Por que a água do mar em Portugal é tão gelada?

Texto: Caroline Ribeiro

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a previsão do tempo para os últimos dias de junho ainda é de céu nublado, chuva e descida de temperatura em praticamente todo o país. Embora o verão ainda não tenha trazido sol pleno e calor, o clima de férias, para alguns, já pede praia.

O DN Brasil aproveita este momento de "meia-estação" para responder a uma das perguntas que mais geram comoção entre brasileiros que começam a desbravar o litoral em Portugal: por que a água do mar é tão gelada?

A resposta vem de um especialista que tem gabarito não só pela formação, mas também pela origem. Engenheiro de Pesca e mestre em Ciências Marinhas Tropicais, Belquior Gonçalves nasceu no Ceará - o estado do "verde mar que não tem fim", como diria Fagner - e já viveu em Portugal.

Foi em Aveiro que o cearense tomou o primeiro banho no mar português. "Eu já tinha experimentado águas frias, mas não sabia que era uma água tão fria. A sensação foi de sentir uma pressão nos músculos, muito forte, mas foi de uma refrescância inacreditável", conta Belquior.

Indo para a parte científica, a explicação para a temperatura do mar é simples.

Tem dois fatores principais que regulam essa temperatura. O primeiro são os ventos e o segundo é a salinidade. A água já vem do norte com a temperatura muito fria, das zonas de altas latitudes, da região do Reino Unido, em uma temperatura muito gelada. Em Portugal, é uma zona em que começa a esquentar, mas ainda não se compara ao Brasil. No Brasil, a gente já pega águas muito mais quentes, porque essas correntes já tornam a água com temperaturas muito mais agradáveis, em torno dos 25º, 26º, que é o que a gente também é acostumado ali mais para a região Nordeste. As correntes são basicamente controladas pelos ventos e por essa questão da salinidade, que faz com que camadas de água mais frias permaneçam nessa zona de Portugal e que mantenham também águas mais quentes nessa zona do Brasil, explica o cientista.

E quando algum português diz, com muita empolgação, que "no Algarve a água é mais quentinha". Será que dá pra confiar? "Nesse quesito, a diferença acho que é mais, como é que eu posso dizer, psicológica", diz Belquior, bem humorado.

"Portugal é um país muito pequeno em termos geográficos, você não vai ter uma diferença tão grande, mas, claro, consegue perceber uma diferença. Se você entra, por exemplo, na zona de Aveiro, além da temperatura da água, que é muito mais fria, tem a chegada de massas de ar frias. Quando você vai para o Algarve, que tem todo esse golfo que se forma ali no sul de Portugal e no sul da Espanha, a água recebe menos renovação comparando com outras zonas. Pode ser que isso não seja significativo em termos numéricos, mas em termos de percepção".

A sensação de água mais amena no Algarve é resultado de uma soma de fatores.

"Comparando com Aveiro, que é uma zona que tem um vento que todos os portugueses também sabem, que é um vento conhecido dessa região. Então, quando você vai pro Algarve, esse vento não é tão frio. Você já tem uma zona que o mar começa a estreitar para entrar no Mediterrâneo, em que a água fica, entre aspas, parada ainda mais tempo. Esse pequeno aumento da temperatura já faz com que as pessoas percebam essa diferença e digam que no Algarve é diferente. Mas, já digo, se uma pessoa que vem do Nordeste do Brasil entrar, mesmo que seja no água no Algarve, vai perceber que é uma água bem mais fria ou bem mais fresca, né, como eles falam".

Para quem quer arriscar, Belquior diz que um banho de mar em Portugal vale a pena. "Você sai do mar, principalmente no verão, que é muito quente, revigorado".

caroline.ribeiro@dn.pt