Influenciadores: brasileiros contam na internet a adaptação ao país
“Imigrar não é uma tarefa fácil, requer planejamento e responsabilidade, mas no final ainda vale a pena".
Texto: Rayssa Iglesias e Gisele Rech
Entre os imigrantes brasileiros que se estabeleceram em Portugal nos últimos anos, não faltam casos daqueles que decidiram, através das redes sociais, contar um pouco sobre como é a vida por aqui. O DN Brasil entrou em contato com alguns influenciadores brasileiros na terrinha que, dentre outras coisas, compartilham em redes como Youtube, Instagram e Tik Tok, atalhos, dicas e os prós e contras de viver em Portugal.
Confira a lista de infuenciadores selecionada pelo DN Brasil
De empregado a empregador
Rodrigo Sangelo chegou ao país em dezembro de 2017, com os seis filhos e a esposa, Mércya. No YouTube, ele grava sua rotina, seu trabalho e fala um pouco de tudo sobre a vida em Portugal, desde política, trabalho, dicas para novos imigrantes e sobre a família. Alguns vídeos do canal Rodrigo Sangelo contam com mais de 600 mil visualizações, enquanto no Instagram, Rodrigo já tem mais de 165 mil seguidores.
“Imigrar não é uma tarefa fácil, requer planejamento e responsabilidade, mas no final ainda vale a pena. Como todo imigrante, tive que enfrentar adaptação no trabalho e dos filhos na escola. Com os valores de arrendamentos elevados, decidimos mudar para Leiria. Trabalhei na construção civil como ajudante e minha esposa em limpeza e lares para idosos. Nosso sonho era oferecer uma vida melhor para a família e não desistimos, porque tínhamos em mente que Portugal era o país que iria nos proporcionar qualidade de vida. Hoje somos empreendedores no ramo da construção civil e da restauração, o que fez valer a pena tudo que ficou para trás”. (Rodrigo Sangelo)
Incentivo sem romantismo
A carioca Adriana Manaças emigrou em 2021 e vive em Odivelas com o marido Bruno e duas filhas gêmeas, Júlia e Jéssica, de 24 anos. Adriana trabalha em uma loja e Bruno em uma fábrica, de onde tiram o sustento para alimentar o sonho de viver em Portugal. O canal Bora com tudo Portugal, tem 15 mil inscritos e é levado muito a sério, com direito a reunião de pauta e diálogo constante com as fontes, em geral, os próprios seguidores do canal.
“No início passamos por um período de adaptação em Lisboa, que correu bem. Gostamos da comida, da cultura e nunca passamos por episódios de xenofobia. Como percebemos que muitos brasileiros estavam vindo sem preparação, decidimos partir para um canal no YouTube - o Bora com Tudo Portugal para ajudar quem quer emigrar. Damos apoio moral, mas, também reforçamos como é importante se preparar e entender os detalhes burocráticos. Não romantizamos a cena, somos realistas e partilhamos aspectos cotidianos que podem facilitar o cotidiano de quem quer vir para Portugal”. (Adriana Marques)
Tudo controlado ao milímetro
Vanessa Althman mora no país desde 2018, quando saiu de Americana, no interior de São Paulo, para conquistar uma vida melhor. Mora em Monção, no Alto Minho, com o filho Marcellinho, a filha Valentina e o marido. Hoje, além de trabalhar em uma fábrica, grava vídeos sobre compras do supermercado, dicas de economia, viagens e lazer e qual custo de vida no país. O canal de Vanessa Althman no Youtube tem vídeos que contam com mais de 130 mil visualizações, enquanto no Instagram, ela reúne 145 mil seguidores.
“No início foi muito difícil, conseguimos um T0 por €600, enquanto eu trabalhava em um café na baixa do Porto 10 horas por dia, para ganhar um salário mínimo - na época €580 euros. Meu marido arrumou um trabalho na obra, trabalhou um mês e não recebeu nada. Depois, começou a trabalhar na Uber Eats e isso nos ajudou. Moramos um ano no Porto, pagando uma renda alta, mas não sobrava nada. Pensamos voltar para o Brasil. No entanto, queria uma educação melhor para nosso filho, por isso não aceitava não conseguir. Mudamos para Monção, arrumamos um T3 por €320 euros, tivemos uma filha e hoje trabalhamos em uma fábrica, emprego que o título de residência nos permitiu ter. Assim fomos construindo nossa história e tudo o que temos hoje”. (Vanessa Althman)
Guilherme na Europa (in Memoriam)
Guilherme Gutman faleceu em junho deste ano. Antes de partir, viveu intensamente, rodeado pela família em Braga, cidade onde se mudou em 2021 com a esposa. O objetivo era perto dos netinhos, Ana Clara, Maria Júlia e Francisco, que nasceu em Portugal, do filho Bruno e da nora Ingrid. Apaixonado por história, publicava verdadeiras aulas no canal sobre o tema. O Guilherme na Europa foi mantido, como um legado de Guilherme.
“Tudo começou durante a pandemia, quando passei a viver definitivamente em Braga. As minhas netas, Ana Clara e Maria Júlia, que vieram primeiro com meu filho Bruno e a nora Ingrid, só tinham estudado a história do Brasil e precisavam aprender sobre a de Portugal. Comprei mais de 40 livros e fiquei deslumbrado com informações que não aprendemos nas escolas brasileiras. Decidi, então, partilhar este conhecimento com amigos e familiares que estavam no Brasil pelo YouTube, em 2021. Foi assim que surgiu o Guilherme na Europa. No início do projeto, contei com o apoio do meu filho e do amigo Pedro Lício para explorar a história de Portugal”. (Guilherme Gutman)
O sonho da casa própria
Laisa Rodrigues e sua família, a Delatorre, saíram de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, para morar no Algarve. Hoje tem a sua casa própria na cidade de Abrantes, a 145 quilômetros de Lisboa . A brasileira e o marido possuem um canal no YouTube para dar dicas para imigrantes, compras de supermercado e contam passo a passo da trajetória para conseguirem a casa própria. O canal da Familia Delatorre tem mais de 63 mil inscritos e o vídeo da compra da casa mais de 40 mil visualizações.
“O que nos motivou a comprar uma casa foi o preço do arrendamento - €600 - pelo lugar que morávamos. Economizámos ao máximo por sete meses, trabalhamos muito em um emprego fixo e empregos extras para juntar dinheiro mais rápido. Não é fácil! Não comprávamos nem roupas, apenas para as crianças - para nós era raro. O foco era comprar a casa, não deixamos nada, nem ninguém nos distrair. E precisava ser uma casa bem localizada, porque somos imigrantes, assim, se um dia quisermos voltar para o Brasil, podemos alugar. Assistimos a vídeos no YouTube, e conhecemos a cidade de Abrantes. Gostamos muito e começamos a pesquisar alguns apartamentos por lá. Dois meses depois assinamos a escritura”. (Laisa Rodrigues)
Este texto está na edição impressa do DN Brasil do mês de outubro, junto com a edição da segunda-feira (7) no Diário de Notícias.