As conquistas do brasileiro Carlos Humberto são, desde muito cedo, celebradas por ele. Crescendo em um terreno de umbanda no Rio de Janeiro até os 14 anos, foi aproveitando todas as oportunidades que via pelo caminho: bolsas de estudo, intercâmbio em Harvard, mestrado, viagens e chances de aprender, sempre levando em conta a ancestralidade, a memória e a religião, que cresceram com ele e acompanham sua vida até hoje.Em 2016, Carlos criou a Diáspora Black, uma plataforma dedicada ao afroturismo, que hoje é a principal do ramo no mercado brasileiro. Nestes quase dez anos de atividades, a startup fechou parcerias importantes, como com a Meta (dona do Facebook e do Instagram) e com o Google. “Para nós, as oportunidades são raras e caras, então a gente aproveitava tudo”, explica ao DN Brasil.E o próximo passo é a expansão para Portugal, que já começou. O brasileiro é finalista do BoostX - ScaleUp Tourism, programa internacional de inovação lançado pelo Centro de Inovação do Turismo (NEST, na sigla em inglês), em parceria com o Turismo de Portugal e a NOVA Medical School. Por ser finalista, já tem como uma das recompensas um escritório em Lisboa por seis meses. “O prêmio é um reconhecimento do nosso trabalho, uma valorização da conexão de culturas e uma oportunidade de expandir o afroturismo”, conta.Segundo o empresário, a startup conecta viajantes a experiências “autênticas da cultura negra” em diversos territórios do Brasil, além de oferecer treinamentos especializados para empresas e profissionais do setor turístico, promovendo práticas antirracistas e acolhedoras. Ele cita como exemplo um trabalho realizado em Salvador, na Bahia, que se tornou um marco para a empresa. “Salvador era a primeira capital brasileira que tinha um movimento do turismo que se espelhava na população negra. Porém, não era bem assim. Era quase como se os negros precisassem se vestir de negros, mas não eram eles que ganhavam dinheiro nessa cadeia. Então, nós fizemos um trabalho para implementar o afroturismo dentro da cidade de Salvador”, exemplifica. O trabalho também é valorizado pela Embratur, a agência de promoção do turismo brasileiro, que se interessa por esse mercado.Em Portugal, conta que há pelo menos um ano já estava de olho no mercado, após a repercussão de sua participação no WebSummit do ano passado. Caio foi destaque em um pitch que realizou no estande da Apex Brasil. “Repercutiu bastante, fiz ali muitos contatos e pontes”, destaca.Essas conexões se refletem na premiação e nos planos de expansão em Portugal, e ele garante que há espaço para o afroturismo. “Tem muitos lugares aqui, muitas ruas têm memórias da população negra que também estão relacionadas a memórias brasileiras, mas que não aparecem nos roteiros”, ressalta. Carlos já identificou várias histórias. “Por exemplo, a história do pai Tomé, que tem um busto no centro de Portugal. Ele era pai de santo no Brasil, foi escravizado, veio para cá e depois voltou, sendo muito reconhecido em Salvador como uma grande liderança religiosa. Mais tarde retornou a Portugal e se transformou em um dos principais médicos do país. Quase ninguém sabe disso”, pontua. Ao mesmo tempo, o brasileiro quer abrir oportunidades de trabalho para pessoas negras em Portugal. “Essas histórias também podem gerar fomento econômico, sobretudo para negros e negras que estão contando essas narrativas, que podem se profissionalizar mais e apresentar essa história para o mundo”, complementa. Atualmente, a Diáspora Black possui cerca de 30 profissionais, a maior parte deles negros e negras.O empreendedor ressalta que sabe do tamanho do desafio de seu negócio, diante do contexto histórico de Brasil e Portugal, como o período da escravidão. “Eu vejo que o momento é esse. Trabalhar com questão racial é sempre desafiador, mas nós trabalhamos com números, com resultados. Mercados como Espanha e França já estão atuando dessa forma e Portugal não pode ficar para trás”, reflete. “É um mercado que está crescendo e que pode qualificar ainda mais o turismo de experiência aqui em Portugal. Quem não diversifica e não otimiza com tecnologia acaba ficando para trás”, analisa o brasileiro. Em novembro, a startup vai promover o primeiro evento em Lisboa, em parceria com o escritório local da Embratur.amanda.lima@dn.pt.Este texto está na edição impressa do Diário de Notícias desta segunda-feira, 29 de setembro de 2025..O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil..Brasileira reforça time do Porto Digital em Aveiro e quer trazer discussões sobre diversidade.Flávia Motta: a carioca que virou referência para brasileiros no mercado imobiliário português