Um evento online realizado nesta quinta-feira (27) marcou o lançamento do Espaço da Mulher Brasileira em Lisboa (EMuB Lisboa), localizado no consulado brasileiro da capital portuguesa. "É um momento histórico para o consulado", disse na abertura o cônsul-geral Alessandro Candeas. A abertura deste espaço, que já existe em outros consulados pelo mundo, foi uma meta traçada pelo diplomata logo que chegou ao posto, no outono passado.O EMuB Lisboa é um espaço de encontro, debate e atendimento dirigido às mulheres brasileiras em Lisboa e demais cidades da jurisdição. Em breve, será divulgada a agenda de atividades do local, que vai funcionar tanto de forma presencial quanto virtual.Um dos focos será o atendimento aos casos de mulheres vítimas de violência de gênero, com assistência jurídica e psicológica - serviços que já são prestados pelo consulado - mas que, agora, terá uma área especial e um atendimento ainda mais especializado.Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsApp!No evento de lançamento, profissionais de outros postos consulados com o serviço pelo mundo compartilharam as experiências. Em Londres, por exemplo, foi citado que o momento é "hostil" para as pessoas imigrantes, o que reforça a necessidade da assistência. A equipe do consulado conseguiu parcerias com escritórios de advocacia para ampliar a assistência jurídica, uma vez que, em muitos casos, há uma situação de desigualdade financeira entre a vítima e o abusador. No caso de Roma, foi destacado o atendimento às mulheres trans. O empreendimento é também estimulado em todos os locais, como forma de promover a autonomia financeira das mulheres, essencial para quebrar o ciclo de violência. A juíza brasileira Renata Gil, idealizadora da campanha "Sinal Vermelho", contra a violência doméstica, saudou o lançamento e afirmou que a abertura é importante em Portugal pelo alto número de brasileiras que vivem no país.Para Ellen dos Santos Costa, coordenadora-geral da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180 (que atende também brasileiras no exterior), o lançamento em Lisboa é "não somente uma conquista, mas também um ato de justiça". A especialista destacou que, pelos atendimentos realizados com as imigrantes, as dificuldades enfrentadas pelas vítimas são inúmeras, como o contexto cultural e jurídico diferente, a burocracia e o isolamento social. Segundo Ellen, em 2024 mais de 1.800 brasileiras no exterior utilizaram o Ligue 180.Márcia Loureiro, chefe da Secretaria de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, destacou que o momento também representa "a importância da presença de mulheres em espaços de liderança". Ela ainda ressaltou as virtudes da comunidade brasileira no exterior, que "trazem novos olhares, novas perspectivas, dinamiza a economia, a previdência e demografia". Márcia pontuou que o contraponto é necessário diante de "manifestações negativas contra a imigração em diferentes partes do mundo".Segundo Candeas, temas como racismo, discriminação e xenofobia também terão espaço de discussão no EMuB Lisboa. O consulado já contatou entidades para parcerias, como a Casa do Brasil de Lisboa, a Comissão para Igualdade de Género (CIG), as Mulheres do Brasil de Lisboa e outras entidades. O objetivo é realizar um trabalho próximo com as sociedade civil.Ainda no evento de lançamento, representantes de várias entidades falaram sobre a importância do espaço em painel moderado pelo DN Brasil. Ana Paula Costa, presidente da Casa do Brasil em Lisboa, avaliou como uma ação "positiva e necessária para a mulher imigrante em Portugal". Luana Ferreira, líder do Comitê de direitos da Mulher do Grupo Mulheres do Brasil Lisboa, parabenizou pela iniciativa que une "diplomacia, feminismo e direitos humanos".Para Joana Sales, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) o momento é "um marco histórico" que chega em um momento de altos índices de violência doméstica em Portugal. A profissional acrescentou que o país também vive outras crises como a da habitação - com repercussão direta nos casos de violência contra mulheres. Evonês Santos, coordenadora do Comitê Popular de Mulheres em Portugal, Evones Santos disse que o espaço "era muito esperado e desejado, de confiança, acolhimento e aconchego" para as imigrantes brasileiras.Ao fim da sessão, foram dadas sugestões de temas e ações para serem realizadas no EMuB Lisboa, como ações de conscientização e prevenção, recolhimento de dados e levantamento de entidades parceiras. Com o espaço em Lisboa, o Itamaraty estima que será possível ampliar o atendimento especializado de 850 mil mulheres para mais de 1 milhão. A criação do EMuB Lisboa foi prevista e saudada já na declaração final da XIV Cimeira Brasil-Portugal, realizada em Brasília no mês passado.amanda.lima@dn.pt.O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil..Foi vítima de violência de gênero em Portugal? Saiba onde ter ajuda.Lei portuguesa prevê retirada de crianças do núcleo familiar sem aviso prévio