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"Nosso poder aquisitivo aqui é muito melhor”: a história de um encarregado de obras em Portugal
Francis Campos está prestes a comprar uma casa em Portugal. Foto: DR.

"Nosso poder aquisitivo aqui é muito melhor”: a história de um encarregado de obras em Portugal

“Não tenho saudade do Brasil. Lisboa é linda, o país é fantástico e acredito que, mesmo com os problemas de xenofobia que tive, a maioria das pessoas são muito boas”, diz.

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por DN Brasil

Na sala de sua casa em Póvoa de Santa Iría, a 20 quilômetros do centro de Lisboa, Francis Campos fala com orgulho e sem arrependimentos de sua trajetória enquanto imigrante. Em Portugal desde 2021, o paraibano nascido em João Pessoa conta que nem o pouco familiar frio rigoroso do inverno europeu é um fator que o incomoda. “Adoro esse tempo daqui. Na minha vida inteira tive que conviver com 35 graus quase diariamente”. Campos deve sua vida profissional ao calor de João Pessoa. Lá, ele trabalhava como técnico em refrigeração.

Poucos brasileiros que chegam a Portugal conseguem emprego imediatamente em sua área de especialização. Francis deu sorte. Foi recebido em Lisboa por um primo que já vivia em Portugal junto com seu filho. No mesmo dia, o trio almoçava e conversava na praça de alimentação de um centro comercial e o sotaque chamou a atenção de um outro brasileiro, vestido com roupa de obra, que pediu para compartilhar a mesa. Na conversa, Francis descobriu que o companheiro de almoço também trabalhava com refrigeração.

No dia seguinte, Francis foi apresentado ao brasileiro Luís Couto, dono de uma empresa de refrigeração. Em dois dias já estava a trabalhar em Lisboa. Couto ajudou-o a conseguir os documentos básicos para trabalhar em Portugal, o NIF (equivalente ao CPF brasileiro), o NISS (inscrição na Seguridade Social) e também a abertura de uma conta bancária.

“Cheguei com 600 euros no bolso. Não sabia que era tão pouco”, diz Francis. “A sorte foi que comecei a trabalhar como peão logo quando cheguei. Eu era o faz-tudo mais preparado que você pode imaginar. Trabalhei quatro meses sem parar, morando num quartinho, para poder trazer a minha esposa e filhas para cá. Não me arrependo de nada. Era um sonho nosso”, conta.

Depois do sucesso inicial, Francis começou a sentir os primeiros problemas. No dia a dia do trabalho, a discriminação foi algo a ser encarado.“Eu era chamado de burro, diziam que eu não sabia falar. No começo eu sofri muito. Era uma humilhação. Eu chorei muito e cheguei até a falar para a Camila, minha mulher, que ia voltar”, conta. Nada disso o fez esmorecer. Mudou de emprego, para uma fábrica de cerveja, enchendo latas e garrafas. Em algumas semanas, trabalhava da meia-noite às 8h da manhã: “Envelheci uns bons anos com essa rotina”, lembra.

Vítima de xenofobia

A chegada da mulher e das duas filhas, quatro meses depois, ajudou-o a estruturar a vida. Acabou por voltar ao primeiro trabalho com Couto, mas agora num cargo de chefia: encarregado de obras. Sua relação com os colegas mudou. “Acho que a questão da xenofobia pode estar muito ligada à questões sociais”, analisa Francis. “Minha mulher, por exemplo, trabalha em uma escola como cuidadora e nunca passou por isso com professores. E eu, quando virei encarregado, também passei a ter muito menos problemas. Mas, no começo, foi muito duro. E olha que eu sou branco. Fico imaginando o que as pessoas pretas passam aqui”, ressalta.

O valor das casas na região metropolitana de Lisboa é um dos maiores problemas do país, avalia Francis. O imigrante conta que já chegou a ouvir um proprietário pedir 12 meses adiantados pelo aluguel de uma casa: “Com brasileiros eles abusam mais ainda. Ficam pedindo um monte de coisa desnecessária”, complementa.

Apesar das dificuldades com a renda e de sentir-se vítima de xenofobia, considera que o poder de compra que Portugal proporciona uma vida mais fácil por aqui para os trabalhadores. “Se eu quero comprar uma televisão aqui, eu vou lá e compro à vista uma de 40 polegadas por 200 euros. No Brasil, uma televisão dessas custa 3500 reais, que eu tenho que dividir em 24 vezes, e, no final das contas, eu vou pagar uns 6000 reais. Nosso poder aquisitivo aqui é muito melhor”, destaca. “A feira aqui também é melhor, a comida é melhor, eu consegui mobiliar minha casa, comprar os eletrodomésticos, essas coisas não tem preço. Fora a segurança também, claro”, argumenta.

Já com mobília na casa alugada, Francis colocou à venda o apartamento em João Pessoa para dar entrada num financiamento de uma casa em Portugal e fincar de vez os pés em terras lusitanas. “Não tenho saudade do Brasil. Lisboa é linda, o país é fantástico e acredito que, mesmo com os problemas de xenofobia que tive, a maioria das pessoas são muito boas”, diz. “A única coisa que me faz falta é a cachaça da Paraíba. E um cajuzinho...”

nuno.tibirica@dn.pt

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