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Portugal de oportunidades. Brasileiro vence prêmio por melhor pizza da Europa
O brasileiro Duda Ferreira, que faz pizzas em Lisboa, foi um dos 3 premiados de Portugal. Foto: Arquivo pessoal

Portugal de oportunidades. Brasileiro vence prêmio por melhor pizza da Europa

Duda Ferreira, dono da Lupita, fala sobre sua trajetória na cozinha e as receitas para o sucesso da pizzaria que se tornou uma das melhores da Europa.

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por DN Brasil
O quadro "Portugal de oportunidades" do DN Brasil conta histórias de empresários e empresárias do Brasil que se destacam em terras portuguesas.

Texto: Nuno Tibiriçá

Duda Ferreira, 36 anos, metade deles vividos na cozinha, fala com orgulho da sua trajetória. Natural de São Paulo, metrópole que comercializa mais de meio milhão de pizzas por dia, Duda viu em Lisboa a oportunidade de trazer uma experiência diferente do conceito tradicional de pizzarias que via na cidade. Após quatro anos desde a inauguração da Lupita, viu sua pizzaria ser selecionada entre as 50 melhores da Europa, ocupando a 45ª posição do 50 Top Pizza, junto a outras duas portuguesas (Forno d’Oro e Arte Bianca). 

Ao DN Brasil, Duda fala sobre sobre a meia vida dedicada à cozinha, a vida em Portugal, o próximo passo do empreendimento e a receita para o sucesso da Lupita, coincidentemente localizada na rua de São Paulo, no Cais do Sodré.

DN Brasil - Quando você começou a sua trajetória na cozinha?

Duda Ferreira - Comecei logo quando acabei o colegial, com 18 anos. Fui fazer faculdade de gastronomia e depois de três meses consegui arranjar logo o meu primeiro estágio num restaurante. Depois de dois meses, um dos cozinheiros largou o emprego e surgiu a oportunidade de eu assumir a vaga dele, então eu acabei por sair da faculdade e ficar só no restaurante. Era um trabalho com dois turnos, portanto impossível de conjugar com os estudos. Foi algo meio do acaso, meu pai não é cozinheiro, minha mãe também não. E eu, na dúvida do que fazer ali novo, acabado de sair da escola, acabei me vendo rapidamente naquele ambiente de cozinha. E a adrenalina me cativou. Depois fui crescendo na profissão, trabalhei em diversos restaurantes italianos renomados em São Paulo, abri um restaurante no Rio de Janeiro, prestei consultoria para restaurantes em várias outras cidades como Blumenau e Visconde de Mauá.

DN Brasil: Quando e porquê se mudou para Portugal?

Duda Ferreira: foi em 2016. Eu estava com o meu próprio negócio, que era um food truck de hambúrgueres, logo quando começou aquela febre de food trucks em São Paulo. Acabei tendo que fechar porque não estava rendendo o que eu estava à espera e já estava me desgastando demais. A Karina, minha esposa, tem nacionalidade portuguesa, então resolvemos dar esse salto, tentar a sorte aqui. Encerrei meu negócio e, seis meses depois, estávamos nos mudando para cá. Estava cansado, não só de São Paulo, mas também da área.

DN Brasil - Mesmo cansado da área, quando chegou, foi logo trabalhar na “restauração”, como dizem os portugueses?

Duda Ferreira - Sim, mas no começo não com negócio próprio. A ideia era abrir algo aqui, mas a médio prazo. Queria antes passar um tempo conhecendo o mercado, fazendo experiências e depois a ideia era tirar um tempo para viajar, com o trabalho eu nunca consegui viajar muito durante a minha vida. Então num momento primeiro fui trabalhar numa cozinha, até para conhecer melhor o estilo das pessoas. Em São Paulo temos uma mão de obra muito específica, aqui não, a cozinha tem muitos asiáticos, por exemplo e isso foi uma mais-valia no meu início aqui, num restaurante no Terreiro do Paço, ter contato com pessoas e técnicas diferentes. Fora todo conhecimento que adquiri acerca dos fornecedores. Já o plano da viagem, não deu muito certo, porque pouco tempo depois a minha mulher ficou grávida, então os planos que a gente tinha de “dar um tempo” do trabalho, não aconteceram.

DN Brasil - E como começou o projeto Lupita?

Duda Ferreira - Eu sou apaixonado por pizza desde criança, tenho uma ligação forte com a pizza que começou no interior de São Paulo. Ía para um sítio, em Itapetininga, e minha família fazia noites de pizza, eu ajudava a fazer a massa e os recheios. E nessa época que saí do restaurante, comecei a fazer eventos em casa, no começo para amigos, depois para conhecidos de amigos e às vezes o pessoal queria que eu fizesse pizza. E quando eu comecei a fazer pizzas para eles, eu voltei a sentir tesão na minha área, a pizza provavelmente é a primeira memória afetiva que tenho da cozinha, era mesmo um programa de família que fazia parte da minha infância. Aí comecei a crescer, tinha semana que fazia cinco eventos, aniversários, festa de casamentos e comecei a fazer testes e mais testes com a pizza até chegar num ponto que eu achei que estava pronto para abrir um negócio na rua. Eu já tinha experiência com panificação, mas com pizza começou ali mesmo, foi um laboratório para mim. Aí chamei o Marcelo (ex-sócio), mostrei o business plan, ele topou e abrimos a Lupita. Isso em 2019, na mesma esquina que está até hoje, no Cais de Sodré.

