Walter Salles e Fernanda Torres na cerimônia em Los Angeles.
Walter Salles e Fernanda Torres na cerimônia em Los Angeles.DAVID SWANSON/EPA

Opinião. O Brasil no Oscar: e a Língua Portuguesa dançou no palco do mundo

A festa começou no Dolby Theatre, mas seguiu para as ruas. No Brasil, os memes, os tweets e as mensagens de WhatsApp explodiam como confete de Carnaval. E não era para menos.
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* Por José Manuel Diogo

Era uma vez um país onde eu escolhi viver e a cultura transborda como um rio caudaloso, carregando histórias, sotaques e canções. Um país onde a língua portuguesa, essa senhora de múltiplos sotaques, encontrava sua expressão máxima em cinema, literatura e teatro. Um país chamado Brasil.

E foi esse Brasil, gigante em sua criatividade, que dançou nos holofotes do mundo ao ver Ainda Estou Aqui brilhar na noite do Oscar. Como um samba bem ensaiado, o filme de Walter Salles encantou plateias, emocionou críticos e, no momento decisivo, recebeu o prêmio de Melhor Filme Internacional.

Não era só uma estatueta. Era um triunfo coletivo, uma vitória da língua portuguesa, da identidade cultural e da persistência artística. Era o reconhecimento de um país que nunca desistiu de contar suas próprias histórias.

Se havia uma cena digna de filme naquela noite, era a de Fernanda Torres segurando sua indicação de Melhor Atriz e olhando para a plateia. Lá estava ela, filha da icônica Fernanda Montenegro, que há 26 anos pavimentara esse caminho ao ser indicada por Central do Brasil. De repente, não era só Fernanda Torres no palco. Era a mãe. Era a avó. Era a tradição.

Perder o prêmio para Mikey Madison? Ora, quem se importa! Afinal, quando se nasce com uma alma maior que a vida, prêmios são apenas detalhes. O importante era a marca deixada, a trilha aberta para novas gerações de artistas brasileiros.A arte, afinal, é um revezamento, onde cada um leva a tocha um pouco mais adiante.

Mas que festa brasileira seria essa sem Jorge Amado, mesmo que apenas em espírito? No canto do salão, Paloma Jorge Amado, filha única escritor, sorria, celebrando aquele momento. Seu avô, que imortalizou a Bahia e sua gente com palavras, provavelmente sorriria também.

Se a literatura e o cinema foram, por tanto tempo, como dois vizinhos que se olham pela janela, naquela noite eles se abraçaram como velhos amigos. A língua portuguesa, tantas vezes considerada um “idioma pequeno” no cenário global, fazia-se gigante. De Lisboa a Maputo, do Rio de Janeiro a Luanda, cada palavra e cada sotaque pareciam ecoar naquele Oscar.

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A festa começou no Dolby Theatre, mas seguiu para as ruas. No Brasil, os memes, os tweets e as mensagens de WhatsApp explodiam como confete de Carnaval. E não era para menos. A vitória de Ainda Estou Aqui era um samba enredo inteiro de orgulho nacional.

A cultura brasileira não é feita apenas de momentos isolados. Ela é um trio elétrico que nunca para de tocar. Cada livro, cada filme, cada música é uma nota nessa melodia infinita que nos empurra para frente. Um país que, entre tropeços e conquistas, sempre encontra um jeito de brilhar.

Naquela noite, a língua portuguesa não foi só falada. Ela foi sentida. Ela foi celebrada. E, como sempre, ela dançou. Como tao bem Pessoa disse: "O futuro não é algo que se prevê, é algo que se constrói."

José Manuel Diogo
José Manuel DiogoLU SCHADEK

*José Manuel Diogo é escritor, cronista, consultor internacional e produtor cultural. Com uma carreira marcada pela paixão pela língua portuguesa, é autor de obras sobre inteligência, cultura e política. Fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos e idealizador de projetos culturais e literários de impacto global, José Manuel combina sua experiência em jornalismo, gestão e literatura para promover diálogos entre culturas e idiomas. Entre Portugal e Brasil, dedica-se à criação de iniciativas que celebram a língua portuguesa como território de conexão, inovação e identidade.

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicado à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.
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