Assine a Newsletter

Sucesso! Verifique a sua caixa de E-Mail

Para completar a Assinatura, clique no link de confirmação na sua caixa de correio. Se não chegar em 3 minutos, verifique por favor a sua pasta de Spam.

Ok, Obrigado
"O Brasil é a base da grandeza da Universidade de Coimbra", diz vice-reitor para Relações Externas
Professor doutor João Nuno Calvão da Silva. Foto: Divulgação

"O Brasil é a base da grandeza da Universidade de Coimbra", diz vice-reitor para Relações Externas

O DN Brasil entrevistou o vice-reitor para as Relações Externas e Alumni da Universidade de Coimbra, professor doutor João Nuno Calvão da Silva. O docente fala da relação da instituição com o Brasil, que existe desde o período colonial.

DN Brasil profile image
por DN Brasil


Texto e entrevista: Rayssa Iglesias

A escolha de Portugal como destino acadêmico para estudantes brasileiros aumentou 123% nos últimos cinco anos. De acordo com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) do Ministério da Educação de Portugal, cerca de 19 mil alunos brasileiros estão inscritos no ensino superior do país, o que representa 27,5% do total de alunos estrangeiros nas universidades portuguesas.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, 23% dos vistos solicitados no Brasil foram para fins estudantis em 2023. Os estudantes chegam a Portugal para licenturas, mestrado, doutorados, estágios ou intercâmbio. Os cursos mais procurados são Direito, Engenharia Civil, Sociologia, Economia, Arquitetura e Relações Internacionais. Atualmente, mais de 50 universidades portuguesas aceitam a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), como critério de admissão. Esse procedimento simplifica o ingresso na universidade e a solicitação de visto de estudante.

A prestigiada Universidade de Coimbra (UC) destaca-se como um exemplo de integração e atração de brasileiros. Foi pioneira em Portugal ao adotar a nota do Enem como critério de admissão e é a instituição do país com o maior contingente de estudantes brasileiros. O DN Brasil entrevistou o vice-reitor para as Relações Externas e Alumni da Universidade de Coimbra, professor doutor João Nuno Calvão da Silva. O docente fala da relação da instituição com o Brasil, que existe desde o período colonial.

A Universidade de Coimbra é considerada a maior “universidade brasileira” fora do Brasil. Quantos brasileiros estão matriculados atualmente?

Um número mais ou menos rigoroso é de cerca de 2.500 estudantes brasileiros. Entre estudantes do chamado primeiro ciclo, designados por licenciatura, mestrados e, sobretudo, doutoramentos, e os estudantes de mobilidade - aqueles do intercâmbio académico e suas diversas modalidades. Para uma universidade com 25 mil estudantes, somos proporcionalmente a maior universidade brasileira fora do Brasil.

Como é para a Universidade de Coimbra receber tantos brasileiros?

É sempre uma grande honra. Porque é estarmos à altura da nossa história. Nós temos 734 anos de história, somos chamada de Alma Mater das Universidades de Língua Portuguesa, porque éramos a única universidade não só de Portugal, mas de todos os países de língua oficial portuguesa. Durante a história, o Brasil é a base da nossa grandeza, sem dúvida nenhuma.

Como a UC esteve presente na história do Brasil?

De acordo com os melhores historiadores, todas as lideranças que estruturaram em termos de organização objetiva o Brasil, as capitanias etc., eram antigos estudantes de Coimbra, e esse traço seria a chave para a identidade una do Brasil. Podia ser mineiro, baiano ou carioca, mas todos sentiam-se parte da mesma casa-mãe que era a Universidade de Coimbra. E isso gerava ali uma cumplicidade que terá justificado que o Brasil é um país uno em contraposição às Américas Espanholas. Outra questão é que as lideranças políticas e diplomáticas do Brasil, os grandes nomes da cultura, passaram cá, incluindo o próprio Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva. Há toda uma história com o passado, com o presente, e que eu espero, com o futuro. Aproveito para dizer que para nós é muito importante que o Brasil esteja cada vez mais estabilizado, com menos polarização, porque quanto mais forte estiver o Brasil, mais forte estará Portugal e, seguramente, mais forte estará a Universidade de Coimbra.

