Opinião. Negócios em Portugal: o peso das emoções para empresários brasileiros

"Negócios não são feitos apenas de planejamento, produto e mercado. São feitos de pessoas, emoções e, sobretudo, da habilidade de transformar desafios emocionais em vantagens competitivas".
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Texto: Thiago Yokoyama Matsumoto*

Empreender, por si só, é uma atividade que envolve riscos, incertezas e decisões constantes. Agora, imagine enfrentar esse desafio em outro país. Para muitos empresários brasileiros, empreender em Portugal representa acesso a novos mercados, estabilidade e oportunidades. No entanto, essa jornada traz um fator pouco discutido: o impacto das emoções nos negócios.

Portugal é um destino natural para empresários brasileiros que buscam internacionalização. A similaridade da língua e os laços culturais reduzem algumas barreiras iniciais, mas não eliminam os desafios. Como destacam Massote et al. (2010), a internacionalização ocorre em degraus, exigindo adaptação progressiva. Mesmo em mercados culturalmente próximos, entender o ritmo dos negócios, as dinâmicas de relacionamento e as sutilezas da comunicação é tão essencial quanto qualquer plano estratégico. Nesse caminho, muitos percebem que os desafios vão além da operação, exigindo também ajuste emocional e cultural.

Daniel Goleman (1995), referência mundial em inteligência emocional, já demonstrava que resultados empresariais não dependem apenas de conhecimento técnico ou planejamento estratégico. A capacidade de reconhecer e gerir emoções — próprias e alheias — é o que frequentemente diferencia quem prospera de quem fracassa. Especialmente em ambientes desafiadores, onde não basta apenas entender de negócios: é preciso entender de gente.

Este artigo discute exatamente isso. Mais do que processos e estratégias, ele revela como empresários brasileiros em Portugal lidam com os desafios emocionais que fazem parte, de forma invisível porém poderosa,  da condução dos seus negócios.

O impacto das emoções ao empreender em Portugal: a experiência dos brasileiros

Sentimentos que não aparecem no plano de negócios, mas estão lá. Presentes na adaptação cultural, nas negociações, na burocracia e, sobretudo, na pressão silenciosa e constante de fazer dar certo.

Ao empreender em Portugal, empresários brasileiros lidam não apenas com desafios operacionais, mas também com fatores emocionais que impactam diretamente sua trajetória. Medo, ansiedade, insegurança e frustração surgem com frequência, especialmente nos primeiros anos, quando o desconhecimento do mercado e a necessidade de construir uma nova rede de relacionamentos intensificam esse cenário.

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Eduardo Migliorelli, CEO da Atlantic Hub, lembra que, no início, o peso emocional estava presente em quase todas as decisões. “Eu percebi uma ansiedade muito grande nessa questão de querer entender a forma ideal de conhecer o mercado. Fiz muitos cafés, muitas reuniões com players locais, buscando compreender como trabalhar, como abordar, como gerar negócios aqui. Isso foi essencial para minha entrada em Portugal, mas, ao mesmo tempo, trouxe frustrações, principalmente quando esbarrava nas diferenças culturais, na forma de se comunicar, de se vestir e até na pontualidade, que é levada muito mais a sério aqui do que no Brasil. Isso, muitas vezes, pode gerar decisões tomadas na urgência emocional e não na lógica do negócio.”

Migliorelli reforça que compreender o funcionamento da cultura local, construir relações de confiança e adaptar-se às dinâmicas do mercado português são desafios emocionais tão relevantes quanto qualquer questão operacional. É um processo que exige não só preparo técnico, mas também inteligência emocional constante.

Como as Emoções Impactam as Decisões de Empresários Brasileiros?

No empreendedorismo, decidir faz parte da rotina. Mas, no contexto internacional, as decisões raramente são puramente racionais. As emoções, muitas vezes, assumem um papel central, influenciando a avaliação de riscos e acelerando ou retardando processos.

