Glauber Rocha é um dos maiores nomes do cinema brasileiro
Glauber Rocha é um dos maiores nomes do cinema brasileiroReprodução

Cinemateca Portuguesa exibe documentário sobre Glauber Rocha no aniversário do cineasta

"Glauber, claro", de César Meneghetti, revisita a relação do cineasta brasileiro com a Itália e sua produção no exílio.
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A Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, promove na sexta-feira (14), às 21h30, uma sessão especial do documentário Glauber, claro, dirigido pelo brasileiro César Meneghetti. O evento marca uma homenagem a Glauber Rocha, um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro e expoente do Cinema Novo, que completaria 89 anos em 2025. Após a exibição, o diretor, que vive em Lisboa, participará de um debate com o público.

O documentário investiga a passagem de Glauber Rocha pela Itália durante seu exílio entre 1970 e 1976, período em que o cineasta consolidou parcerias internacionais e desenvolveu projetos como Der Leone Have Sept Cabeças, rodado no Congo, História do Brasil, e Claro, um filme experimental que Glauber filmou em Roma em 1975 e que, segundo ele, refletia "as contradições do berço mitológico da civilização ocidental".

"Em 1991, quando fui estudar cinema em Roma, encontrei um roteiro do Glauber com o Gianni Amico e soube mais sobre essa fase da vida dele. No Brasil, falavam que ele [Glauco] era paranoico, mas anos depois descobriram documentos do DOI-CODI comprovando que ele estava numa lista de artistas a serem eliminados. Glauber nunca abaixava a cabeça. Ele confrontava o que chamavam de Primeiro Mundo e já trazia uma visão do que hoje se entende como Norte Global, décadas antes desse debate ganhar força", relembra Meneghetti em entrevista ao DN Brasil.

O filme resgata não apenas a trajetória de Glauber Rocha, mas também o ambiente cultural efervescente da Itália dos anos 1970. Em Roma, o cineasta conviveu com nomes como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni e Bernardo Bertolucci, além de outros exilados brasileiros, como Gustavo Dahl e Paulo César Saraceni. Para Meneghetti, a experiência de Glauber na Itália era marcada por esse caldeirão artístico:

"Roma, naquela época, era um melting pot incrível. Você tinha cineastas do neorrealismo, diretores de spaghetti western, artistas como Andy Warhol passando por lá. Glauber fazia parte desse cenário. Mas, ao mesmo tempo, foi um período conturbado, com a ascensão do terrorismo e o impacto da heroína na juventude", pontua o diretor.

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A produção de Glauber, claro levou anos para ser concluída, enfrentando desafios financeiros e perdas significativas ao longo do caminho. O diretor conta que Bernardo Bertolucci, um dos nomes que participaria do documentário, chegou a aceitar conceder uma entrevista, mas faleceu antes que as filmagens ocorressem. Outros integrantes do círculo de Glauber também faleceram antes de registrarem seus depoimentos, o que levou Meneghetti a concentrar as gravações na Itália com aqueles que ainda estavam vivos.

Além de abordar a obra de Glauber, Glauber, claro reflete sobre o impacto da ditadura militar brasileira no exílio de diversos artistas e intelectuais. Glauber, que já havia revolucionado a linguagem do cinema brasileiro com Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, encontrou na Europa um espaço de resistência, mas também enfrentou desafios em sua produção. No documentário, Meneghetti destaca como Glauber navegava entre o reconhecimento internacional e a dificuldade de financiamento:

"O Brasil estava fechado para ele. Seus filmes precisavam ser legitimados fora para depois serem aceitos no país. A ida para a Europa era, ao mesmo tempo, uma necessidade e uma estratégia", reflete Meneghetti.

O documentário também resgata a relação entre Glauber Rocha e a cidade de Roma, onde ele frequentava locais que ainda preservam memórias de sua presença. Em uma das cenas filmadas, Meneghetti registrou uma tradicional trattoria onde o cineasta costumava almoçar diariamente e onde sua conta era paga ao fim do mês – um costume comum na época. O resgate dessas histórias, somado ao impacto cultural do cineasta, reforça a importância do documentário não apenas para os admiradores de Glauber Rocha, mas para a compreensão de um período chave do cinema brasileiro e mundial e da cultura como um todo.

Vale destacar que Glauber Rocha também teve uma importante relação com Portugal. Logo a seguir a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, o cineasta esteve em Lisboa para acompanhar os desdobramentos do acontecimento histórico, em momento que rendeu a produção do documentário As Armas e o Povo, disponível neste link do Youtube.

A sessão de Glauber, claro na Cinemateca Portuguesa será a primeira do documentário em Portugal, algo que Meneghetti já havia planejado ainda antes da mudança para a terrinha. Os ingressos para a exibição podem ser adquiridos na bilheteira da Cinemateca, aberta de segunda a sábado, das 14h30 às 15h30 e das 17h30 às 22h. A entrada inteira custa €3,20 e a meia €2,15 - confira se tem direito ao desconto aqui.

nuno.tibirica@dn.pt

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