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Sol Brasil: a história do restaurante brasileiro que serve a costela mais famosa de Lisboa
Wilder Miranda chegou à Lisboa em 2005 e é um dos responsáveis pela idealização do Sol Brasil. Foto: Carlos Pimentel

Sol Brasil: a história do restaurante brasileiro que serve a costela mais famosa de Lisboa

Wilder Miranda, um dos proprietários da casa, fala ao DN Brasil sobre o sucesso do empreendimento.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

As pessoas que passam pelo número 112 da rua Caminhos de Ferro, na região de Santa Apolônia, em Lisboa, em uma tarde de sábado, se deparam com o mais puro suco de Brasil. A esplanada do restaurante Sol Brasil se encontra lotada e as mesas coloridas compostas com carne e linguiça da melhor qualidade, petiscos como torresmo, mandioca, queijo coalho e dadinho de tapioca e acompanhamentos como vinagrete, feijão preto e farofa. As caipirinhas e outros diversos cocktails harmonizam com as entradas e os pratos principais, dentre os quais está o carro-chefe do restaurante: a costela.

"Ninguém em Lisboa fazia uma costela desse jeito. E dava trabalho, no começo não tínhamos um forno específico, então demorava umas sete, oito horas para deixar pronta. Fomos aperfeiçoando a receita e começou a atrair muitas pessoas. Hoje, com o crescimento do restaurantes e já os equipamentos necessários, preparamos por volta de três toneladas por mês", conta ao DN Brasil Wilder Miranda, um dos sócios responsáveis e idealizadores do Sol Brasil.

Nascido no Paraná, Wilder tem estrada longa em Portugal. Ele se mudou para Lisboa em 2005 ao lado de seu irmão, Freden. Os primeiros trabalhos dos irmãos foram em cozinhas portuguesas, especialmente nas famosas tascas, estabelecimentos que servem pratos típicos lusitanos. Um dos primeiros restaurantes no qual trabalharam era justamente onde hoje se encontra o Sol Brasil, mas com algumas diferenças, a começar pelo nome.

"Chamava Lua Brasil", lembra rindo Wilder. Apesar do nome, era uma pastelaria tipicamente portuguesa. Foi ali, aliás, que a dupla começou a se familiarizar com a gastronomia daqui: "Como a gente é do Sul, não tinha muito peixe, muito marisco. Então foi aqui que aprendemos mais sobre as diferentes formas de fazer bacalhau, peixe grelhado, polvo... era um restaurante muito típico da zona e no começo, não quisemos mudar isso", diz o paranaense, que tomou as rédeas do restaurante em 2008.

Aos poucos, Wilder e Freden foram colocando seus toques no restaurante com brasilidades no menu e modernizando um pouco os pratos da tasca, mas foi só nas principais crises das últimas décadas que o restaurante teve as mudanças mais estruturais. Primeiro entre 2010 e 2012, anos nos quais Portugal passava por uma das piores crises econômicas de sua história.

Nessa época, segundo Wilder, o movimento na região começou a diminuir e várias casas tiveram que fechar, inclusive a pastelaria que se localizava bem ao lado do Sol Brasil. Os empresários, que já tinham uma cozinha ligeiramente mais diferente das tascas do bairro, conseguiram se aguentar e, apesar do aumento arrasador nos impostos, deram um jeito de se manterem fortes na crise, conseguindo inclusive adquirir o estabelecimento ao lado. Os empresários fizeram obras, aumentaram o espaço com uma esplanada e, cerca de um ano depois, a casa "bombou" realmente.

"Sinto que foi por volta de 2014 que a gente viu o movimento crescer muito mesmo. Foi quando começou a ter a explosão do turismo em Portugal e a gente ainda tinha essa comida tradicional portuguesa muito presente e em uma zona que está a caminho do centro. Tivemos verões excelentes aqui", afirma Wilder, que nessa época, além de Freden, passou a contar também com as conterrâneas Mariana Xavier e Viviane Nunes como sócias.

