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Leo Middea: "Lisboa é uma cidade que me gerou frutos inexplicáveis"
Carioca que trocou Brasil por Portugal em 2017. Foto: Reinaldo Rodrigues

Leo Middea: "Lisboa é uma cidade que me gerou frutos inexplicáveis"

Carioca que trocou Brasil por Portugal em 2017 foi o primeiro brasileiro finalista do Festival da Canção. Em entrevista ao DN Brasil, ele fala sobre a vida enquanto artista imigrante na Europa.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

Foi por amor que o artista carioca Leo Middea, 29, manteve o sonho de construir uma carreira na Europa. Após dar seus primeiros passos enquanto músico profissional em palcos da Argentina em meio a dificuldades de alavancar a carreira na sua cidade natal, Leo viu em Lisboa uma oportunidade de levar o seu trabalho ao mundo.

No início por aqui, no entanto, a realidade de ser um artista imigrante, quase o levaram de volta para o Brasil. "Sou da zona oeste do Rio, de Taquara, e lá era difícil de conseguir adentrar no cenário musical. É uma região muito focada no pagode, funk, samba, não tinha muito espaço pro MPB. E na Zona Sul do Rio, eu também era um peixe fora d'água, difícil ser aceito para tocar lá. No começo por aqui não foi muito diferente, era muito precário", diz em entrevista ao DN Brasil.

Ao ver o carreira demorar a engatar no Rio de Janeiro, Leo, por meio de um amigo, conseguiu fazer com o que o seu disco chegasse a Argentina, onde considera ter começado o seu trabalho profissional, dez anos atrás. "Cheguei a ficar três meses por lá, gravei, fui à rádio. Fui duas vezes, as duas de ônibus, do Rio a Buenos Aires", conta.

Mesmo com a experiência na Argentina, Leo seguiu sem conseguir singrar no Rio. A solução foi passar cada vez mais tempo em São Paulo, onde começou a se apresentar em bares e casas da Vila Madalena, um dos principais redutos boêmios da capital paulista. O falecimento de seu pai, pouco tempo depois, fez com que Leo mudasse a vida radicalmente.

Após o episódio, o artista conta ter tido um tempo de reflexão importante, chegando inclusive a passar um tempo em um retiro espiritual na Índia. Depois, em 2017, veio para Lisboa tentar respirar novos ares e dar início à uma nova etapa.

Os percalços por aqui, no entanto, quase o fizeram voltar para casa. "Não conseguia trabalhar, não conseguia tocar, financeiramente horrível... decidi voltar pro Brasil. Rodava por ruas, bares, mas sempre com muito pouco dinheiro, me via numa situação que pensava: eu não mereço isso. Só que nesse meio tempo, conheci uma pessoa. Duas semanas depois da minha decisão de voltar para o Brasil, me apaixonei, e falei, não, eu vou ficar", relembra o artista.

A tal pessoa, que Leo prefere deixar em anônima, embora afirme que "se os leitores ouvirem meu álbum vão saber quem é", fez com que o jovem não esmorecesse. Com sua ajuda, o artista carioca viu seu trabalho alavancar e ficar mais conhecido embora, no começo, a fama que começava a se desenhar ainda não refletisse em suas finanças.

"Ao mesmo tempo que eu sentia que estava rolando alguma coisa, financeiramente, não engatava. Mas começou a ter mais esse reconhecimento. E aí, aconteceu umas três, quatro vezes que estava andando na rua meio cabisbaixo e me reconheceram, me elogiaram. Isso me motivou, me fez pensar que estava indo pelo caminho certo, que ia rolar", conta. E rolou.

Após lançar o álbum "Gente", em 2023, Leo viu a carreira decolar e passou a fazer shows e lotar salas ao redor da Europa: passou por Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra, Países Baixos e em, Portugal, cada vez mais conhecido. No início deste ano, o artista foi um dos finalistas do prestigiado Festival da Canção, onde voltou a lidar com problemas tão presentes na realidade de imigrantes brasileiros em Portugal: a xenofobia.

"Festival da Canção foi um período muito específico, é muito midiático. Ao mesmo tempo que traz uma projeção muito grande, também traz gente de todos os tipos. De direita, de esquerda, mas a parte que veio mais comentários comentários xenófobos acabou sendo ali mesmo, pessoal dolorido por ver um brasileiro em um festival português. Agora, diminuiu um pouco esse ódio nas redes sociais, naquela semana foi mais intenso", destaca o artista.

Além de ter sido alvo de ódio no Festival da Canção, Leo afirma que, ao longo desses sete anos em Portugal, sentiu diversas vezes surgirem barreiras no seu seu trajeto artístico por ser brasileiro. Com o crescimento da comunidade por aqui, no entanto, isso é algo que ele considera estar ficando cada vez mais para trás.

"Tá se abrindo cada vez mais. Vejo meus amigos, como o John Douglas, tocando em festival pra caramba, no Norte, em vários lugares. E isso é muito bom. A gente tem que abrir esse espaço mesmo, porque, quando cheguei, era zero, muito difícil. E sinto que já está melhorando muito, espero que abra cada vez mais, e role essa integração entre o Brasil e Portugal que faz todo o sentido", afirma o carioca que, perguntado sobre quais músicos portugueses recomendaria para a comunidade brasileira que pouco conhece da cultura lusitana, listou nomes como António Zambujo, Salvador Sobral e Maro.

Leo Middea no Festival Todos, em Arroios. Músico viveu no bairro na maior parte do tempo que esteve em Lisboa. Foto: Reinaldo Rodrigues

Mudança para Barcelona

Se tornando cada vez mais conhecido no cenário europeu, Leo Middea busca agora consolidar o nome também no Brasil. O carioca volta ao país a cada seis meses para visitar a família e fazer shows. O alto custo com viagens na imensidão brasileira, no entanto, façam com o que "decolar" por lá seja mais complicado que na Europa.

"O Brasil é muito complexo. Se eu vou para Múrcia, na Espanha, por exemplo, se eu fizer um sold out lá para 80 pessoas, numa casa pequena, aquilo vai me compensar financeiramente, por exemplo. Vou conseguir pagar o hotel, a passagem e ainda sobra um bocadinho para mim. Se eu fizer isso em Porto Alegre, como já fiz também, é um prejuízo total", diz, antes de reafirmar que ainda é uma intenção:

"Cada vez mais, tento estar mais presente no Brasil, mas ao mesmo tempo, não consigo abrir mão daqui com tanto trabalho acontecendo. É tentar usar as plataformas digitais, as redes sociais, para fazer com que esse link com o Brasil seja cada vez mais forte, que eu consiga, aos poucos, colocar pessoas aqui e lá. Construir uma carreira no formato geral". Com o desejo de crescer "aqui e lá", ele fez o primeiro movimento recentemente, ainda dentro da Europa.

Há cerca de quatro meses, Leo Middea trocou Lisboa por Barcelona, depois de sete anos na capital portuguesa. Para ele, ficar na Catalunha o fez ficar mais próximo de outros centros europeus. Ainda assim, o artista mantém Portugal por perto, tanto nas apresentações que faz por aqui, quando no coração.

"Minha relação com Lisboa, é completamente de amor, cara. Eu cheguei aqui odiando, e só fiquei por causa de amor. E acabei indo embora também por causa desse amor: Lisboa se transformou numa pessoa e é uma cidade que me gerou frutos inexplicáveis. Saí da Taquara para fazer música brasileira em Portugal e, Lisboa me inspirou e me inspira muito. Acho que vivi essa cidade profundamente", finaliza Leo.

nuno.tibirica@dn.pt

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