Produtor musical Eduardo Santos quer fazer intercâmbio de artistas entre Brasil e Portugal
Nascido em Porto Alegre (RS), Eduardo Santos trouxe a produtora para Portugal em 2018. Desde então, tenta articular um intercâmbio cultural entre os dois países.
Texto: Nuno Tibiriçá
Quando se mudou para Lisboa em 2019, o gaúcho Eduardo Santos trazia na bagagem mais de três décadas de trabalho na área da música. Dono da produtora Loop Reclame, que desde a mudança para cá opera também na terrinha, Eduardo construiu toda sua carreira em torno de shows, publicidade e rádio: já são mais de 30 anos com programas em algumas das mais conhecidas estações do sul do Brasil, como a Itapema FM.
Completando cinco anos em Portugal, onde considera ter ficado ainda "mais brasileiro", o produtor conta querer agora estreitar as relações musicais entre os dois países. Em entrevista ao DN Brasil, Eduardo explica sobre seu empreendimento em Portugal e como pretende que os músicos consigam, cada vez mais, ter seu trabalho reconhecido nos dois lados do Atlântico.
"Desde que chegamos, começamos a trazer artistas que ainda não tinham o trabalho tão conhecido por aqui. Haviam outros já com trabalho consolidado, até porquê há uma conexão muito forte dos portugueses com a música brasileira, mas vimos uma brecha para trazer outros, especialmente do Sul", relembra Eduardo que, desde então, produziu espetáculos de bandas como Dead Fish e Fresno em Portugal, além de promover recentemente a estreia de Detonautas em Portugal. A catarinense Isa Buzzi, revelação no Brasil, é outro nome que estará por aqui em breve através da Loop.
A alta demanda da produção de shows, tanto à distância para o Brasil, quanto em Portugal e a atuação no mercado publicitário, não impediram Eduardo Santos de manter viva sua paixão pela rádio. O gaúcho conduz programas em três estações brasileiras e destaca um que tem tudo a ver com Brasil e Portugal: na Itapema FM, ele apresenta o programa Do Outro Lado do Mar, no qual procura levar para o público brasileiro um pouco da cultura musical daqui, algo que também exporta para suas produções musicais no seu país natal.
"Tem muita coisa da música portuguesa que não chega lá no Brasil e muita coisa do Brasil que não chega aqui em Portugal. O que propomos é justamente que haja esse intercâmbio entre os dois países, tem muita gente boa que não tem oportunidade de fazer muitos shows ou mesmo de ter sua música na rádio", diz Eduardo, antes de citar exemplos de artistas como Beatriz Pessoa e Inês Bispo, a primeira artista portuguesa que a Loop Reclame conseguiu levar para o Brasil. Já Pessoa, é figurinha carimbada no programa de rádio de Eduardo.
Clique aqui e siga o canal do DN Brasil no WhatsApp!
O Do Outro Lado do Mar, aliás, é um projeto que, acredita Eduardo, tem potencial para ser levado a outro patamar. Para o produtor gaúcho, o programa pode ser uma "via de mão dupla", afinal, a ideia é justamente que os brasileiros tenham contato com a música portuguesa e vice-versa.
Atualmente, a ideia de levar o seu programa para uma rádio portuguesa é um dos maiores desejos de Eduardo. Para o produtor, um apaixonado pelo meio, a rádio traz o poder de levar o novo ao público, é justamente através dela que um ouvinte pode conhecer algo que talvez não fosse atrás na plataforma de streaming que utiliza.
"A rádio tem que fazer uma curadoria, porque hoje a pessoa tem todas as músicas do mundo, então o rádio tem que impulsionar mesmo essa nova geração. Mostrar coisas novas, pessoas novas, que tem dificuldade para aparecer. A própria Inês (Bispo) aqui, a gente manda para todas as rádios e ela não consegue tocar nenhuma. E no Brasil ela toca", exemplifica. O brasileiro acredita no poder do rádio para mostrar artistas independentes também. "As gravadoras grandes meio que dominam a história do rádio em todos os lugares do mundo, então acho que fazer algo que consiga mostrar essas coisas mais independentes, seria muito interessante", afirma.
Além de promoverem o intercâmbio entre artistas de cá e lá, nos últimos anos, Eduardo e a Loop Reclame passaram a estreitar relações profissionais também com artistas brasileiros que moram em Portugal. O rondoniense Jhon Douglas, por exemplo, é um deles e teve seu último álbum, Artista Chinelo, produzido pela Loop.
Segundo Eduardo, a diversidade de brasileiros em Portugal é um dos principais fatores que fazem a experiência dele e de sua família por aqui ser ainda mais interessante. Para o produtor, que sempre se viu muito inserido na "bolha" cultural e artística do estado natal, a mudança para Portugal o fez conhecer um outro universo musical e cultural brasileiro.
"No Rio Grande Sul do Sul tem aquela autossuficiência meio esquisita, é o rock gaúcho e só. Sinto que seja um lugar que precise de mais Brasil, mais contato com outras regiões. É difícil até ouvir um sotaque que não o gaúcho lá", diz Eduardo, que afirma que, quase que ironicamente, encontrou em Portugal, um outro Brasil: "É muito louco isso, mas Portugal nos tornou mais brasileiros. E acho que, de certa forma, todos os brasileiros acabam sentindo isso, acaba tendo um encontro com gente de todos os cantos e culturas aqui, algo que lá é muito mais difícil. Sinto que em Portugal, tenho uma aula de Brasil diariamente".
nuno.tibirica@dn.pt