Opinião. Portugal, nossa entrada para a Europa em um mundo em isolamento

Texto Paulo Dalla Nora Macedo*

O mundo mudou. Portugal também. De porto de partida, transformou-se em ponto de encontro, de passagem e convergências, onde culturas se cruzam, ideias circulam e negócios florescem. Se Oswald de Andrade escrevesse hoje o seu manifesto modernista, certamente diria, inspirado no cientista Silvio Meira: só a antropofagia figital nos une. Física e digital. Socialmente. Economicamente. Ambientalmente. Politicamente.

O Brasil tem uma capacidade única de inovar e de criar. Portugal, por sua vez, se consolidou como um hub global que conecta a América, África, Europa e Ásia. Sob o céu de Lisboa, as pontes falam todas as línguas, refletindo um espaço onde as fronteiras se tornam fluidas e novas possibilidades surgem a cada dia. Há muito Portugal deixou de ser monoglota e só de turistas recebeu mais de 30 milhões no ano passado, cinco o Brasil.

Portugal, faz tempo também, não é mais apenas um ponto turístico, é com certeza um centro de negócios e uma vitrine para o futuro, para norte-americanos, brasileiros, africanos, asiáticos e europeus cada vez mais numerosos entre Lisboa e o Porto. Estamos vivendo o momento perfeito para reforçar laços entre o Brasil e a Europa, com base em um futuro comum de inovações, sustentabilidade e prosperidade.

Precisamos ampliar as conexões estratégicas existentes e sobretudo criar novas. O Brasil tem um patrimônio ambiental único, que, se bem aproveitado, pode se tornar a base para a nossa ascensão global. A Europa, com sua experiência e uma economia madura, e o Brasil, com seu potencial imenso a ser explorado, têm muito a ganhar ao unir forças, especialmente em áreas como biotecnologia, nanotecnologia e inteligência artificial. Esses setores não são apenas oportunidades de negócios; são a chave para moldarmos um futuro com novos eixos de desenvolvimento, novos polos de crescimento e novas centralidades em nossos fluxos comerciais.

Nosso país tem a vocação natural para exportar soluções para o mercado europeu, entretanto, para que isso ganhe escala e relevância, precisamos fortalecer nossa presença aqui, em Portugal e na Europa, diversificando nossos setores e expandindo horizontes.

A proximidade cultural entre o Brasil e Portugal abre portas para serviços como consultoria e tecnologia da informação, mas é o nosso potencial verde, o patrimônio ambiental que possuímos, que pode impulsionar o Brasil a uma nova era de desenvolvimento e liderança no mercado internacional.

É sobre inspirar um novo tempo que estamos falando. Não é apenas sobre negócios, é sobre entender como a troca de conhecimento e a colaboração mútuas podem gerar soluções criativas para os desafios de amanhã. O Brasil precisa estar atento às oportunidades que a Europa oferece, assim como a Europa deve reconhecer o imenso valor que o Brasil tem a oferecer, especialmente no campo das soluções sustentáveis. O desafio é grande e a jornada que temos é promissora, com soluções ambientais, tecnológicas e culturais que podem se somar para criar um futuro mais equilibrado e transformador.

Se o tamanho de nossa população não nos favorece quando vemos o crescimento da China e todo o potencial da Índia, ambos com mais de 1,4 bilhão de habitantes, a riqueza natural e a diversidade socioambiental que dispomos, com seu uso planejado, de maneira inteligente, eficiente e sustentável, é o que nos levará a alcançar a força e o peso de uma verdadeira potência global. É sobre isso. É sobre sermos o país do presente, do momento, de um futuro que chega e que se faz agora.

Paulo Dalla Nora Macedo, Economista e co-fundador do Lisboa Connection*