O medo costuma gerar excesso de cautela, enquanto a ansiedade leva a decisões apressadas, focadas mais em aliviar desconfortos emocionais do que em critérios objetivos. Esse padrão é recorrente entre empresários brasileiros que constroem negócios em Portugal, enfrentando um ambiente novo, uma cultura de negócios diferente e a pressão por resultados rápidos.

Essa pressão emocional aparece, especialmente, na expectativa de replicar o ritmo de trabalho e de crescimento do Brasil. “Existe uma cobrança muito grande que nós mesmos colocamos. A gente vem com aquela mentalidade de performar, de fazer acontecer rapidamente, e isso gera uma ansiedade enorme. Já me peguei, mais de uma vez, tomando decisões apressadas só para aliviar aquela angústia momentânea de achar que as coisas não estavam andando no ritmo certo”, relata Adriano Sforcini, fundador da Bauc, uma agência luso-brasileira de marketing e publicidade.

O relato de Sforcini evidencia como decisões são, muitas vezes, respostas emocionais a desconfortos internos, e não fruto de análises objetivas. Reconhecer que emoções como ansiedade e insegurança afetam diretamente a estratégia é essencial para uma gestão mais consciente e sustentável.

Estratégias para Controlar as Emoções e Ter Sucesso nos Negócios em Portugal

Se as emoções impactam diretamente decisões e resultados, compreender como elas influenciam o comportamento empreendedor torna-se uma competência estratégica, especialmente no contexto internacional.

De acordo com Baron (2008), o afeto, ou seja, o estado emocional, exerce influência direta na forma como os empreendedores percebem e interpretam oportunidades, avaliam riscos e tomam decisões. Emoções positivas ampliam a visão, favorecem a criatividade, facilitam conexões e aumentam a disposição para enfrentar desafios. Por outro lado, emoções negativas, como ansiedade, insegurança ou frustração, tendem a restringir o pensamento, gerar aversão ao risco e conduzir a decisões precipitadas.

Essa percepção se reflete claramente nas experiências de empresários brasileiros em Portugal. Muitos, ao chegarem, sentem a necessidade de ajustar expectativas e compreender que o ritmo dos negócios é diferente do que estavam acostumados no Brasil. Tanto Eduardo Migliorelli quanto Adriano Sforcini destacam que aprenderam, na prática, que tentar replicar a velocidade e a dinâmica brasileira gera ansiedade, frustração e, muitas vezes, decisões tomadas no impulso.

Ambos reforçam que aceitar o tempo natural do mercado português, investir na construção de relações e desenvolver autoconhecimento foram fundamentais para lidar melhor com os desafios emocionais. Mais do que uma habilidade pessoal, gerenciar o impacto das emoções tornou-se um diferencial estratégico para conduzir os negócios de forma mais consciente e sustentável.

O sucesso também é uma construção emocional

Nenhuma estratégia se sustenta sem equilíbrio emocional. Ao empreender em Portugal, muitos empresários brasileiros descobrem que, além de compreender o mercado, adaptar-se à cultura local e estruturar modelos de negócio, é fundamental aprender a gerir as próprias emoções.

O impacto emocional não é periférico. Ele está no centro da construção dos negócios em Portugal, influenciando decisões, relações e a capacidade de enfrentar riscos e incertezas. Ansiedade, medo e insegurança não são apenas desafios pessoais, mas variáveis estratégicas, que moldam a forma como oportunidades são percebidas e como os resultados se constroem.

Mais do que atravessar fronteiras geográficas, empreender no exterior é atravessar fronteiras emocionais. E, na prática, o sucesso de quem escolhe Portugal como destino empresarial também se mede pela capacidade de desenvolver autoconhecimento, resiliência e inteligência emocional. Negócios não são feitos apenas de planejamento, produto e mercado. São feitos de pessoas, emoções e, sobretudo, da habilidade de transformar desafios emocionais em vantagens competitivas no longo prazo.

*Thiago Yokoyama Matsumoto é mestrando da Universidade Uninove no Brasil, CMO e Co-Founder da Atlantic Hub, em Portugal.

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.
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