Quais são os principais motivos pelos quais os estudantes brasileiros escolhem a Universidade de Coimbra em Portugal?

Só seremos competitivos e atrativos aos estudantes brasileiros se tivermos uma história, hoje, no presente e para o seu futuro, da excelência. Seguramente, temos uma universidade que tem todas as áreas do saber, temos oito faculdades, todas elas com grandes investigadores e grandes professores. Temos reconhecimento internacional nos grandes rankings, estamos nas 500 maiores do mundo e na Faculdade de Direito, somos uma das 125 melhores do mundo. É essa história que se faz hoje no presente, que permite honrar a marca que nós temos.

Em 2024, fazem 10 anos que a UC passou a aceitar a nota do Enem, sendo também a primeira universidade de Portugal a usar este critério de admissão. O que motivou a decisão?

Foi uma aposta estratégica do anterior reitor, o professor João Gabriel Silva, que tinha como vice-reitor Amílcar Falcão, o atual reitor, com a pasta de investigação. Foi uma aposta bem-sucedida, muito importante para a Universidade de Coimbra. Mais do que ser de grande importância estratégica, julgo que é também uma forma de mostrar a Portugal, aos países de língua portuguesa, mas sobretudo, mostrar ao nosso povo irmão brasileiro, que confiamos neles. Porque no fundo esse reconhecimento do Enem é também uma prova da confiança que nós depositamos no Brasil e em seus procedimentos e métodos.

Há alguma dificuldade de adaptação do estudante brasileiro ao ingressar nos estudos em Portugal?

Eu digo sempre nas sessões de acolhimento de estudantes que não é a mesma coisa estarmos na nossa terra, com a nossa família, com os nossos amigos de sempre. Eu também estudei fora - Bélgica, Itália - e obviamente não me sentia como quando estou com minha família. Mas esse é o grande desafio de sairmos. É o que nos enriquece mais como pessoas, é o que nos permite conhecer mais culturas. Nós somos povos irmãos, temos uma história em comum. A língua que nos une a todos, as parecenças que temos a nível cultural. Obviamente que nem tudo corre bem, como nem tudo corre bem com outras nacionalidades, ou com os próprios portugueses que vêm estudar do Porto, de Lisboa, de Algarve, de Viseu para cá.

Como é feito o acolhimento e integração de alunos brasileiros na Universidade de Coimbra?

Fazemos sessões de acolhimento de estudantes, de boas-vindas, em que até trago antigos estudantes de Coimbra, portugueses ou estrangeiros, para dar a sua própria experiência e assim promover esse diálogo entre gerações. Apresentamos diversas informações úteis em relação a serviços e temos uma equipa a trabalhar com canais de contacto via e-mail e Skype permanentemente. Temos uma Casa da Lusofonia para os alunos realizarem atividades, fazerem as suas reuniões, que eu apoio como vice-reitor pela pasta das relações exteriores, trazendo prestigiados nomes do Brasil. Ainda o último que veio aqui: ministro Gilmar Mendes. Quer dizer, fazemos de tudo para serem bem acolhidos. Somos um povo hospitaleiro e temos um especial cuidado para garantir que haja tolerância e inclusão. Estudam entre nós cerca de 120 nacionalidades diferentes e este número alargado de estudantes estrangeiros ao longo dos tempos, essa história secular da universidade, mostra que a integração é uma preocupação principal, sabemos acolher, e eu quero é que mais e mais sejam bem-vindos.

Além da integração e adaptação cultural, alguns casos de xenofobia podem surgir. Como a Universidade de Coimbra trata essas situações?

