Exposição fica aberta até fevereiro de 2026.
Exposição fica aberta até fevereiro de 2026.Foto: Leonardo Negrão

“Sem medo”, exposição 'Complexo Brasil' quer ser diálogo entre brasileiros e portugueses

Há quase três anos, quando a imigração ainda não era um assunto tão fraturante como hoje, a Fundação Calouste Gulbenkian teve a ideia de realizar a mostra, para que ambos os povos se conheçam de verdade. O resultado deste trabalho veio em um momento singular.
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Em momento em que a imigração é um tema polarizante em Portugal e que brasileiras e brasileiros não estão imunes, uma exposição chega à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Complexo Brasil foi pensada em 2022, quando foi celebrado o bicententário da Independência do Brasil e quando os tempos em Portugal e no Brasil eram outros, mas a fundação sentia que havia um “estranhamento” entre as nações. Por isso, a entidade, fundada por um imigrante de origem armênia, decidiu que algo podia ser feito. “Constatamos que toda essa celebração assentava num desconhecimento mútuo entre os dois países”, diz ao DN Brasil Miguel Magalhães, diretor do programa“Gulbenkian Cultura.

Três anos depois e num cenário ainda mais complexo, a exposição nasce “sem medo” de tocar em temas que podem ser considerados polêmicos. “Era muito importante para nós, que a mostra tivesse aqueles aspectos que são mais difíceis de serem discutidos, tais como o papel de Portugal no mercado da escravatura e colonização em geral”, destaca o diretor.

Outro ponto está que já viviam povos no Brasil quando os portugueses lá chegaram. “Queremos falar também do Brasil que precede a chegada de Portugal ao Brasil”, ensinada até hoje como o “descobrimento” do território. Miguel Magalhães acredita no poder da arte como forma de diálogo. “É fundamental e isto servirá de ponte para este diálogo que tem de acontecer neste momento”, reflete. O português diz que “não sente na pele” a dificuldade que os imigrantes vivem em Portugal, mas que está “consciente de algumas dessas dificuldades”. E reforça que a Complexo Brasil pode ajudar. “Eu julgo que esta exposição e que a arte pode contribuir para sarar algumas feridas, para estabelecer conversas, diálogos, perfeitamente conscientes”, ressalta.

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E se não houve medo em ir ao Brasil fazer este convite a brasileiros, já que “não fazia sentido que portugueses explicassem o Brasil”, também não há medo de “cancelamentos” por conta dos temas que a exposição toca. “Nós somos uma instituição filantrópica, a questão da educação, da inovação social, do desenvolvimento humano são temas do nosso dia-a-dia. E, portanto, não temos nenhum medo em falar, em abordar qualquer um desses temas”, assinala.

Miguel ainda reconhece que a ideia era “ambiciosa e grandiosa”, e que foi dada total liberdade aos curadores José Miguel Wisnik, Milena Britto e Guilherme Wisnik e também para a cenografista Daniela Thomas. Com essa liberdade dada, a equipe trouxe peças de arte, desenhos e objetos para explicar o Brasil. É o caso das redes, usadas para dormir ou descansar, ou dos mantos, como o Manto Tupinambá. Alguns destes artefatos foram buscados em museus pela Europa.

A exposição vai além de uma mostra tradicional e contém a exibição de seis filmes criados especialmente para estarem integrados no Complexo Brasil, com a indicação de alguns poderem ter imagens fortes e não aconselhadas para crianças - é também o caso da obra de arte com várias cabeças negras, cuja mensagem está explícita.

Mas o Brasil é também alegria e a exposição também contém este aspecto que faz parte do país, assim como símbolos que talvez só quem é do Brasil perceba: uma escultura feita com baldes de plástico azuis, verdes e amarelos, daqueles mais baratos do mercado, que automaticamente nos transportam de Lisboa para qualquer cidade brasileira.

Confira imagens da exposição, pelas lentes do fotojornalista do DN Leonardo Negrão

amanda.lima@dn.pt

Este texto está publicado na edição impressa do Diário de Notícias desta segunda-feira, 17 de novembro.
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