Paulo Tó chegou a conhecer pessoalmente alguns dos autores que interpreta em Cantos da Revolução.
Paulo Tó chegou a conhecer pessoalmente alguns dos autores que interpreta em Cantos da Revolução. Jose de Holanda

Artistas brasileiros fazem releituras de músicas portuguesas de intervenção através do frevo

Projeto "Cantos de Revolução" conta com autoria de Paulo Tó e Sibas e tem sua segunda canção, "Ajuste de Contas", de Fausto Bordalo Dias, lançada nesta semana.
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É na próxima sexta-feira (14), que chega às principais plataformas de streaming mais um lançamento do novo projeto musical que une Brasil e Portugal. Com autoria do paulistano Paulo Tó e do pernambucano Sibas, o álbum Cantos de Revolução, que presta homenagens às canções de protesto que marcaram o período de luta contra a ditadura em Portugal, entre 1926 e 1974, terá sua segunda música lançada nesta semana. Trata-se de uma versão da faixa Ajuste de Contas, de Fausto Bordalo Dias, que ganha uma releitura através do frevo das mãos dos artistas brasileiros. 

"Essa música do Fausto tem uma rítmica muito interessante que vem da maneira como a letra é articulada. Isso acabou por conduzir o nosso arranjo para um frevo. Foi aí que surgiu a ideia de convidar o Siba para cantar comigo – um dos grandes compositores brasileiros da atualidade", conta Paulo Tó, que conheceu o trabalho de Fausto Bordalo Dias (1948 - 2024), um dos maiores nomes da música popular portuguesa, nos tempos em que viveu em Portugal.

Antes dessa versão da música de Fausto, a primeira faixa que ganhou ritmo pernambucano e sotaque paulistano em Cantos da Revolução havia sido outro clássico da música portuguesa de intervenção, como são chamadas as composições reivindicativas da época da ditadura: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, inspirada em poema de Luís Vaz de Camões e escrita por José Mário Branco.

Segundo Paulo Tó, o repertório que integra o disco surgiu a partir de indicações de amigos portugueses que conheceu no país, quando inclusive chegou a se encontrar pessoalmente com dois dos autores que interpreta agora. “Na época tive o privilégio de conhecer pessoalmente dois grandes compositores portugueses desta safra: José Mário Branco e Fausto Bordalo Dias, com quem me encontrei algumas vezes e estabeleci mais contato", relembra. 

Em Ajustes de Contas, Paulo Tó e Siba levam os ouvintes aos tempos nos quais Fausto, com sua música, se colocava ao lado de operários e camponeses na busca por melhores condições num dos períodos mais sombrios da história portuguesa. “Além disso, é uma canção escrita dentro do processo revolucionário, que poderia até ser taxada como ‘panfletária'. E, de fato, ela tem um tom didático, mas que se justifica dentro do processo de luta social. A música é construída por Fausto de maneira brilhante, com inovação formal e muita qualidade poética e musical”, continua.

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A capa do álbum de Paulo Tó e Siba é desenvolvida por Roberto Zink e foi criada à mão a partir de imagens históricas, com caneta esferográfica em papel. A técnica e o resultado remetem à anotações em caderno e rascunhos e à simplicidade da rotina. O álbum, que ainda está sendo editado, também terá participações de Thiago França, Jéssica Areias, Cauê Silva, Eugénia Melo e Castro, Arthur de Faria, além de Siba.

A capa feita por Ricardo Zink
A capa feita por Ricardo Zink

Vale pontuar que Paulo Tó é um músico, compositor e produtor musical brasileiro, que nasceu em São Paulo (SP). Ao longo de sua carreira, já editou diversos discos autorais, como Temporal (2014); De Cara no Asfalto (2016); Domingo (2020); Galope (2021), produzido ao lado de Guilherme Kastrup; e Terno Azul (2024), em parceria com Salloma Salomão.

Desde 2011, Tó tem circulado em espaços importantes da música paulista, além de sua participação com shows também nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Em 2019, ele fez uma apresentação de edição do álbum De Cara no Asfalto em Portugal. Como produtor musical, assina trabalhos com artistas da cena contemporânea de MPB, como o cantor Fábio Nogara. É também mestre em Filosofia com ênfase em análise da canção pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

Já Fausto Bordalo Dias é considerado por muitos especialistas o compositor de um dos principais álbuns da história da música lusitana, com o disco Por Este Rio Acima (1982). Ao longo de sua carreira ele gravou ainda outros 11 discos que o consolidaram como um dos grandes compositores da língua portuguesa. Faleceu no ano passado, em Lisboa, aos 75 anos, vítima de um câncer. Vale lembrar que Fausto foi um dos nomes indicados na lista do DN Brasil de músicos portugueses recomendados por brasileiros que vivem em Portugal.

nuno.tibirica@dn.pt

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.

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