Eu acho que em geral Portugal não é um país xenófobo. Obviamente haverá casos, como há no resto do mundo, e é algo que nós temos de ter muito cuidado com casos comprovados de xenofobia, intolerância e racismo. A Universidade de Coimbra tem os seus canais de denúncia, tem uma provedoria do estudante, e condena veementemente esses casos. Não serão tolerados e terão as sanções disciplinares devidas. Uma instituição que se preze não pode ser de outra maneira.

As propinas para estudantes internacionais e nacionais apresentam uma grande diferença, sendo 697euros para nacionais e 7 mil euros para internacionais. Como isso é justificado pela Universidade de Coimbra?

As universidades portuguesas vivem um momento difícil e essa foi uma possibilidade que o Estado português facultou em 2014, de conseguir financiamento adicional - referente ao Estatuto do Estudante Internacional aprovado no mesmo ano -, e permite a diferenciação da propina, porque não há um financiamento público suficiente para podermos acolher estudantes como desejaríamos. A Universidade de Coimbra fixou-se nesse valor - € 7000. Não seria, seguramente, aquilo que eu, como vice-reitor, desejaria. Mas há outras preocupações de ordem económica a pensar: pagamento de professores, de investigadores, dos funcionários e manutenção da casa. Infelizmente é um conjunto de preocupações que as universidades portuguesas não podem deixar de atender e que justifica este estado das coisas.

Quais são os benefícios para os estudantes brasileiros ao obterem um diploma da Universidade de Coimbra?

O facto de sermos extremamente reconhecidos por este mundo afora, de termos um nome muito forte nos países de língua oficial portuguesa e isso abrir portas, de estarmos como EC2U - Campus Europeu de Cidades Universitárias - e participarmos na primeira linha da federalização do ensino superior na Europa, permite que os estudantes brasileiros saiam mais fortes e tenham um mundo de oportunidades profissionais e de empregabilidade qualificada e bem reconhecida.

Qual conselho daria para um estudante brasileiro que sonha em estudar em Coimbra?

Eu diria que devem ler o Diário de Notícias e o seu suplemento, o DN Brasil, risos. Coimbra é uma cidade muito hospitaleira, onde se consegue ter um relacionamento com os estudantes todos. Está muito perto de Lisboa e do Porto, tem praia aqui ao lado, que dá todo um conjunto de valências em viver nesta cidade. A vivência universitária, com uma grande associação académica, a estrutura representativa dos nossos 25 mil estudantes, com a possibilidade de desenvolver atividades esportivas, culturais, de cantar e tocar fado. Toda uma vivência extra-académica que marca a diferença de Coimbra em relação a qualquer outra universidade em Portugal e no mundo. Esta experiência de Coimbra, enquanto cá passam, as pessoas não esquecem e recordam com saudade. Portanto, só posso dizer a todos os estudantes brasileiros que nos visitem, porque vão gostar, e vamos continuar assim a reforçar nossa história centenária.

dnbrasil@dn.pt

Relacionadas

Beabá da educação: o que as crianças levam para as creches em Portugal?
Babetes, toalhitas, biberões e bibes são termos que toda família precisa aprender quando matricula crianças em creches portuguesas. Diferente do Brasil, por aqui, via de regra, apenas ítens de uso pessoal são solicitados pelas instituições.
Aluna lança pesquisa sobre a discriminação linguística nas escolas
Investigação feita em parceria com a Casa do Brasil aborda temas como discriminação, dificuldades nas aulas e falta de integração na sociedade portuguesa.
DN Brasil profile image
por DN Brasil

Assine a nossa Newsletter!

Todas as semanas uma newsletter com temas atuais que dialogam com a comunidade imigrante de Portugal.

Sucesso! Verifique a sua caixa de E-Mail

To complete Subscribe, click the confirmation link in your inbox. If it doesn’t arrive within 3 minutes, check your spam folder.

Ok, Obrigado

Ler Mais