"Nossa história está completamente atrelada à de Portugal", diz presidente da Apex Brasil
"Na Web Summit, percebi que o ecossistema de startups em português é uma coisa incrível, é uma referência no mundo, muito maior que o do Brasil".
Entrevista: Amanda Lima e Paulo Markun
O engenheiro florestal Jorge Viana tem 64 anos e é presidente da Apex – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos desde o início do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, foi governador e senador pelo Acre, prefeito de Rio Branco e 1.º vice-presidente do Senado Federal. Seu projeto para a Apex inclui a instalação de uma base da agência em Lisboa, a 12ª em todo o mundo. A Apex não virá sozinha, mas junto com o Sebrae, a Embratur e a Fiocruz, num prédio em Lisboa já cedido pelo governo português, onde funciona o Ministério da Integração Territorial.
O que será essa Casa Brasil em Lisboa?
Um espaço conjunto dessas organizações brasileiras que querem desenvolver um trabalho mais estreito com Portugal. Nós pretendemos também fazer uma parceria com o setor privado, de modo a desenvolver a melhor maneira de estreitar relações com o país, que é o lado da cultura, da gastronomia às artes. E a ideia é fazermos uma adaptação no prédio para termos um espaço para lançamento de livros, para exposições. Há também a decisão da APEX de ter uma incubadora de startups nesse prédio. A ideia é internacionalizar as startups. Na Web Summit, percebi que o ecossistema de startups em português é uma coisa incrível, é uma referência no mundo, muito maior que o do Brasil. E a Apex vai trabalhar um programa novo focado em ser um endereço para as startups que queiram trabalhar a temática das exportações, se internacionalizar.
O que a Apex Portugal pode oferecer?
Portugal é o país com que temos a maior afinidade cultural, a história nossa está completamente atrelada a Portugal, a língua, e se tem um país no mundo que nós temos que estar muito, muito perto, é Portugal. E além do mais nós temos a CPLP, isso também é uma motivação. Vamos reforçar, com a presença da Apex, essa conexão do Brasil com a Europa e os países de língua portuguesa a partir dessa sede.
O que faz exatamente a Apex?
Ela é a agência, como todo o país tem, responsável pela promoção dos produtos das empresas brasileiras. Então, uma das missões nossas é a promoção dos negócios brasileiros. E a outra é a atração de investimentos. Nós vamos chegar a onze representações em outros países, Portugal terá a décima segunda. E nós pretendemos ainda ter Singapura ainda este ano, porque a Ásia é um lugar importante. A Apex no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), em 2003, foi o presidente Lula que criou. Ultimamente, com a extinção do ministério, foi para o Itamaraty e agora voltou ao ministério. Mas eu falo sempre que nós voltamos para o MDIC, mas não saímos do Itamaraty. Porque tem que ter uma conexão muito intensa da Apex com os setores de promoção comercial das embaixadas. Tem sido muito gratificante trabalhar com o vice-presidente ( e ministro da Indústria e Comércio) Geraldo Alckmin, que foi quatro vezes governador de São Paulo. O Brasil abriu 89 mercados até agora, desde o começo do governo do presidente Lula. E a gente deve muito à ação do ministro (Carlos) Fávaro (Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O Brasil voltou com muita força para o cenário internacional. Quebramos recordes o ano passado. Nós alcançamos quase 100 bilhões de dólares de saldo na balança comercial. O maior que nós tínhamos chegado foi em 2022. Há 10 anos atrás girava em torno de 62 bilhões. Quase dobrou. E olha que o ano passado foi muito crítico. Porque os investimentos no mundo caíram quase 30%. O preço das commodities caiu também. O petróleo caiu 17% e nós somos hoje um exportador de petróleo. Os grãos caíram 21%. E as carnes também caíram. Mas mesmo com essas quedas, nós ainda tivemos um crescimento. E o maior saldo comercial da história.
O senhor já foi prefeito, governador, senador, trabalhou na iniciativa privada. Como se define agora na Apex? É um vendedor?
Quem vende o país é o governo ou o seu líder. E o presidente Lula demonstrou isso no primeiro e no segundo mandato. E demonstra agora de novo, que ele é o maior vendedor do país. Ninguém pode chegar perto.
O Brasil andou ausente do mundo nos últimos tempos. Isso afetou o comércio?
Perdemos o mercado. Não dá para misturar as coisas. E o Brasil misturou muitas coisas nos últimos anos. O Brasil tem que mirar um fluxo, pelo tamanho que tem o país, da ordem de um trilhão de dólares nos próximos anos.
E o que pode fazer o Brasil em Portugal, nesse contexto?
Tenho uma relação com o presidente Lula de 40 anos e ele me disse: “Ô Jorge, nós temos que retomar a boa relação entre esses dois países.” Quando o presidente esteve aqui, ficou clara a necessidade de se ter o Banco do Brasil de volta aqui. Era um dos mais importantes bancos aqui na região, e mais do que nunca, com o número de brasileiros aqui que passa de 700 mil pessoas, é fundamental.
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