Lula da Silva e Luís Montenegro durante a reunião do G20, no Rio de Janeiro.
Lula da Silva e Luís Montenegro durante a reunião do G20, no Rio de Janeiro.DR

Língua, história e negócios ainda unem Brasil e Portugal

Três professores brasileiros e um empresário português medem o pulso à relação atual entre Brasil e Portugal, com Mercosul, UE, CPLP, G20 e Brics na agenda comum.
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Como estão as relações entre Portugal e o Brasil nas vésperas do pontapé de saída da cimeira entre os dois países? O DN foi medir-lhes o pulso, através das opiniões de três especialistas brasileiros em Relações Internacionais e de um empresário português.

José Manuel Diogo, empreendedor multifacetado e fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos, traça o que seria o roteiro ideal da reunião. “Mais do que um encontro diplomático, esta cimeira deve ser encarada como uma oportunidade de projetar a língua portuguesa como um ativo geopolítico e cultural, criar mecanismos de cooperação económica de longo prazo e fortalecer uma identidade luso-brasileira que vá além dos laços históricos”.

“Portugal e Brasil continuam presos a uma lógica de tutela sobre a língua portuguesa que já não faz sentido. A cimeira deveria reconhecer o português como um território partilhado, que precisa de políticas de promoção conjuntas”, assinala.

Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado, assinala que, em certa medida, “o Brasil é uma invenção de Portugal” e concorda que devia “haver fortalecimento da língua portuguesa, uma das 10 mais faladas no mundo”. “Portugal tem o Instituto Camões, o Brasil tem o Instituto Guimarães Rosa, o Brasil é muito maior mas Portugal talvez tenha mais prestígio”, acrescenta.

“A herança portuguesa no Brasil, a língua e a história, servem de mecanismo de construção da relação, assim como os cerca de 15 anos de destino preferencial dos emigrantes brasileiros”, acrescenta, por sua vez, Roberto Uebel, especialista em Relações Internacionais.

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Para Demétrius Pereira, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing. “Portugal é bastante importante para o Brasil, não só por terem ambos sido um só país por muitos anos, mas porque os portugueses são os europeus que melhor conhecem o Brasil, pela língua, pela aproximação cultural e até pela geografia”.

“Nas questões económicas, nem sempre as autoridades portuguesas gostam de o ouvir mas o Brasil vê, de facto, Portugal como porta de entrada na UE mas isso é mútuo, o Brasil serve de porta de entrada a Portugal no Mercosul”, diz Vinícius Vieira.

Para José Manuel Diogo, de facto, essa visão é castradora. “As relações comerciais entre os dois países continuam enredadas em velhas dinâmicas, com Portugal funcionando como uma porta de entrada para a Europa e o Brasil como um grande mercado consumidor. Isso é insuficiente. O desafio é criar pontes em setores como tecnologia, inteligência artificial e transição energética”, defende o português.

Na questão geoestratégica, Diogo diz que “a cimeira deveria pensar em como ambos podem atuar para reequilibrar as relações entre Norte e Sul, fortalecendo um espaço lusófono como alternativa ao eixo EUA-China”.

“No G20, Brasil mostrou entender Portugal como pátria-mãe, pode ser uma perspetiva eurocêntrica mas é uma perspetiva que ainda prevalece”, recorda Vieira, lembrando o convite brasileiro para a recente cimeira do G20 no Rio de Janeiro.

“Portugal e Brasil sempre foram favoráveis às negociações entre Mercosul e EU e ambos exercem a liderança da CPLP, apesar de Portugal não ser geográfica e demograficamente grande, não deixa de ter uma importância cultural, histórica, identitária que facilita as relações”, acrescenta Demétrius Pereira.

Para Uebel, “Portugal não está no rol de prioridades brasileiras, que são os BRICS, a China e a relação entre Mercosul e a União Europeia como um todo, onde entraria então o governo português” mas regista que “podem ajudar ao sucesso da cimeira as relações, de amizade eu diria, de Lula com Marcelo Rebelo de Sousa...”.

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