Maria Maia e o sucesso do Queijo Coalho Portugal: "Não é só comida, é a saudade"
Ao DN Brasil, a recifense que inaugurou a loja conta sobre como seu empreendimento virou uma referência de produtos nordestinos em Portugal.
Texto: Nuno Tibiriçá
A recifense Maria Maia ainda tinha negócios no Brasil quando se mudou para Braga, há dez anos. Quando voltava para sua terra natal, tinha uma especialidade de sua região e que é patrimônio cultural e material de Pernambuco que não poderia ficar fora da mala na hora do retorno para cá: o queijo coalho.
Em uma dessas idas e vindas, Maria acabou por, na correria da viagem, não conseguir trazer o tal queijo. A solução foi então produzir o seu próprio aqui mesmo, artesanalmente. Hoje, a empreendedora que criou a loja Queijo Coalho Portugal tem no produto o seu negócio de sucesso na Europa.
"Quando cheguei aqui, na verdade, minha ideia não era ter um negócio de queijo, mas foi só esquecer o 'mercadinho', que isso virou uma possibilidade. Eu amo todos os tipos de queijo e aqui na Europa tem muitas variações, mas o queijo coalho é uma paixão do brasileiro. Aí fiz para o meu marido, para um amigo, uma outra amiga... e aí quando me falaram que queriam comprar meu queijo, eu pensei: vou abrir uma fábrica", relembra Maria em conversa com o DN Brasil.
A pernambucana abriu a fábrica no Norte de Portugal em 2016, mas o Queijo Coalho Portugal não foi o primeiro empreendimento em Braga: primeiro, Maria montou uma fábrica das famigeradas paletas mexicanas, musts no Brasil no início dos anos 2010 e que até viraram tema de sketch do Porta dos Fundos. Em Portugal, a moda ainda não tinha pegado e mesmo que o negócio estivesse indo bem - chegaram a ter quiosques em dois shoppings - foi o saudoso queijo coalho que fez a empreendedora atingir o sucesso que tem atualmente na Europa.
"Costumo dizer que não vendo queijo, eu vendo saudade. E o que é mais curioso é que não só de brasileiros, vira e mexe aparece um português que conheceu o queijo coalho em uma viagem ao Brasil, na lua de mel no Brasil e pergunta: esse é aquele queijo que vendia na praia? Uma senhora portuguesa uma vez chorou ao experimentar, não comia há 20 anos, quando tinha estado no Brasil e veio a memória. Então não é só a comida, é a saudade", revela a pernambucana.
Além da loja, a empreendedora também costuma levar o queijo coalho e espetinhos para eventos no Norte do país. Em um desses eventos, uma pessoa que não conhecia o queijo ficou apaixonado a ponto de bater um possível recorde, segundo Maria.
"Teve um festival que participamos no centro de Braga e um francês comeu simplesmente oito espetinhos de queijo coalho seguidos. Depois pegou nosso cartão, encomendou outras vezes, foi um barato", relembra com alegria.
Por falar na França, este é um dos países que recebem os queijos de Maria. A empreendedora conta que envia produtos da loja também para lugares como Luxemburgo, Espanha, Itália, Suíça, Alemanha, Bélgica e "qualquer outro lugar que desejem".
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Mesmo com uma concorrência que tem crescido no negócio de queijo coalho em Portugal - inclusive disponível em algumas cadeias de supermercados atualmente - joga ao lado de Maria o estatuto que o negócio atingiu: tem a patente da marca e é a única loja europeia que pode usar "Queijo Coalho" no nome. Em comparação ao que é comercializado em muitas outras lojas e mercados, a especialista detalha a diferença.
"Muitas pessoas fabricam o queijo de forma industrial, só que colocando massa de batata, outro tipo de massa, e sendo um queijo de fermentação. Com isso, esqueça, não é queijo coalho. Pra ser categorizado como queijo coalho tem que ser feito a partir de leite puro, que é o caso do nosso", pontua.
Depois do queijo coalho, o negócio de Maria decolou a ponto de, cada vez mais, os clientes pedirem outras comidas típicas do Brasil. Hoje em dia, é possível encontrar diferentes produtos artesanais brasileiros na loja on-line do Queijo Coalho Portugal: queijo minas, catupiry, linguiça toscana, calabresa, carne de charque, carne de sol e massa de pastel são algumas das opções que fazem da loja um verdadeiro "Porto da Saudade", como dizia o conterrâneo de Maria, Alceu Valença.
"O queijo coalho é nosso carro-chefe, mas o negócio começou a crescer e também a demanda para vender outros produtos brasileiros. Gosto muito de incentivar e girar a economia dos brasileiros que empreendem aqui em Portugal, então começamos a adquirir produtos fabricados aqui por nossos conterrâneos, como a carne de charque e outras comidas ligadas ao Nordeste", afirma.
Atualmente reconhecido através do país e de outras partes da Europa, o Queijo Coalho se consolidou como um dos principais mercados brasileiros de Portugal, com sabor nordestino e carinho de quem entende do assunto. Guaraná Jesus, azeite de dendê, melaço de cana, bolo de rolo, pamonha e macaxeira são algumas outras opções disponíveis na loja. Para conferir todos os produtos, basta acessar este link.
nuno.tibirica@dn.pt