Estudo brasileiro aponta: burocracia na saúde em Portugal dificulta acesso a remédios que previnem o HIV
Conseguir tomar a PrEP, a "profilaxia pré-exposição" ao vírus HIV, em Portugal pode levar de seis meses a um ano. É o que aponta um estudo brasileiro, ainda inédito, que entrevistou imigrantes do Brasil, todos homens que fazem sexo com homens (HSH), para identificar pontos relacionados ao acesso e à disponibilidade do serviço no país.
"Foi esmagadora a quantidade de pessoas que relatou a demora excessiva na PrEP em Portugal. Muitos relataram que precisaram esperar de seis meses a um ano, ou que têm conhecidos que preferem viajar, que moram em Lisboa, mas vão até o Porto, porque lá é um pouquinho mais rápido. Relato de quem prefere ir para a Inglaterra pegar os medicamentos porque lá é mais fácil", diz ao DN Brasil Guilherme Galdino, mestrando em Saúde Pública na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que conduziu o estudo.
Segundo Guilherme, as entrevistas identificaram situações em que, na transição do Brasil para Portugal, houve pessoas que ficaram por um período sem o medicamento. "Outras precisaram fazer o que a gente chama de uso sob demanda, quando você toma uma quantidade de comprimidos antes da relação sexual e uma quantidade depois, para não ficar sem medicamento, mas ainda assim precisaram ficar até serem chamados para o hospital de referência", explica.
A pesquisa também olha para a importância das equipes de saúde no acesso à PrEP. "Muitos participantes relatavam que o contato com a equipe profissional, tanto no SUS, quanto no SNS, tinha um impacto muito forte, tanto impacto positivo, quanto negativo na experiência".
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A PrEP consiste na toma de medicamentos, por pessoas que possam ter contatos considerados de risco, para prevenir uma infecção pelo vírus HIV. É um método com eficácia cientificamente comprovada, adotado como política de saúde pública em vários países, como Brasil e Portugal. Por ser uma pesquisa qualitativa, o estudo de Guilherme não tem o objetivo de fazer generalizações, mas os resultados corroboram pesquisas anteriores que "apontam um acesso mais demorado em Portugal e que pode se tornar um problema do ponto vista de saúde pública", afirma.
O estudo de Guilherme faz parte de uma investigação mais ampla, que analisa o acesso de homens que fazem sexo com homens aos bancos de sangue depois das mudanças nas políticas de Brasil e Portugal por causa da pandemia de covid-19, e foi realizado por meio de uma parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa. Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Guilherme teve a chance de realizar três meses de estágio em Lisboa e agora prepara os resultados para publicação internacional.
caroline.ribeiro@dn.pt