Opinião. Em 2024 o Brasil escolheu Lisboa, e agora?
Gerardo Santos

Opinião. Em 2024 o Brasil escolheu Lisboa, e agora?

Agora, a questão é como vamos aproveitar essa oportunidade. Algumas sugestões de quem está em Lisboa há quase três anos, interagindo com líderes locais e empreendedores internacionais.
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Texto: Paulo Dalla Nora Macedo*

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil marcou o último dia útil de 2024 com a escolha de Lisboa para instalar o Escritório de Cooperação Internacional da pasta. Uma decisão simbólica que consagra a cidade como porta de entrada do Brasil na Europa e posto internacional avançado, com uma localização geográfica e fuso horário vantajosos, para conectar melhor a oitava economia global ao restante do mundo.

Poderia ter sido Paris. Nova Iorque ou Londres, mas foi Lisboa. O taxista do Marques de Pombal não desconfia, e pode até estar descontente com o aumento da imigração brasileira, mas isso é ótimo para a cidade e para Portugal. 

Essa importante decisão ocorre após a ApexBrasil, Embratur, Sebrae, Fiocruz e, mais recentemente, a Embraer terem aberto ou anunciado a abertura de escritórios na capital portuguesa. Para complementar a lógica de hub do Brasil, acredito que falta incluir o BNDES, a FINEP, um campus avançado de uma universidade brasileira de referência e um banco privado brasileiro de investimentos nesse ecossistema.

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É claro que tudo isso não deve ser visto apenas como uma estratégia voltada para Portugal, mas também para a Europa, com a África, dada a conectividade que Lisboa proporciona.

Esse movimento do Brasil ocorre dentro de uma nova realidade geopolítica, em que os Estados Unidos tendem a adotar uma postura mais protecionista, voltando-se mais para o interior. Nesse contexto, faz sentido para o Brasil concentrar mais atenção no mercado europeu.

Para a Europa, fortalecer os laços com outros blocos também parece ser uma boa estratégia. O acordo Mercosul-União Europeia, impulsionado por essa nova realidade, exemplifica bem essa tendência.

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Agora, a questão é como vamos aproveitar essa oportunidade. Algumas sugestões de quem está em Lisboa há quase três anos, interagindo com líderes locais e empreendedores internacionais:

  1. Focar em soluções escaláveis de inovação que possam ser aplicadas em toda a Europa, e não apenas no mercado português. O Brasil tem uma boa vantagem competitiva no setor de fintechs, e Lisboa é um polo de inovação relevante na Europa, com um crescente influxo de mão de obra qualificada para o setor.

  1. O setor de defesa passará por uma fase de grande demanda devido ao risco percebido de que Trump esvazie a OTAN. Portugal possui um bom ecossistema no setor aeroespacial, onde a Embraer tem grande centralidade.

  2. Deixe os vinhos, vinícolas e quintas no Douro para quem já é multimilionário. Esse é um negócio de nicho, complexo e de baixíssima escala. Pode fazer sentido para abrir portas para quem não nasceu no “circuito”, mas como negócio não é atraente.

Em fevereiro deste ano, acontecerá a cúpula Brasil – Portugal em Brasília, e novos acordos de cooperação devem ser anunciados. Entre as questões centrais está a equivalência de diplomas, essencial para permitir que mais profissionais brasileiros possam exercer suas profissões em Portugal, preferencialmente em empresas brasileiras que venham a se estabelecer no país em busca da Europa. Será bom caminho para o Brasil e para Portugal.

*Paulo Dalla Nora é economista.

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