O sindicato que representa os funcionários consulares de Portugal no Brasil anunciou esta terça-feira uma greve de quatro semanas em março pelo pagamento do salário em euros destes trabalhadores, que recebem "metade do que lhes é devido".Em comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (STCDE) anunciou que esta greve, que terá lugar nos postos consulares e embaixadas de Portugal no Brasil, decorrerá entre os dias 03 e 27 de março.O anúncio ocorre poucos dias após uma série de protestos de brasileiros em frente aos consulados no Brasil, como São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Rio de Janeiro. Os requerentes de visto reclamam da demora na análise dos pedidos, que passam do prazo legal (60 dias) e chega a até 200 dias. Os cidadãos também reclamam de uma "onda de indeferimentos" após os protestos. Com a demora e os entraves burocráticos, há quem queira desistir do visto e vir para Portugal como turista e tentar a regularização.A greve também é anunciada poucos dias antes de os vistos consulares serem tema da cimeira Brasil-Portugal, marcada para 19 de fevereiro, Diplomatas ouvidos pelo DN dizem que esperam "ouvir notícias" do Governo de Portugal sobre a questão.Salário em eurosTrata-se de uma resposta dos trabalhadores por serem os únicos dos serviços periféricos externos do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e da Administração Pública portuguesa a não terem o seu salário fixado em euros."As suas remunerações foram congeladas ao câmbio de 1 euro por 2,638 Reais, câmbio fictício, mas conveniente para o MNE, sendo que à data do envio do aviso prévio de greve o câmbio era de 6,0127 reais para 1 euro. Não houve reposição da tabela salarial destes trabalhadores para euros, recebendo atualmente menos de metade do que lhes é devido".Trata-se de uma luta destes trabalhadores com mais de uma década, nomeadamente desde 2013, quando foi fixada a remuneração em reais para estes trabalhadores.Em dezembro de 2022, foi publicada uma portaria em Diário da República, segundo a qual estes trabalhadores iriam ter as suas remunerações atualizadas em 48,9%, a mesma percentagem da depreciação monetária acumulada do real.Na altura, o STCDE classificou a portaria de "histórica", uma vez que "vem corrigir uma situação que existe há mais de nove anos e que tinha conduzido a um intolerável empobrecimento destes trabalhadores".Rosa Teixeira, secretária-geral do STCDE, disse à Lusa que se tratou de uma "compensação de uma depreciação monetária acumulada", mas que a situação ficou então por resolver, ou seja, "estes trabalhadores terem a reposição da tabela em euros".Para o sindicato, estes trabalhadores "continuam a ser marginalizados e vítimas num segundo plano, já que não podem beneficiar do mecanismo que acautela as variações cambiais, à semelhança de todos os restantes trabalhadores ao serviço do Estado, e não somente do MNE, no estrangeiro"."São 11 anos de promessas de resolução não cumpridas, existindo situações pessoais de grande precariedade, sendo urgente colocar um ponto final no apartheid salarial com a reposição da igualdade de tratamento", lê-se no comunicado da organização sindical.A greve irá decorrer na embaixada e dos postos consulares portugueses no Brasil em março, de 03 a 06, de 10 a 13, de 17 a 20 e de 24 a 27.