Fonoaudiólogas brasileiras criam associação em Portugal para lutar por inserção profissional
As dificuldades enfrentadas por profissionais com formação em fonoaudiologia no Brasil para trabalhar em Portugal foram o impulso para a criação da Associação dos Fonoaudiólogos Brasileiros em Portugal (AFBP). A entidade acaba de ser formalmente constituída e está pronta para começar a atuar em prol da categoria.
"A gente viu que precisava ter uma força, uma representação de classe mesmo, para conseguir lutar pelos nossos direitos, pelo nosso reconhecimento, pelo nosso saber, pela nossa formação de fonoaudiólogos", diz ao DN Brasil Tanise Anhaia, a presidente da AFPB, que conta com uma direção formada por 11 membros.
A queixa dos fonoaudiólogos é antiga, conforme o DN Brasil tem acompanhado. Em Portugal, esta profissão não existe. As competências, unificadas no Brasil, são divididas entre duas atividades: a de terapeuta da fala e a de audiologista, e só podem atuar os profissionais autorizados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). De acordo com a presidente da AFBP, os entraves que a ACSS colocaria no processo de reconhecimento de habilitações de profissionais brasileiros é injustificado.
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"Conquistamos os nossos diplomas lá no Brasil através de muito estudo, de muita dedicação, de muita prática clínica também, porque a gente tem profissionais que já têm doutoramento, que já têm mais de 30 anos de formação. No entanto, são pessoas que, assim como eu, que tenho 15 anos de graduação, tenho mestrado, a gente chegou aqui em Portugal e a gente vem enfrentando esse longo e burocrático caminho pra gente conseguir trabalhar", afirma Tanise Anhaia.
A AFBP nasce da troca de informações e experiências de um grupo de cerca de 50 profissionais brasileiros em Portugal, a maioria com processos indeferidos pela ACSS, que já tinha organizado um dossiê relatando as dificuldades enfrentadas junto à autoridade portuguesa, documento ao qual o DN Brasil teve acesso e que foi enviado ao Conselho Federal de Fonoaudiologia. No compilado de indeferimentos de processos de habilitação, os currículos não equivalentes são apontados, mas em todos a entidade portuguesa destaca a “falta de domínio do português europeu” como uma das falhas dos candidatos.
Anteriormente, a ACSS esclareceu ao DN Brasil que solicita “a todos os requerentes que obtiveram as suas qualificações fora de Portugal, a realização de uma prova de verificação do domínio do português europeu, falado e escrito, (independentemente da naturalidade ou nacionalidade) e de conhecimentos, competências e aptidões no contexto dos diferentes campos de atuação do Terapeuta da Fala (paradigmas e métodos diferentes de país para país)”.
De acordo com a presidente, a associação vai "acolher fonoaudiólogos, recém-formados e estudantes que cheguem a Portugal". Para ser associado, o critério é ter formação em fonaudiologia, ou estar cursando, em uma instituição de ensino superior no Brasil, independente da nacionalidade. "Temos no grupo uma cabo-verdiana, falante da língua portuguesa, formada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que não conseguiu a cédula profissional dela em Portugal", conta Tanise Anhaia.
Em breve, a AFBP vai começar a contactar entidades relacionadas à profissão nos dois países para abrir um diálogo. "O que a gente quer aqui em Portugal é contribuir para a área da saúde, da comunicação, somando à terapia da fala, à audiologia, com essa experiência que a gente tem e essa formação sólida, porque a fonoaudiologia brasileira é conhecida mundialmente como referência", diz a profissional.
caroline.ribeiro@dn.pt