Professor e tiktoker português viraliza com curiosidades sobre o nosso idioma
Doutor em Línguas, Literaturas e Culturas, Marco franco Neves acumula milhões de visualizações em vídeos com curiosidades e definições sobre a língua portuguesa e tem cativado, também, o público brasileiro.
Texto: Caroline Ribeiro
Mais de um milhão de visualizações em vídeos, milhares de seguidores nas redes sociais e um carisma diferente do que poderíamos imaginar ao pensar em um professor falando sobre língua portuguesa. Quem tem tudo isso é Marco Franco Neves, um tiktoker - ou seria um profetoker? - que emplaca viral atrás de viral com produções simples e conhecimento de sobra sobre o nosso idioma.
Marco é Doutor em Línguas, Literaturas e Culturas, com especialidade em Estudos de Tradução, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, além de professor e tradutor. E é com as curiosidades e descobertas que a vida de professor e tradutor proporciona que ele tem conquistado o público, mesmo que não tenha sido de caso pensado.
Tudo começou com um blog e com o incentivo de um dos irmãos. "Ele é programador e estava a dizer que eu devia ter atenção ali ao TikTok. Eu achava que era apenas uma coisa para fazer pequenos videozinhos de danças e mais nada, mas comecei a ver que tinha muita coisa interessante, no Instagram também, e de repente comecei a pensar: 'bem, eu podia falar daquilo que falo em vídeos'. Comecei a fazer algumas experiências e foi mais a própria reação das pessoas que me levou, depois, a fazer cada vez mais, porque reagiam muito e comentavam, perguntavam muitas coisas", com ao DN Brasil.
O professor traz em cada vídeo uma nova informação. Explicações sobre a origem de nomes próprios, como Diogo, Inês e Rodrigo, dados sobre culturas antigas que influenciaram a formação do português de hoje, expressões do dia-a-dia e, claro, diferenças do idioma entre Portugal e Brasil.
Os brasileiros, aliás, têm marcado presença nas interações com Marco. "Nos vídeos há muito diálogo com o Brasil. Ao contrário do que, às vezes, por aí se diz, os brasileiros ouvem os portugueses e, tirando um ou outro caso, percebem. Claro que às vezes aparece uma ou outra pessoa que diz que não consegue compreender exatamente tudo o que eu estou a dizer, mas isso acontece até em Portugal, quanto mais no Brasil. Portanto, as pessoas percebem, sabem qual é o meu sotaque, de onde é que eu venho", diz.
Essa interação transatlantica, na opinião do professor, é enriquecedora para os dois países.
"Às vezes há certas tensões, porque nós temos visões diferentes de certas coisas, mas isso é normal também. Eu acabo por achar que é relativamente saudável que nós comuniquemos, porque se há um problema, ou se houve, e isto é a minha opinião, nas últimos décadas entre Portugal e o Brasil, mais do que a questão das diferenças linguísticas que existem, mas que não são assim tão importantes, é uma barreira que nós não comunicamos-nos uns com os outros, não ouvimos, ou é muito de um lado para o outro em certas áreas. Nós, os portugueses, vimos muitas telenovelas. Os brasileiros, se calhar, até leem alguns autores portugueses, mas é tudo muito unidirecional em cada uma das áreas, e nestes casos do YouTube, das redes sociais, começa a haver aqui um maior diálogo, se quisermos, que eu acho muito interessante", explica.
O professor avalia que há preconceitos em Portugal com relação ao português do Brasil e uma certa indiferença dos brasileiros para com os portugueses.
"Há certas ideias muito gerais, por exemplo, mesmo na minha área de tradução, de que o português do Brasil e o português de Portugal estão separadíssimos, que já são duas línguas completamente diferentes. Às vezes a ideia é tão extrema que eu chego a pensar se as pessoas estão a olhar para o mesmo que eu, porque tenho mesmo a ideia de que o que é uma discussão se o português do Brasil vai ser uma língua separada ou não é uma discussão interessante linguisticamente, mas, na prática, em textos escritos, no que toca à norma, ao uso da norma da língua, nós estamos muito mais próximos do que se calhar as pessoas pensam", argumenta.
Para além de discussões sérias sobre a língua portuguesa, as reflexões do professor garantem boas risadas, até para ele próprio. "Eu no outro dia fiz um vídeo qualquer em que usava a palavra rapariga e tive muitos brasileiros um pouco admirados e um bocadinho assustados", conta, rindo.
Autor de Atlas Histórico da Escrita e Gramática para Todos, Marco, em outubro, lança seu novo livro, ainda um segredo. Até lá, e por muito mais tempo, pretende continuar enriquecendo o mundo virtual com cultura e curiosidades que fazem da nossa língua uma pátria para todos.
caroline.ribeiro@dn.pt