Opinião. Dignidade aos imigrantes ao invés do ódio
Texto: Priscila S. Nazareth Ferreira*
Portugal fica à direita do Brasil, numa curva ascendente cruzamos o oceano saindo do meu belo Rio de Janeiro e cá chegamos depois de aproximadamente 9 mil quilômetros. Nestes quase 10 anos vivendo na terrinha nunca senti essa "direita" tão presente, pulsante, plural.
Dizem que extrema direita cresceu. Ah, como a moda "pega", né? A verdade é que o Chega não é de extrema-direita, apesar da pauta mais conservadora e da posição desfavorável à imigração. E quanto à AD: essa nem de direita é, na verdade numa comparação europeia o Chega é a direita de Portugal, enquanto a AD é um partido de Centro, a tal social democracia tão ascendente nas décadas de 70, 80 e 90.
Ao estudarmos as propostas políticas do PSD e CDS e do próprio Chega de 2019, vemos que há muita semelhança em algumas ideias. O extremo do Chega na base da liberdade econômica se assemelhava ao que hoje se enxerga na Iniciativa Liberal, onde a pauta dos costumes é a que mais a torna diferente dessas outras forças políticas.
O fato é que no sistema de governação adotado em Portugal se faz absolutamente necessário uma conversa entre esses grupos, que se dizem diferentes um do outro. Mas que no fundo só competem pelo protagonismo.
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Vamos aos exemplos: enquanto não era Governo, a AD era contra as scuts (pedágios gratuitos), mas depois de pôr a mão no orçamento acabou por deixar o assunto de lado. Enquanto discurso, o Chega votou a favor de manter a estabilidade do país ao rejeitar a moção de censura para manter o Governo anterior. Mas deixou de aprovar situações que geraram desgaste e atraso na governabilidade, e não por ideologia, e sim para tomar posição, como uma criança birrenta que grita no mercado porque não lhe compram o doce.
Porém, nessa nova legislatura, a direita precisa crescer, e os adultos na sala precisam deixar de lado suas querelas ideológicas, que afinal nem são tantas assim. Precisam pensar na coletividade, ao invés de usar o Parlamento para sua agenda de promoção.
Se essa conversa não acontecer não teremos orçamento de Estado aprovado e, em menos de dois anos, novas eleições serão convocadas. Mas já por um outro presidente, é claro. Esse por acaso também adepto à direita, minha aposta.
Mas e a imigração?
Bom, depois de ganharem os cargos, os adultos já não precisam mais fingir que desconhecem os números, já não há necessidade de discurso populista e as medidas de regularização da imigração precisam sair do papel de modo a dar lugar à dignidade ao invés do ódio.
A economia portuguesa recuou no último semestre 0,5% e não é à toa que esses números coincidem com um decréscimo de mais de 60% de novos imigrantes no país desde o fim da Manifestação de Interesse. A via verde pregada como a "solução" para falta de trabalhadores tem se mostrado um grande fiasco. Ficando apenas como mais uma promessa que cria manchetes, mas que pouco resulta.
Por acaso, na medição do PIB do ano anterior, Portugal foi um dos países que mais avançou no crescimento econômico, indo na contra mão do restante da Europa. Seria coincidência que nessa época a imigração estivesse nos seus maiores índices? A vizinha Espanha cresceu 3,2%, índice de maior crescimento desde a década de 1990.
Foi justamente em 2024 que a Espanha retoma sua política de imigração de maior flexibilidade, dando sinais ao mercado de seu potencial de desenvolvimento econômico. Bom, tapar o sol com a peneira ganha eleições. Isso já está provado. Mas quem paga a conta do populismo quanto à economia? Aguardem cenas dos próximos capítulos!
*Priscila S. Nazareth Ferreira* é advogada de Direito Internacional Privado