Texto Priscila S. Nazareth Ferreira*Como quem faz política estilo revista de fofocas, inventando suspense para ganhar audiência, o partido Chega se aliou aos demais à direita e aprovaram com folga a Lei de Nacionalidade. Essa nova lei retira a contagem de tempo desde o pedido de residência, aumenta o tempo para nacionalidade originária aos filhos de imigrantes, entre outros prejuízos.Quem aqui lembra do "não é não" do primeiro-ministro Luís Montenegro sobre governação e associação as pautas do Chega? Afinal essa fala retórica que bravejou no primeiro mandato, encurtado por escândalos de suas empresas familiares, agora se tornou num belo casamento.Como uma "donzela" recatada, que sempre impõe suas reservas à corte, o PSD agora já expõe esse romance. E do "não é não" passamos a "com todo prazer", desde que o teatro de ambos convença ao público que o PSD é moderado mas sabe se vender de extremado para roubar votos ao consorte.A Lei de Nacionalidade coloca o Brasil numa categoria de sete anos para fins de residência. Brasil esse que foi outrora casa da Monarquia, que fugida de Napoleão, instalou-se no Rio de Janeiro por mais de meio século. Nessa época as terras do querido Brasil davam ao indivíduo que lá nascesse a nacionalidade portuguesa, unia uma população em território, identidade nacional, cultura, culinária e afetos. Até mesmo imperador, principes e princesas de Portugal nasceram no Brasil.Hoje em Portugal somos "esses brasileiros que vêm para aqui", ouvido num tom de desprezo, arrogância e cinismo. Cinismo porque as riquezas que ainda hoje guarnecem Portugal advêm dessas terras e dos países africanos de língua portuguesa.Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsApp!Negar a nacionalidade nesse contexto somente seria aceitável se o Estado funcionasse em termos de imigração. Hoje mais da metade dos imigrantes, que são portadores de um título de residência, encontram imensa dificuldade para obter um documento válido. Estamos falando de uma população que acaba por ter de entrar com processos judiciais para fazer valer um direito constitucional, artigo 13 e 15 da Constituição da República Portuguesa. Os tribunais ficam sobrecarregados, e as novas leis buscam interromper o fluxo de ações, para tornar ainda mais difícil o exercicio de um direito.A nacionalidade significa liberdade de nunca mais ter se humilhar às portas da AIMA, significa nunca mais ter sua conta bancária e número de utente cancelados porque seus documentos venceram. A nacionalidade significa não estar subjugado à fala de um primeiro-ministro que diz em tom de deboche "os ilegais que se vão embora", quando não confessa publicamente que o Governo os tornou ilegais porque lhe atrasa a entrega de documentos. Mas por que dar direito de nacionalidade facilitada e respeitar as populações da CPLP? Afinal é prática entre os europeus nos verem apenas como "empregados", nunca um igual, sempre inferior.Dizer que também somos portugueses é para muitos deles um insulto. É o que muitas vezes ouço. "Tu não és portuguesa, és brasileira", como se fosse incompatível ser ambas as coisas. Esse discurso ganhou as ruas, ganhou a Assembleia da República e se espalha como pólvora atiçada na boca de um partido que só tem uma pauta: humilhar imigrantes.O tempo, senhor de todos os desatinos, há de mostrar a Portugal quem perde com essa nova lei. Mas até lá será tarde, e os brasileiros já falarão "Hola" e "hasta luego", ao invés de "Olá" e "Tchau".*Priscila S. Nazareth Ferreira é advogada de Direito Internacional Privado a serviço da imigração..O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.."Portugal mais Portugal". O que vai mudar com a nova Lei da Nacionalidade e quais os próximos passos.Opinião. Temos uma nova lei de estrangeiros em Portugal. E agora?