Brasileiros driblam a “Páscoa da economia” e lideram tendências de produtos
A decoração da loja de Carolina Cavalcanti, em Lisboa, segue o tema do momento. A variedade de coelhinhos coloridos e ovinhos decorados faz jus a esta data, que é considerada, junto com o Natal, a melhor época do ano para os empreendimentos dos brasileiros no comércio em Portugal. No entanto, as celebrações em 2025 trazem um gostinho amargo ao doce sabor do chocolate. O preço do quilo do produto disparou em todo o mundo, transformando a data “na Páscoa da economia”, diz a empresária ao DN Brasil.
Quando Carolina resolveu empreender em Portugal, sete anos atrás, tinha apenas um sonho. A brasileira queria trabalhar com produtos para confeitaria e atender um público que, até então, tinha dificuldade de encontrar os materiais com os quais estava acostumado. Carolina começou a distribuir no país as marcas do Brasil que são referências no segmento dos doces, com um estoque que cabia dentro de casa. Hoje, é proprietária de um depósito em Cascais e uma loja em Lisboa, prova de que “quem manda nesse setor são mesmo os brasileiros”, afirma.
A necessidade dos profissionais da confeitaria buscarem alternativas mais econômicas nesta Páscoa não alterou o cenário, pelo contrário. É do Brasil que chegam as tendências que, através de Portugal, ganham toda a Europa. “A gente traz e sabe que vai estourar aqui. Antes, levava anos. Agora, são meses. Tenho clientes na Grécia, na Holanda, na Finlândia, no Reino Unido, por exemplo. As tendências agora são as formas para os ovos tabletes, mini ovos para degustação e ovos de casca fina”, explica a empresária.
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Os três mais vendidos do momento proporcionam uma redução no uso de chocolate nas receitas. “Uma forma para casca fina usa 30% a menos”, diz Carolina. Meses atrás, um quilo de chocolate ao leite belga custava, em média, 25 euros, diz a brasileira. Hoje, a mesma embalagem sai a 40 euros. “Por isso as tendências do Brasil são para todos. Tenho uma pastelaria tradicional portuguesa, cliente nossa no Porto, que comprou esse ano 60 formas”.
Driblando a adversidade
No Mercado Brasil Tropical, uma das lojas brasileiras mais conhecidas de Lisboa, a situação é a mesma. “Todo mundo sentiu o peso do aumento do chocolate e busca economizar”, diz ao DN Brasil a proprietária, Anni Broietti. “Já tivemos procura pelo ovos tabletes, que são os lisos, que é para as confeiteiras poderem decorar. Pelas barras de chocolate de cinco quilos, para sair mais em conta. Com os ovos tradicionais, agora nessa semana que as coisas começam a movimentar mais”, destaca.
A empresária afirma que a subida nos preços, em comparação com o ano passado, mexeu até com a organização para a importação do estoque, procedimento que começa sempre em meados de janeiro. “Nós já tínhamos feito cotação de ovos e estávamos ali com o precinho um pouquinho elevado. Como a gente viu que a economia estava complicada, ficou com um pouco de receio”, afirma Anni, que dividiu as encomendas para sentir a resposta dos consumidores. “No ano passado, o ovo mais caro era 15 euros. Agora o mais caro custa 30 euros e o mais barato 19,90”.
Para a brasileira, o que não muda é o impacto que as tradições brasileiras têm sobre os hábitos de consumo em Portugal e em outros países. “Aqui, não existia uma variedade de ovos de Páscoa, eram coisas simples, ou então o Kinder, e apenas as marcas brancas. Os brasileiros trouxeram essa variedade e influenciaram as grandes marcas a começarem a produzir”, destaca.
Para driblar o momento econômico, Anni aposta em usar a tradição para fidelizar clientes e atrair novos. “O que nós fizemos foi trabalhar com uma margem mínima de lucro, porque temos muita procura, e colocar o produto como um chamariz. É um chama para as outras variedades que nós temos, outros artigos a serem conhecidos”, explica a brasileira, confiante de que o gostinho tradicional de Páscoa, por aqui, não vai amargar.
caroline.ribeiro@dn.pt
Reportagem publicada na edição de segunda-feira, 14 de abril de 2025, do Diário de Notícias.