Opinião: a ApexBrasil em Lisboa pode trazer muito mais que brasileiros para comprar imóveis em Portugal

Texto: Paulo Dalla Nora Macedo, economista

Vender imóveis para brasileiros é muito pouco para Portugal: a oportunidade de verdade está em aproveitar a competitividade e escala das empresas brasileiras, que refletem na alta capacidade delas em levantar capital, para criar negócios conjuntos para o mercado europeu e mundial.

Um importante diferencial é o fato de as empresas brasileiras terem acesso a um dos maiores e mais eficientes bancos de fomento do mundo, o BNDES. O caso da Embraer é um ótimo exemplo.

Há quase vinte anos o setor aeroespacial português começou a se transformar quando o consórcio formado pela Embraer e a European Aeronautic Defense and Space Company (EADS) foi declarado o vencedor no processo de privatização da OGMA - Indústria de Aeronáutica de Portugal S.A. (OGMA).

A partir daí a Embraer iniciou uma história de investimentos em Portugal, sendo um dos principais foi a criação da unidade de engenharia e inovação em Évora, onde a empresa desenvolveu projetos de alta tecnologia em parceria com instituições locais para produzir lá componentes que eram usados nos seus aviões exportados para todo o mundo. Em 2022 essa operação foi vendida para a Aernnova, uma empresa de capital espanhol, mas continuou com a parceira estratégica com a Embraer.

A Embraer também investiu em programas de colaboração com universidades e centros de pesquisa portugueses, visando impulsionar a formação de profissionais qualificados e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras no país. Por tudo isso, a presença da Embraer em Portugal foi fundamental para o desenvolvimento da indústria aeroespacial do país.

A empresa tem contribuído para o avanço tecnológico, a capacitação de profissionais locais e a promoção da inovação no setor aeroespacial em Portugal. Além disso, a presença da Embraer no país tem gerado empregos qualificados e impulsionado a economia local.

Hoje o setor aeroespacial em Portugal exporta mais que o dobro das exportações de vinhos do país, que se situa em torno de um bilhão de euros. O setor também gera mais de vinte mil empregos qualificados, um número relevante para a economia local.

Com o impulso a partir da Embraer, empresas portuguesas do setor aeroespacial exportam componentes, sistemas e serviços para diversas empresas internacionais, contribuindo fortemente para a balança comercial do país. A ascensão desse setor em Portugal não seria possível sem um investidor âncora.

Como esse, muitos outros casos podem existir em setores onde o Brasil tem empresas de atuação global, com potencial de injetar escala e capital em ecossistema competitivos de Portugal, como setor de inovação e tecnologia. A recente entrevista do Presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, ao DN Brasil, foi animadora porque indica essa visão de juntar as vantagens competitivas dos dois países para ganho mútuo.

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