Jornalista cria dicionário com "traduções" entre português do Brasil e de Portugal
A ideia de Stevan Lekitsch é ajudar turistas e recém chegados no país. Uma cantada em Portugal é um piropo, um canudinho é palhinha e carpete é alcatifa, por exemplo. Mas o jornalista também quer refletir: "a intenção foi gerar essa discussão. A gente fala português ou a gente fala já brasileiro?".
Texto: Caroline Ribeiro
Filho de pai alemão, nascido no Brasil e criado com um padrasto português, o jornalista Stevan Lekitsch sempre teve interesse por cultura e idiomas variados. Em 2014, ao se mudar com a família para Portugal, começou a trabalhar em um museu e a perceber que, afinal, a língua falada nos dois países é a mesma, mas com diferenças e curiosidades que causam certa estranheza, ou fazem confusão. Anotando cada palavra que aprendia, cada expressão que ouvia, resolveu compilar tudo para ajudar amigos que vinham a turismo. Assim nasceu o Pequeno Dicionário "Brasileiro" Português.
O livreto ganhou o mundo pela primeira vez em 2018, com uma impressão própria feita por Stevan, "porque eu recebia muitos amigos brasileiros e eles pediam", conta ao DN Brasil. Depois, o jornalista fez uma edição digital, até que, no ano passado, conheceu o dono de uma editora que achou o projeto "sensacional". "Ele disse que deveria estar [o livro] no bolso do avião, em cada cadeira. Os brasileiros apanham quando descem aqui. Principalmente quem vem para ficar pouco tempo, tomam uma surra da língua, porque é muita coisa diferente", diz.
Este ano, o dicionário ganhou uma versão impressa oficial, com 128 páginas, reunindo mais de duas mil palavras e expressões populares em Portugal e no Brasil. Na página 26, por exemplo, podemos descobrir que uma cantada em Portugal é um piropo, um canudinho é palhinha e carpete é alcatifa.
Stevan conta ter começado a anotar termos para o dicionário pelo que considera ser "o grande desafio de qualquer língua: os cardápios", diz, rindo.
"Cardápio é uma coisa muito específica. Se você pega um daqueles de tasquinha, muito raiz, metade do que está lá você não entende. Tem garrinhas, pica-pau, plumas. Eu demorei para entender a diferença de bifana, bitoque, prego. Isso já foi falado até por linguistas, que decifrar o cardápio é o maior desafio em qualquer país", completa.
Com o passar dos anos, o vocabulário da terrinha começa a fazer parte do dia a dia dos brasileiros que passam a morar no país. O contrário também acontece, já que, atualmente, a produção de conteúdo de brasileiros na Internet tem atingido um grande público em Portugal. Stevan não está alheio a esse fluxo e explica que o uso do "Brasileiro" na capa do dicionário foi proposital. "A intenção foi gerar essa discussão. A gente fala português ou a gente fala já brasileiro? Foi posta entre aspas porque não é consenso". O livro está disponível para venda física em Portugal em livrarias como Fnac e Wook.
caroline.ribeiro@dn.pt