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Caminho da equivalência: a experiência de três professoras brasileiras em Portugal
Roberta Manso dá aulas em Queluz. Foto: Leonardo Negrão / Global Imagens

Caminho da equivalência: a experiência de três professoras brasileiras em Portugal

O Governo acende a esperança de quem espera por uma oportunidade. Enquanto nenhum detalhe a mais é anunciado, o DN Brasil traz os testemunhos de quem já enfrentou o famoso processo de validação do diploma.

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por DN Brasil

Texto: Caroline Ribeiro

A empolgação de Roberta Manso quando fala sobre a Escola Secundária Padre Alberto Neto, em Queluz, na região metropolitana de Lisboa, é contagiante. Durante um passeio com a reportagem do DN Brasil pela escola, agora já praticamente vazia pelo fim do ano letivo, a professora de matemática conta, orgulhosa, sobre momentos de interação recentes com os alunos.

“No dia do patrono, o padre que dá nome à escola, fizemos algo diferente. Alunas indianas apresentaram um número de dança típica, com os trajes, e eu disse que queria estar vestida também”, conta Roberta, ressaltando que a iniciativa foi uma forma de integrar de maneira mais efetiva os estudantes, que ainda não dominam a língua portuguesa. Perfil, aliás, de muitos alunos atualmente, segundo a professora. “Há cada vez mais turmas de imigrantes. E professores também”. Há poucos dias, o Ministério da Educação anunciou a intenção de contratar 200 professores imigrantes que já estão em Portugal, mas ainda não revelou detalhes da medida.

Roberta fez a licenciatura plena em matemática na Universidade Estadual da Paraíba. Em 2001, com a mudança para Portugal, logo buscou iniciar o processo de validação do diploma para poder lecionar. Primeiro, recorreu à Universidade de Lisboa. Apresentou todos os documentos solicitados, “até simples, mas quando veio a resposta, não aceitaram”. Aí procurei a Universidade Lusíadas, em Belém. Foi diferente. Me pediram documentos autenticados no cartório da minha terra e aqui no consulado”.

A imigrante recebeu nesta segunda tentativa a equivalência da maior parte das disciplinas, mas ainda precisou cursar cinco cadeiras para obter a validação do grau. Processo que levou três anos, já que a inscrição nas disciplinas ficou atrelada à abertura de cada uma em cada semestre. Depois de concluir as cadeiras, a paraibana passou para a fase de estágio, durante mais um ano. “Caí para estagiar em uma escola em Mafra, vivendo em Lisboa”, conta.

Processo longo

A carioca Patrícia Lopes trocou o Rio de Janeiro por Portugal em 1999, mas só em 2004 resolveu avançar com a validação. Assim como Roberta, também não teve o diploma totalmente validado e precisou cursar um ano na Universidade de Coimbra. Atualmente, a professora de informática é coordenadora de ações de formação no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Além da própria experiência, e por trabalhar, também, com quem procura o IEFP para cumprir requisitos em busca de reconhecimento de graus acadêmicos e validação de diplomas, Patrícia sabe que o processo pode ser longo e desafiador.

A profissional conta que, hoje, para um professor estrangeiro lecionar em Portugal, depois de ter que validar o diploma junto a uma universidade, o que quase sempre exige que o imigrante se matricule em disciplinas em falta, é preciso completar a formação com uma especialização e um mestrado. “A pessoa tá perdendo uns quatro anos e ainda está sujeita ao Estatuto do Estudante Internacional, pagando mensalidades mais altas. É um processo ainda muito complicado. Mais valia fazerem a equivalência do curso de licenciatura quando comprovamos que somos formados e nos passarem logo para fazer um mestrado”, explica ao DN Brasil.

Ainda assim, a professora considera que o anúncio do Governo, mesmo sem detalhes, é positivo, não só pela contratação dos estrangeiros, mas pelas propostas de melhoria da educação em geral. Patrícia até conta ter vontade de retornar ao ensino nas escolas.

“Eu muitas vezes andava 110km pra cima e 110km pra baixo. Eu vivia em Viseu e tinha que ir para a escola em Foz Côa. Fazia isso todos os dias, eu pagava pra trabalhar. Mas eu fazia isso porque precisava de tempo de serviço. Muitos, como eu, andavam com a casa nas costas. Aos poucos, fui perdendo o gosto”, diz ao relembrar os tempos em escolas básicas e secundárias.

Cenário que afasta

Foi por se deparar com as dificuldades no setor que Erika Aragão decidiu não avançar com a validação. Em Portugal desde 2020, a professora de espanhol veio do Canadá, onde morou depois de sair do Brasil. “Eu cheguei a iniciar o processo. Aqui existem até empresas especializadas para cuidar disso. Eu cheguei a ver o valor, que triplica, mas eles dão a garantia que vai sair. Mas quando vi que o que eu ia ter que passar pra receber o que iria não valia a pena. Eu não ia ter a liberdade para ensinar, seguir o que eu acredito”, destaca ao DN Brasil.

No site da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), os valores para o procedimento são colocados como de responsabilidade da instituição que fará a equivalência. “Um ano atrás, quando cheguei a estar em uma escola durante o processo, eu recebia por hora de aula 10,38 euros. No Canadá, eu ganhava 25 dólares por hora. Quem fazia horário cheio aqui, de segunda a sexta, recebia pouco mais do que o salário mínimo. O máximo que eu recebi foi 400 euros. Fui muito sincera com a direção e disse que não ia avançar. Eu já vinha de uma experiência de trabalho no Brasil, alcancei algo melhor no Canadá, mas aqui tive que me reinventar”, conta Erika.

Hoje, a professora aposta nas redes sociais e dá aulas de espanhol particulares. Ainda que não tenha se inserido plenamente no mercado, considera que o chamado do governo pelos profissionais estrangeiros pode ser uma boa iniciativa, mas tem ressalvas. “Se eles continuarem com as mesmas exigências vão ter mais dificuldade em recrutar, mas a carência é enorme. Não sou contra as exigências, mas é preciso abrir um pouco mais”.

caroline.ribeiro@dnbrasil.pt

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