Roteirista Vinicius Dias fala sobre as diferenças na produção de novelas entre Brasil e Portugal
Vivendo entre o Rio de Janeiro e a Costa da Caparica, em Portugal, o roteirista Vinicius Dias construiu uma carreira marcada por produções em ambos os lados do Atlântico. Com mais de 20 anos de experiência no audiovisual - incluindo passagens pela Globo, Globoplay e TVI portuguesa - ele agora coordena uma pós-graduação em Escrita de Telenovela na UNIFACHA/RJ, enquanto desenvolve projetos no eixo Brasil-Portugal.
"Escrever uma novela tem muito menos a ver com o domínio do idioma e muito mais com o domínio de uma cultura. Como um português se comporta em determinada situação? Que códigos fazem sentido lá e não aqui? Essa leitura da sociedade acaba por ser um dos maiores desafios", comenta Dias em entrevista ao DN Brasil diretamente do Rio de Janeiro, onde prepara o início de seu novo curso, marcado para este sábado (26).
Ele nota que, embora Portugal tenha consumido novelas brasileiras por décadas, hoje há um movimento crescente de valorização da produção nacional: "Os portugueses estão se consolidando como audiência do produto local. Novelas como Na Corda Bamba e outras mais recentes mostram que, o que antes era muito pautado por novelas brasileiras, agora começa a ser um mercado também com espaço para produções nacionais", pontua o brasileiro, que se mudou para Lisboa em 2017 para cursar mestrado em Cinema na Universidade Lusófona, mas manteve projetos no Brasil - como a série infantil Detetives do Prédio Azul (Gloob).
Em Portugal, escreveu o telefilme Serpentina (RTP) e a própria novela Na Corda Bamba (TVI), indicada ao International Emmy Awards, onde enfrentou os primeiros os desafios de adaptar o melodrama a culturas distintas. Mesmo assim, Dias entende que a forma como a comunidade lusófona consome e produz novelas hoje em dia não esteja tão distante das produções brasileiras - quer seja em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo.
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"Existem algumas ferramentas do melodrama que são temas universais, que são temas que, em qualquer lugar do mundo, eles fazem sentido. Grandes histórias de amor, grandes histórias de superação, grandes histórias de vingança... O melodrama tem algumas ferramentas que são comuns em todas as culturas", afirma.
Curso no Rio de Janeiro
A pós-graduação em Escrita de Telenovela que coordena no Rio é 100% remota, com aulas ao vivo que se iniciam a partir deste sábado (9h de Brasília, 13h de Lisboa), e visa capacitar novos roteiristas - inclusive da comunidade lusófona. O curso mescla teoria (como história da telenovela e adaptação literária), prática (desenvolvimento de projetos curtos para TV ou redes sociais) e seminários com profissionais do mercado.
"A ideia é democratizar um conhecimento que, no Brasil, muitas vezes só se aprende na prática. Queremos falar de melodrama como um gênero universal, mas com a força da telenovela brasileira, que é um produto de exportação", explica o roteirista.
Questionado sobre levar o curso a Portugal, Vinicius não descarta a possibilidade, mas ressalta que o formato atual já atende a todos os falantes de português, justamente por ser num modelo remoto, mesmo que associado a uma instituição brasileira: "Angolanos, moçambicanos ou portugueses têm repertório das nossas novelas. A língua nos une, mas cada país tem sua identidade - e o melodrama dialoga com todas".
Enquanto prepara uma nova novela sob sigilo contratual para Portugal, ele segue na ponte aérea Rio-Lisboa com projetos do lado de cá e de lá do Atlântico. A pós-graduação em Escrita de Telenovela terá uma duração de um ano, com o preço de R$ 16.632,72 (aproximadamente €2500). As inscrições seguem abertas através deste link. Vale destacar que a aula de estreia neste sábado terá a presença da renomada atriz brasileira Glória Perez.
nuno.tibirica@dn.pt