Assine a Newsletter

Sucesso! Verifique a sua caixa de E-Mail

Para completar a Assinatura, clique no link de confirmação na sua caixa de correio. Se não chegar em 3 minutos, verifique por favor a sua pasta de Spam.

Ok, Obrigado

Opinião. Brasil no BRICS: A Nova Ordem Multipolar e os desafios para os laços com Portugal

"O papel do Brasil nesse cenário é crucial, especialmente em relação às suas implicações para países historicamente aliados, como Portugal".

DN Brasil profile image
por DN Brasil
Opinião. Brasil no BRICS: A Nova Ordem Multipolar e os desafios para os laços com Portugal
Cúpula dos BRICS foi realizada recentemene. Foto: Itamaraty

Texto: Dr. Fernando Amorim

Nos últimos anos, assistimos a uma transformação significativa na estrutura do poder global, impulsionada pelo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e pelo crescente protagonismo do Sul Global. O que começou como um esforço para fortalecer a voz dos países emergentes tornou-se uma força renovadora no sistema internacional. A recente cimeira do BRICS em Kazan, na Rússia, destacou essa ambição ao debater a criação de uma moeda própria para o bloco, iniciativa que desafia o domínio do dólar e sinaliza o avanço de uma ordem multipolar.

Ao contrário do confronto direto que caracteriza muitas abordagens ocidentais, o BRICS parece inspirar-se no Weiqi, um jogo de estratégia chinês, mais conhecido com Go, que privilegia avanços graduais para cercar e capturar, em vez de confrontos imediatos. Nesse contexto, a influência da China dentro do BRICS é especialmente notável. Iniciativas chinesas como a Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative) e a Rota da Seda Digital (Digital Silk Road), embora não sejam projetos do BRICS em si, exemplificam como um membro do bloco utiliza estratégias de expansão económica e infraestrutura para fortalecer laços com o Sul Global. Essas ações não apenas beneficiam a China, mas também criam oportunidades para os demais membros se integrarem a novas rotas de comércio, investimento e evitar sanções económicas, contribuindo para a visão coletiva de uma ordem multipolar.

O papel do Brasil nesse cenário é crucial, especialmente em relação às suas implicações para países historicamente aliados, como Portugal. Como uma das maiores economias do Sul Global e potência regional, o Brasil emergiu como um articulador dessa nova ordem. O seu alinhamento estratégico, que tradicionalmente é independente, agora influenciado por parcerias dentro do BRICS tende a distanciar-se do modelo euro-atlântico. Portugal, por sua vez, mantém compromissos firmes com a União Europeia e a NATO, o que define a sua política externa e limita a flexibilidade para abraçar mudanças paradigmáticas.

A estratégia discreta e paciente do BRICS, reforçada pelas iniciativas individuais dos seus membros, pode não ser imediatamente percebida como desafiadora pelo Ocidente. No entanto, ao oferecer aos países emergentes oportunidades de cooperação fora das normas tradicionais, o bloco está gradualmente reconfigurando o panorama económico mundial. O Brasil, ao colaborar e beneficiar-se dessas dinâmicas, fortalece a sua influência regional e influência global, além de aproveitar de novas alternativas financeiras e comerciais, contudo apesar dos laços culturais e históricos existentes, pode gerar tensões que danifiquem a sua ligação com Portugal.

Para a comunidade luso-brasileira em Portugal, esse possível distanciamento entre os dois países traz implicações significativas. O aprofundamento das divisões entre o Ocidente e o BRICS pode impactar políticas de imigração, investimentos bilaterais e o quotidiano da diáspora, situada na intersecção dos interesses de ambos os Estados. Transações comerciais e financeiras podem ser afetadas, especialmente se o BRICS avançar com iniciativas de desdolarização e promover o comércio em moedas locais, contribuindo para uma fragmentação da economia global.

Essa nova realidade exige que a comunidade luso-brasileira esteja atenta e se adapte às possíveis mudanças geopolíticas e geoeconómicas. À medida que membros do BRICS, como a China, expandem as suas iniciativas internacionais e que o bloco consolida práticas comerciais alternativas, as condições de vida dos cidadãos de ambos os países podem ser alteradas. Num contexto em que as relações comerciais estão intrinsecamente ligadas a alianças políticas, a continuidade dos investimentos bilaterais e das políticas de reciprocidade pode ser comprometida, afetando áreas cruciais como educação, trabalho e mobilidade.

Neste contexto, a ascensão do BRICS, para o Brasil, representa uma oportunidade histórica de ampliar a sua influência e fortalecer a sua voz no cenário global. No entanto, trará o desafio de equilibrar os laços históricos com Portugal, que tem as suas obrigações com a União Europeia e a NATO. Num mundo em transição, a capacidade de interpretar mudanças geopolíticas e navegar por complexidades emergentes será fundamental para enfrentar desafios e aproveitar as oportunidades proporcionadas pela nova ordem global.

Fernando Amorim é cientista político e pesquisador em relações internacionais e comunicação e ativismos, tendo como foco a Digital Silk Road e Implicações da Belt and Road Initiative na América do Sul. É de Curitiba, mas vive fora do Brasil a 20 anos, sendo destes 14 nos EUA e seis em Portugal.

Leia também

Uma nova ordem mundial?
O “bolsonarista moderado”
DN Brasil profile image
por DN Brasil

Assine a nossa Newsletter!

Todas as semanas uma newsletter com temas atuais que dialogam com a comunidade imigrante de Portugal.

Sucesso! Verifique a sua caixa de E-Mail

To complete Subscribe, click the confirmation link in your inbox. If it doesn’t arrive within 3 minutes, check your spam folder.

Ok, Obrigado

Ler Mais