Imigrantes são mais vulneráveis à violência obstétrica em Portugal? Pesquisa quer ouvir relatos de brasileiras
Mulheres brasileiras que deram à luz em Portugal entre 2015 e 2025 podem participar da pesquisa VO Transatlântica, projeto desenvolvido pela investigadora catarinense Cleidi Pereira que busca analisar experiências de violência obstétrica (vo) contra imigrantes.
"Em países como Portugal há um contributo das estrangeiras para a natalidade e poucos estudos sobre a experiência delas, não só de violência obstétrica, mas da experiência de gestar, de parir. Um relatório da Direção-Geral de Saúde mostrou que mulheres estrangeiras têm uma chance maior de morrer durante a gravidez, parto ou puerpério do que mulheres portuguesas, isso só mostra a importância de olhar para esses grupos mais vulneráveis", diz Cleidi Pereira ao DN Brasil.
A pesquisadora é membro do Cies – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, e o projeto conta com financiamento da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia. Vivendo em Portugal atualmente, Cleidi conta que a motivação para a pesquisa nasceu de suas vivências.
"Esse projeto foi gestado durante a minha terceira gravidez e parido no puerpério. É parte da minha percepção como mãe, como mulher e como imigrante. Como duas das minhas filhas já nasceram aqui, eu via os relatos nos grupos de Whatsapp, brasileiras compartilhando as experiências de parto e muitos relatos de violência obstétrica com esse traço da xenofobia", explica.
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Inicialmente, Cleidi desenvolveu um estudo exploratório que constatou essa realidade. "38,5% das entrevistadas relatavam algum tipo de violência obstétrica, que era um percentual maior do que a média portuguesa considerando outras pesquisas. E tinha um percentual significativo, de 26,9%, de casos xenofobia e racismo", afirma.
Para desenvolver o estudo atual, Cleidi está ouvindo relatos de brasileiras em Portugal e de venezuelanas no Brasil, as maiores comunidades imigrantes em cada um dos países respectivamente.
A participação consiste numa conversa em formato de entrevista, com duração estimada em cerca de uma hora, que pode ser feita por videochamada ou presencialmente. Cleidi ressalta que ainda que o foco da pesquisa seja violência obstétrica, tem interesse em ouvir todos os tipos de experiência de gestação e parto de brasileiras em Portugal, sejam elas neutras, negativas ou positivas.
A pesquisadora reforça que a a violência obstétrica é um fenômeno global, além de ser considerada um problema de saúde pública devido ao impacto que causa na vida das mulheres e de seus bebês. "Essas pesquisas são importantes para eventuais melhorias nas políticas públicas de cada país", diz.
Para participar, basta entrar em contato com Cleidi Pereira pelo email cleidicris@gmail.com