De Sol Brasil para só Brasil

Gerido por brasileiros, com Brasil no nome, mas principalmente com comida portuguesa no menu, o Sol Brasil teve sua segunda virada em outra grande crise, nomeadamente na pandemia. O empresário conta que, apesar de sempre ter entre as opções do restaurante pratos típicos brasileiros, até 2020 esse não era exatamente o foco do Sol Brasil. Com a falta de turismo naqueles anos, Wilder, Freden, Mariana e Viviane resolveram alterar a rota para tentar captar outro público para o Sol Brasil.

"Houve uma mudança de perfil de público e foi aí que a gente partiu para nossa linha de culinária específica do Brasil, de diferentes regiões. Trouxemos o dadinho de tapioca, queijo coalho, coraçãozinho de galinha e conseguimos também melhorar a qualidade dos nossos produtos, especialmente das carnes. Muitos restaurantes que reabriram depois da quarentena e voltaram iguais, não conseguiram sobreviver, então nós tínhamos que trazer algo inovador", relembra Wilder.

O ambiente do Sol Brasil passou a trazer cada vez mais a comunidade brasileira e também portugueses e pessoas de outras nacionalidades curiosas pela nossa gastronomia. Nas bebidas, os empresários inovaram, acrescentando ao menu diversos cocktails e uma seleção com mais de 25 tipos de cachaça, vindas de estados como São Paulo, Bahia, Minas Gerais e até o Pará, representado por uma cachaça de jambu, daquelas que deixam boca formigando.

Alguns dos cocktails do Sol Brasil. Foto: Carlos Pimentel

A estratégia de remodelação do quarteto deu certo. Desde 2020, o Sol Brasil se consolidou como um dos melhores restaurantes brasileiros em Lisboa. Com uma grande variedade de oferta no menu, acompanhada de uma igual qualidade dos produtos e confecção dos pratos, a ideia de representar as diferentes regiões do Brasil mostrou-se acertada. Seria possível ficar apenas nas entradas, com destaque para o torresmo, o coração de galinha, a mandioca e o queijo coalho.

Isso tudo acompanhado das caprichadas caipirinhas que tem o gosto da cachaça presente, algo difícil de encontrar mesmo em estabelecimentos de comida brasileira em Portugal, que perdem a mão no açúcar. É nos pratos principais, no entanto, que brilha o Sol-Brasil. A costela bovina servida pelo restaurante é um abraço apertado no imigrante brasileiro, especialmente os sulistas, ou então o mais caprichado dos cartões de visitas para um estrangeiro que não conheça a gastronomia do Brasil.

Nos acompanhamentos da costela, é difícil escolher um favorito. A peça chega ao lado de arroz, feijão, farofa, mandioca e vinagrete, todos confeccionados com carinho, especialmente o feijão "carnudo" e a farofa, que parece ter vindo ao mundo para partir agarrada àquela costela.

A costela do Sol-Brasil não é para amadores. Foto: Carlos Pimentel

"O sucesso foi grande, começou a ter filas enormes para comer a costela, pessoal ficava aqui esperando horas. Tivemos que partir para uma melhoria da cozinha, investimos mais na produção da costela, fornos melhores, coisa industrial mais potente", fala Wilder.

Atualmente, são comercializadas por volta de 100 unidades da costela por dia no Sol Brasil, que, além do carro-chefe, tem entre os mais vendidos pratos como o tomawawk, a picanha e a maminha. O restaurante ainda tem entre as opções do menu dois pratos típicos portugueses: o bacalhau e o polvo à lagareiro.

Agora, Wilder pensa nos próximos passos do empreendimento. Além de um projeto em Santarém e outro no Norte do país, o empresário revela que estão sendo finalizadas as obras para um armazém do restaurante, onde os produtos terão uma preparação maior e até a presença de um cozinheiro em treinamento. Outra possibilidade é abrir uma filial do restaurante na Margem Sul.

"Gosto muito da orla do Barreiro, com a vista pro Tejo e para Lisboa. Estamos também com um armazém lá, quem sabe abrimos um pequeno restaurante. E ficaria bem de frente para cá, para essa primeira unidade. Seria muito bonito", finaliza Wilder.

Confira mais fotos do Sol Brasil

nuno.tibirica@dn.pt

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