“Provavelmente já apresentamos mais em Portugal, do que no Brasil”, diz Porta dos Fundos
Apresentações serão em Braga, Lisboa e Porto.
Texto: Nuno Tibiriçá
Não será a primeira vez e, tanto os atores do Porta dos Fundos, fenômeno da internet no Brasil, quanto o público português, esperam não ser a última. Em julho, a peça Portátil, do Porta dos Fundos, terá a oitava temporada em Portugal: “Provavelmente já apresentamos mais em Portugal, do que no Brasil”, conta Gregório Duvivier que, ao lado do colega de Youtube e de palco, João Vicente de Castro, concedeu entrevista ao DN.
Com apresentações marcadas no Fórum Braga (24 de julho), na Aula Magna de Lisboa (26, 27 e 28 de julho) e no Coliseu Porto Ageas, (29 de julho), os atores brasileiros voltam aos portugueses. Assim como no ano passado, terão mais uma vez a companhia da atriz portuguesa Inês Aires Pereira. Segundo Gregório, Inês faz parte de uma rede de pessoas com as quais se conectaram e que cada vez mais cresce em Portugal.
“Eu me apaixonei pelos portugueses. Os portugueses foram, pelo menos comigo, sempre muito queridos. Então fiz muitos amigos e pessoas que sempre que volto a Portugal preciso rever. E é uma relação que não para de crescer. A nossa última grande aquisição para a peça foi a Inês, que virou também uma pessoa muito próxima, muito querida por todos nós. Virou parte de uma trupe que estamos criando em Portugal e isso é muito legal também”, conta Duvivier, antes de João Vicente completar: “O Gregório já havia construído uma relação muito próxima com o Ricardo Araújo Pereira, mas desde que começámos a ir com frequência a Portugal vimos que o povo português é muito acolhedor. Essa trupe que ele fala começou a crescer ainda mais e viraram mesmo nossos amigos, como o César Mourão, Bruno Nogueira, Nuno Lopes, a própria Inês. É muito bom ter essa relação aí”, conta.
Peça de improvisação teatral, a Portátil teve sua estreia em 2015 e consiste em uma atuação por parte dos artistas a partir da história de vida de um convidado da plateia que sobe ao palco. Em vídeo divulgado pelo próprio Youtube do canal, Gregório admitiu que a ideia de Portátil foi justamente trazer algo diferente dos sketchs vistos no canal para o palco. Segundo o ator, algo muito na linha do que já fazem no Youtube, poderia “decepcionar” o público.
Daí surgiu a ideia do improviso da peça. Para os membros do Porta dos Fundos, a possibilidade de cada peça ser diferente faz com que os atores mantenham a vontade de sempre voltarem a realizá-la. “É muito motivante. Gostamos disso, do risco, é algo que nos motiva. Já são nove anos e continua a ser sempre muito diferente”, diz Duvivier. Perguntado se havia muita diferença na interação com os públicos de Brasil e Portugal no espetáculo, João Vicente definiu os portugueses como “mais poéticos”.
“Se tiver que resumir essa resposta, diria que os portugueses são mais poéticos. São histórias e observações sobre a vida, muito poéticas. Na peça, fazemos sempre uma pergunta sobre a primeira lembrança da infância. Uma vez uma portuguesa disse que a primeira lembrança da infância dela foi um dia que entrou no quarto do irmãozinho e tinha uma luz alaranjada que incidia sobre o berço. E essa era a lembrança da infância. Não era a recordação de alguém com 90 anos, mas sim de uma jovem. O jeito como os portugueses observam a vida tem coisas muito bonitas, que engrandece muito a nossa peça”, diz João Vicente. O comediante conta que, desde que começou a vir para Portugal, viu um novo país “florir”, embora reconheça que já vê uma certa descaracterização provocada pelo turismo.
“Vimos uma evolução muito bonita em Portugal. A primeira vez que fui a Portugal foi em 2012 e dava para ver que era uma crise pesada. E nessas idas e vindas, eu pude ver o país florir de alguma forma, embora agora ache que até ficou um pouquinho demais... Muitos turistas, restaurantes para turistas. E eu sou um ‘puxa-saco’ da cultura portuguesa. Sempre que eu e o Gregório vamos para Portugal, vamos diretos a shows de fado. E a comida é maravilhosa… acho que sempre volto uns dez quilos mais gordo”, diz o ator carioca.
“Portugal foi uma das coisas boas que o Porta dos Fundos"
Para Gregório Duvivier, as vindas de Portátil a Portugal fomentaram a relação próxima que tem atualmente com a cultura do país. Antes disso, conta, conhecia apenas os Gato Fedorento, que via através de DVD ‘s piratas, e a literatura portuguesa, da qual se considera grande admirador. Foi o Porta dos Fundos, no entanto, que abriu outros horizontes para sua relação com o país.
“Portugal foi uma das coisas boas que o Porta dos Fundos me trouxe. A primeira visita foi inesquecível para mim. É muito louco você atravessar o oceano e as pessoas verem o seu trabalho. Talvez o gringo americano esteja acostumado com isso, com o mundo todo ver o seu trabalho, mas no Brasil não é assim. Claro que o Porta dos Fundos já era grande na época mas, ainda assim, atravessar o oceano e ver que as pessoas conhecem um projeto que começou entre amigos foi muito gratificante”, finaliza. Prestes a mais uma vinda ao país para a apresentação da peça do Porta dos Fundos, João Vicente diz-se animado com os próximos espetáculos em Portugal.
“Por mais que seja uma peça de comédia, gostamos muito de fazer peças bonitas, não só engraçadas. Gostamos de contar histórias com início, meio e fim. Claro que tem galhofa no meio, mas também já tivemos crises de choro em palco, já tivemos momentos muito emocionantes. Então, quanto mais bonita e cheia de elementos é a história – e o português sabe muito dissertar sobre elementos e detalhes – mais legal é para nós compor essa peça improvisada”, completa. Além de Gregório Duvivier, João Vicente de Castro e Inês Aires Pereira, as apresentações de Portátil neste ano também contam com a presença de Andrés Giraldo e Gustavo Miranda e a realização de Bárbara Duvivier.
nuno.tibirica@dn.pt