a delivery.Imigrantes manifestam-se em frente ao parlamento contra “clima de intimidação”