Texto: Otacílio Soares FilhoNenhum acordo comercial internacional, adiado para além da hora certa, é uma questão de calendário diplomático. Mais do que simbolismo político, esta é uma decisão que terá efeitos práticos e imediatos sobre investimentos, planejamento, o emprego e o crescimento do país inteiro. Quando o tempo vai-se arrastando, o risco não é mais teórico: um acordo deixará simplesmente de sair do papel.A experiência mostra que negociações prolongadas em que não se vislumbra o fim acabam correntemente por destruir a confiança alicerçada ao longo dos anos. E a confiança é um elemento essencial na economia mundial.O acordo em causa é uma forma de facilitar o fluxo de bens e serviços, de reduzir obstáculos regulamentares e de criar um ambiente mais propício ao investimento produtivo. Para as empresas, representa eficiência acrescida e segurança jurídica; para os países que participam, as vantagens são crescimento, renovação econômica e um forte acréscimo da sua inserção nas cadeias de valor globais.Mas o adiamento tem também o efeito contrário. Os investidores acabam por procurar mercados onde as regras são claras e estáveis. As decisões relativas à expansão dos investimentos são postas à parte. No médio prazo, o resultado final é perda de competitividade bem como um enfraquecimento da presença internacional das economias de todos os países participantes.E há ainda uma dimensão social que não se pode desprezar. Menos investimento significa menos empregos, menor renda e maior instabilidade econômica. Num mundo globalizado em que tudo muda com tão facilidade, onde estamos sempre em competição com o resto do mundo, comprometer-se é muito caro.Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsAppA Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira tem acompanhado atentamente todo processo com o diálogo permanente com empresas, governos e instituições. O consenso no meio empresarial é inequívoco: a assinatura do acordo é estratégica e urgente. Não se trata de ignorar preocupações legítimas, mas de reconhecer que a ausência de decisão é, em si, uma decisão e uma decisão cara.O futuro do comércio internacional exige clareza, previsibilidade e compromisso. Prolongar indefinidamente a assinatura de um acordo dessa relevância é assumir o risco de ficar para trás em um mundo cada vez mais competitivo. O momento pede liderança, pragmatismo e visão de longo prazo.*Otacilio Soares da Silva Filho é presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira (CCILB) e chair do advisory aoard da Targa Advisors.O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil..Opinião. A importância do encontro entre as academias portuguesa e brasileira no futuro da regulação.Opinião. Negócios em Portugal: o peso das emoções para empresários brasileiros