DN Brasil - No passado, existia uma lenda que não havia boa comida italiana em Portugal. Você já viu uma oferta maior desde que você chegou até agora?

Duda Ferreira - Sem dúvida, há muito mais oferta agora. São Paulo tem a segunda maior comunidade italiana fora da Itália, ficando somente atrás de Nova Iorque. Então é normal que aqui tenha muito menos oferta do que lá, aqui a imigração é mais diversa. Pizzarias tem em todas as cidades do mundo, mas aqui a gente tentou trazer algo diferente, o conceito de fermentação natural, usando farinha portuguesa de moleiro, inovando. Desde então tem surgido cada vez mais pizzarias desse gênero.

DN Brasil - Porque a Lupita teve tanto sucesso?

Duda Ferreira - Foi um negócio certo, na hora certa. As pizzarias aqui de Lisboa eram muito tradicionais. E a gente veio pra quebrar um pouco isso. Nosso foco é um público mais jovem, ter uma coisa um pouco mais festiva, divertida, tratamos a pizza com menos formalidade. Isso, aliado com a questão da fermentação natural, com os produtos, a maioria portugueses, com a localização que é incrível e o próprio espaço, torna a Lupita uma pizzaria única.

DN Brasil - Disse que a maioria dos produtos são portugueses. Quais? E quais importa?

Duda Ferreira - Diria que a esmagadora maioria são daqui. Da Itália apenas o tomate em conserva, porque é realmente melhor. Todo ano, por volta de setembro, outubro, é lançada uma nova safra e a gente prova. Não necessariamente San Marzano, mas sempre italiano. Queijo grana padano também temos que importar e depois um um produto ou outro, mas dá pra se bastar com os produtos daqui, tem muita coisa boa: enchidos, queijos, legumes, tem uma variedade absurda e uma qualidade muito interessante.

A pizza sempre fez parte da vida de Duda. Foto: Arquivo pessoal.

DN Brasil - Teve dificuldades para abrir um negócio em Portugal? Foi muito burocrático?

Duda Ferreira - Olha, digo isso porque eu tenho negócios no Brasil: aqui é muito mais simples, claro que tem suas obrigações chatas, mas de forma global é mais fácil. Talvez o que a gente mais sofreu foi na parte da obra. Desde o começo até os dias de hoje, é bem difícil arranjar mão de obra de qualidade. Mas tirando isso, o processo foi mais simples que no Brasil.

"Aqui é muito mais simples, claro que tem suas obrigações chatas, mas de forma global é mais fácil"

DN Brasil - Esperava que a Lupita fosse se tornar uma das melhores da Europa?

Duda Ferreira - Nunca. E não falo só dos prêmios, claro que eu acho o prêmio incrível. Mas o nosso foco nunca foi esse. A ideia mesmo era fazer o melhor produto possível e trabalhar para isso. Nós somos uma pizzaria de 40 metros quadrados, ali no Cais do Sodré, nunca tivemos uma assessoria de imprensa, nunca gastou um cêntimo em publicidade. E quando vem isso do nada... fiquei super surpreso. É um reconhecimento espetacular. Foi um grande aprendizado lá atrás, quando comecei os eventos em casa, errava o tempo todo e quando eu abri a Lupita, eu tinha que acertar todos os dias. Então foi muito trabalho por trás pra conseguir tudo isso. E quando a gente recebeu o prêmio, eu fiquei mesmo feliz. Mas pronto, agora passou. A gente olha todo dia pra plaquinha, mas o que importa é o cliente. Somos tão bons quanto a última pizza que servimos. 

DN Brasil - Tem planos para expandir o negócio? Abrir outra unidade?

Duda Ferreira - Sim, já tá até fechado, temos uma extensão planejada pra esse ano. Ainda não vou dizer exatamente o lugar, mas vai ser bem interessante. Acho que o pessoal todo vai gostar. A localização é incrível e vai ser muito bom pro nosso delivery. Se tem uma coisa que a gente sente que pode melhorar para os nossos clientes, é o delivery. E essa nova casa é uma aposta nossa para sanar isso.

DN Brasil - Após oito anos em Portugal, se sente integrado na sociedade portuguesa?

Duda Ferreira - Com certeza. Para mim, Lisboa é uma cidade incrível. Não tenho nenhuma vontade de me mudar daqui, fui realmente abraçado. Sei que algumas pessoas podem ter tido outras experiências, mas a minha experiência não poderia ter sido melhor. Acho que muito também pelo ramo que eu trabalho. A restauração é um ambiente muito acolhedor e muito diverso também. Então as pessoas que eu conheci, todas elas me abraçaram. Não conhecia ninguém aqui e me ajudaram muito, acho que também estava todo mundo animado com a ideia do que podia ser a Lupita naquela época. Passei boa parte da minha vida em São Paulo e eu não via essa solidariedade lá. Não sei se hoje melhorou ou não. Mas com certeza lá foi muito mais complicado trabalhar nessa área.

"Para mim, Lisboa é uma cidade incrível. Não tenho nenhuma vontade de me mudar daqui, fui realmente abraçado. Sei que algumas pessoas podem ter tido outras experiências, mas a minha experiência não poderia ter sido melhor"

nuno.tibirica@dn.pt

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