Opinião. O que ninguém te conta sobre empreender em Portugal

Texto: Manuela Allo*

Abrir um negócio em outro país é sempre uma aventura. Para os brasileiros que escolhem Portugal como destino para empreender, a proximidade cultural e o fato de compartilharmos a mesma língua é uma vantagem, mas nem tudo é simples. Apesar das oportunidades que o país oferece, muitos empresários enfrentam grandes barreiras no processo de criação de uma empresa portuguesa. A verdade é que a expressão “O que nos une é mais do que nos separa” é levada ao pé da letra quando comparamos as terras de Machado de Assis e de Fernando Pessoa, inclusive no que diz respeito à complexidade da burocracia. A diferença é que, quando se está num país que não é o nosso, o que já é difícil, torna-se infinitamente mais complexo. 

Embora seja reconhecido pelo seu ambiente empreendedor em crescimento, Portugal ainda apresenta um sistema burocrático complexo que pode confundir até mesmo os mais experientes. E como qualquer processo num país estrangeiro, tudo se torna ainda mais desafiador. A exigência de documentação específica, os trâmites legais e a necessidade de um conhecimento profundo sobre a parte fiscal e a contabilidade local tornam o processo de abertura de empresa mais lento do que muitos empreendedores esperam. Para nós, brasileiros, por exemplo, a adaptação a um sistema fiscal diferente, o cumprimento de requisitos como o Número de Identificação Fiscal (NIF) e o registro de atividade empresarial são etapas que podem parecer quase inalcançáveis sem apoio especializado. Além disso, o tempo para a obtenção de licenças e autorizações ou a dificuldade para encontrar um contador certificado de confiança frustra os planos de quem deseja começar rapidamente o seu negócio. Estas dificuldades são ainda maiores quando os empreendedores estão gerindo a sua mudança para Portugal e precisam de apoio para navegar pelas particularidades culturais e jurídicas do país.

Cheio de potencial para empreendedores estrangeiros, Portugal tem incentivos fiscais e programas de apoio também para startups. No entanto, para transformar uma ideia em realidade, é fundamental ter acesso a recursos que tornem o processo burocrático menos exigente. É neste cenário que soluções digitais que apoiam os empreendedores não só nacionais mas também estrangeiros têm ganhado destaque. Ferramentas que ajudam a gerir as etapas de criação de empresa de forma integrada desde o início, através do entendimento sobre os diferentes tipos de empresas em Portugal até à gestão contábil, têm sido fundamentais para quem procura agilizar os primeiros passos no mundo empresarial local. No fundo, são plataformas que permitem aos empreendedores se concentrarem naquilo que realmente importa: desenvolver ideias inovadoras e crescer em um mercado competitivo.

Como brasileira que vive em Portugal há vários anos, posso dizer que este é um país de enorme valor e potencial. A qualidade de vida e o ambiente acolhedor fazem dele um lugar bom para viver e empreender. Acredito que Portugal está com vontade de se afirmar como um destino de referência para o empreendedorismo global e a combinação entre tradição e inovação é uma das suas maiores forças, mas simplificar processos e criar um ambiente ainda mais acessível para negócios estrangeiros se torna essencial para maximizar este potencial.

Com os recursos certos, as dificuldades podem ser superadas, e todos têm a ganhar: os empreendedores, que encontram oportunidades para crescer, e o próprio país, que beneficia de novas ideias, emprego e dinamismo econômico. Portugal tem tudo para ser uma verdadeira terra de oportunidades – e acredito que está a caminhar na direção certa.

*Manuela Allo é brasileira, vive em Portugal e ocupa o cargo de gestora de Marketing na Rauva.