O produtor Fernando Muniz.
O produtor Fernando Muniz. Divulgação.

Brasileiro à frente de coprodução luso-brasileira, Fernando Muniz roda primeiro longa em Portugal

Produtor carioca com 13 anos de carreira, Muniz aposta nas coproduções internacionais e vê em Portugal um novo capítulo para o audiovisual, longe da violência e das paralisações do setor no Brasil.
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Radicado em Portugal há cerca de cinco anos, o produtor brasileiro Fernando Muniz, finalizou na última semana a rodagem de Última Noite, seu primeiro longa-metragem filmado na terrinha. Com direção do português Tiago Santos, o projeto marca uma nova fase na carreira do carioca, que tem mais de uma década de experiência e foca em coproduções internacionais.

Sua a FM Produções, criada em 2012, surgiu no Rio de Janeiro com o objetivo claro de estabelecer conexões globais no setor audiovisual. "O foco da minha produtora sempre foi coproduções internacionais", afirma, em entrevista ao DN Brasil. Ao longo dos anos, frequentou os principais eventos de mercado do cinema mundial, como o Berlinale, o Marché du Film de Cannes, o EIFM de Los Angeles e o Ventana Sur, em Buenos Aires.

A mudança para Portugal, em 2020, veio menos por estratégia e mais por necessidade. “Eu vim para Portugal por uma escolha de luz, de vida”, diz. Muniz relata ter deixado o Brasil durante o governo Bolsonaro, período em que o setor audiovisual foi duramente afetado. “Houve uma paralisação muito grande. Foram cinco anos sem editais de produção, de coprodução. Até projetos aprovados antes do Bolsonaro ficaram parados quatro, cinco anos até os recursos serem liberados", lamenta.

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A decisão de vir para Portugal teve a ver com outros aspectos, como a violência no Rio e outro emocional: noutros tempos, Muniz já havia vivido por duas décadas na Europa, mais precisamente na Itália, onde atuou como cantor de ópera em Milão, antes de voltar ao Brasil em 2009. “Depois comecei a produzir óperas e, como era ator nos anos 80, para mim foi natural voltar a trabalhar com minhas relações”, relembra.

Desde que se mudou para a terrinha, Muniz tem tentado construir uma ponta entre o audiovisual brasileiro e o português, cada vez mais entrelaçado nos últimos tempos. “Estou tentando ser um ponto de comunicação entre os produtores portugueses e os produtores brasileiros”, diz. Ele ressalta que o novo cenário político no Brasil também tem contribuído para reaproximações. “Desde que o novo governo entrou, os editais de coproduções internacionais foram privilegiados pelas novas políticas públicas.”

Atualmente morando em Setúbal, cidade escolhida pela calmaria, Muniz, Apesar do histórico e da bagagem profissional, optou por não abrir uma produtora em território português. Para ele, a colaboração é mais importante do que criar algo do zero por aqui.

“Acho que sou hóspede em Portugal. O audiovisual português já encontra várias dificuldades de se projetar, e achei que não era interessante ser um competidor dos portugueses”, diz Muniz, que afirma atualmente ter cerca de dois a três projetos em andamento com produtoras lusas.

Última Noite é o primeiro filme que produz desde que chegou a Portugal. Mais do que um retorno ao set, o longa é uma oportunidade de seguir trabalhando em rede com outros países, sem precisar voltar para o cenário instável que deixou para trás, embora o futuro possa reservar bons ventos para o cinema brasileiro.

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"Nesse momento me sinto muito satisfeito: finalmente estou começando a conseguir trabalhar com os produtores portugueses e aprovar projetos no Brasil para serem realizados em Portugal", diz Muniz, relembrando o importante momento que vive o audiovisual brasileiro neste ano. "A gente está vivendo um momento muito especial, inclusive com o retorno do público aos cinemas. Nos últimos seis meses, a realidade no Brasil para filmes brasileiros mudou da água para o vinho. Espero que o nosso filme esteja pronto por volta de novembro ou dezembro deste ano para ano que vem já estrearmos em grandes festivais", finaliza o produtor.

Sobre o filme

Última Noite é um thriller psicológico filmado em Lisboa, com direção e roteiro de Tiago R. Santos. A trama acompanha Andrew (Sebastiano Pigazzi), um escritor americano que se prepara para deixar Portugal após dois anos no país. Na noite anterior à sua partida, ele recebe a visita de Sara (Teresa Tavares), ex-namorada com quem viveu, e o reencontro rapidamente se transforma num confronto tenso e perturbador. Acusações de violência sexual abalam o protagonista, levando o espectador a questionar o que realmente aconteceu.

O filme trata de temas como memória, trauma e consentimento, com Lisboa servindo não apenas como cenário, mas como reflexo emocional dos personagens. Além de Fernando e outros membros da produção, o elenco conta ainda com o ator brasileiro radicado em Lisboa, Thiago Justino. A produção é da Fado Filmes (Portugal) em coprodução com a FM Produções (Brasil) e distribuição da Filmes do Estação.

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.
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