Portugal de oportunidades: Hangus, a loja de carnes que virou bistrô
A soteropolitana Mariana Moreira fala ao DN Brasil sobre sua experiência enquanto empreendedora em Portugal com a gestão da Hangus, “beef boutique” de Cascais
Texto: Nuno Tibiriçá
Nascida em Salvador, Mariana Moreira chegou a Portugal em 2018. Um ano depois, a empreendedora fundou a Hangus Carnes Premium, a qual chama de uma beef boutique, conceito pouco falado em Portugal. Tendo o churrasco como tradição em sua família, Mariana e seu marido, Allan Chan, deram início a aventura na Hangus, loja que desde 2022 conta com um espaço físico que funciona como bistrô e atua em eventos. Ao DN Brasil, fala sobre a experiência de empreender no país e o sucesso da Hangus em Cascais.
DN Brasil: Qual foi o motivo de vocês mudarem para Portugal? Já vieram com a ideia de empreender no país?
Mariana Moreira: Já estamos fora do Brasil desde 2006. Meu marido, o Allan, era executivo e resolvemos vir para Portugal para estudar em 2018, fizemos especializações aqui. Tivemos um ano apenas focando nos estudos, mas depois voltamos ao mercado de trabalho e começou a surgir a ideia de trazer carnes importadas para cá. A Hangus é uma beef boutique, hoje fisicamente localizada em Cascais, que tem esse propósito de trazer carne de qualidade de diversas origens. A gente costuma dizer que a Hangus é uma empresa portuguesa, mas com esse olhar para o que tem de qualidade no mundo. E com esse propósito de trazer a carne, principalmente para estar em volta do fogo, o que a gente mais gosta de fazer.
DN Brasil: Quando abriram oficialmente a Hangus?
Mariana Moreira: Em 2019. Já estávamos aqui há um ano, nesse período de estudos. Na minha família, a gente sempre teve o espírito de celebrar em volta do fogo. E aqui a gente acabou procurando o que fazer e sentimos falta de carne do jeito que a gente gostava. O Allan, o idealizador do projeto, começou a pesquisar sobre as carnes, importação, a conhecer o mercado e surgiu a ideia da Hangus, no primeiro momento digital, fornecendo para consumidores finais. Sempre moramos na linha de Cascais e, por coincidência, os nossos clientes, eram também de Cascais. Durante a pandemia, fizemos nossa primeira beef boutique em Vila Moura. E depois da pandemia, fechamos e abrimos a nossa loja em Cascais. Mas é uma beef boutique. Não somos um restaurante, nem pretendemos ser um restaurante, a nossa intenção é fornecer produtos de qualidade para os melhores momentos de cada família.
DN Brasil: Uma beef boutique é um açougue gourmet?
Mariana Moreira: A beef boutique não é bem um açougue. A gente não tem manipulação nenhuma de carne. Da onde vem a carne, seja da Argentina, seja do Uruguai, Japão, ela é vendida dessa maneira na loja. O máximo que a gente pode fazer é levar para uma indústria e porcionar, dependendo da carne que seja. Então tem uma indústria aqui que faz esse serviço de porcionamento. A gente fala que é uma loja sem sangue. Que é uma loja que vende produtos a vácuo e já para o cliente pegar e levar. Não tem manipulação como no açougue.
DN Brasil: Fornecem também para restaurantes?
Mariana Moreira: Não. Num primeiro momento, lá em 2018, a gente teve os dois clientes. Mas o nosso foco é o consumidor final. É a experiência do consumidor final. E aí a gente foi tirando a restauração, porque a restauração vende ali naquele momento no prato, mas não diz que é Hangus, né? Então a gente não é ser qualquer um, quer ser algo em um momento especial do cliente.
DN Brasil: A ideia sempre foi ser uma beef boutique? Como começaram a atuar em eventos?
Mariana Moreira: A gente não queria churrasco na cozinha, por isso nunca foi a ideia virar um restaurante, queria que realmente o fogo estivesse lá fora, essa é a sensação do churrasco, reunir amigos, estar celebrando. Você não faz um churrasco para alguma coisa triste. Você sempre pensa em algo bem positivo, ou para comemorar, ou para passar um dia com amigos. Até que um dia a Fabi Barcellos nos chamou para participar com uma barraca no Bossa Market e logo depois a Câmara de Cascais nos procurou para participar de mais eventos na Fiartil (Feira do Estoril). Sentimos que os clientes estavam gostando. E por conta dessas experiências, tivemos a ideia de transformar a beef boutique também em um bistrô.
DN Brasil: O que vendem nesse bistrô?
Mariana Moreira: Vendemos o preparado das nossas carnes, mas no método low and slow, que é o cozinhar lento, os defumados, brisket, pulled pork, o cupim, que é uma carne de origem brasileira, feito no pit smoker. Hoje temos também um head chef no comando, numa cozinha de produção, e lá no bistrô é somente a montagem sendo regenerada através do sous vide, que é um método também de cozinhar lento. Então colocamos na beef boutique algumas mesas, tem take away, fazemos encomendas da Short Ribs, a costela, que é algo que pedem muito. E tem o sanduíche de defumado e dois steaks, a vazia e o ribeye.
DN Brasil: Tiveram dificuldades burocráticas para empreender em Portugal?
Mariana Moreira: Falam muito da burocracia, mas nisso eu não vi muitas dificuldades, nesse processo de abertura de empresa. O que eu vejo é que a gente está inserido em uma nova cultura, principalmente o pioneirismo de uma beef boutique, a ousadia de se colocar uma beef boutique, onde há uma cultura muito enraizada do talho, do açougue. Então é completamente diferente. Então teve aquele momento, do “O que é isso? É um restaurante? Por que? Por que aqui não pode manipular?” Então, de burocracia acho que não. Temos um apoio muito grande da Câmara de Cascais, que apoia o empreendedorismo, principalmente o empreendedorismo que valorize o município. Então não teve burocracia, mas mesmo a questão do pioneirismo, e de ser também um município pequeno, não tem aquela dimensão e explosão de pessoas como no Brasil.Então é o tempo inteiro fazendo evento para divulgar para as pessoas conhecerem e entenderem o que é uma beef boutique. E acho que Cascais foi uma escolha muito boa, se adaptou bem ao tipo de negócio.
DN Brasil: Disse que já tiveram uma loja no Algarve. Pretendem abrir em outros lugares de Portugal?
Mariana Moreira: A gente teve uma experiência muito boa lá em Vila Moura e é possível que volte algo para lá sim. Também existem alguns ambientes já mapeados em Lisboa, para identificar algum ponto que também tenha aquilo que a gente acredita que a Hangus possa oferecer. Então sim, temos um business plan com uma rota bem traçada para poder abrir mais unidades da Hangus no futuro.
nuno.tibirica@dn.pt