Johnny Hooker: "Meu trabalho tem uma conexão natural com a música portuguesa"
Artista retorna ao país no qual iniciou sua carreira internacional há sete anos com shows em Braga e Lisboa.
Texto: Nuno Tibiriçá
Tocar em Portugal está longe de ser uma novidade para o cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker, 37. Foi por aqui que o artista iniciou sua trajetória internacional há sete anos, quando tomou gosto pelo país. "É minha oitava vez aqui", conta Hooker em entrevista ao DN Brasil realizada na redação do Diário de Notícias em Lisboa, cidade onde desembarcou no último domingo (17).
Desta vez, o artista chega a Portugal para duas apresentações. A primeira será em Braga, neste sábado (23), quando Johnny faz espetáculo no Theatro Circo, em show que faz parte da programação do festival literário Utopia. Já na semana que vem, em Lisboa, um outro encontro especial: o pernambucano se junta às sambistas do Coletivo Gira no Bailer Amor, que será realizado no Music Station, no dia 29 de novembro.
Para o artista, voltar a Portugal é sinônimo de voltar para onde gosta de estar. Em sua primeira passagem por aqui, veio para assistir Madonna, a quem se refere como sua "maior ídola de todos os tempos" e que morava em Lisboa na época. Logo viu que, por aqui, havia um potencial para ser explorado, desde a relação que tinha com a cultura portuguesa, até o carinho que recebeu do público residente em Portugal.
"Acho que o meu trabalho, por ser muito carregado nesses tons do drama, da intensidade, acho que já tem uma conexão meio que natural com a música portuguesa, que é muito dramática, o fado é muito romântico, tem essa coisa da saudade. Então, desde que minha carreira nacionalizou no Brasil, sinto que sempre teve muito essa demanda de vir pra cá. As pessoas aqui sempre gostaram", começa por dizer Johnny.
Na vez que chegou para ver Madonna, o artista conta que a ideia era estar aqui de férias, algo que não se concretizou. Vicente do Ó, diretor de cinema português, encontrou com Johnny e, encantado com suas músicas e personalidade, pediu duas faixas suas para o filme Golpe de Sol (2018).
Em outra oportunidade, quando estava na casa noturna lisboeta Finalmente Club, em um show de drag queens, deu de cara com outro português, um performer, que estava vestido de Johnny Hooker e cantando uma música sua. "Comecei a reparar que tem umas coincidências incríveis neste país", recorda. Naquele ano, as férias viraram contatos e contratos, e Portugal, a porta de entrada da Europa para sua carreira internacional.
"Até hoje lembro da sensação de quando toquei aqui a primeira vez, a sensação de caramba, atravessamos o mar. Isso é muito simbólico na cabeça da pessoa, falar para a vovó, olha onde eu cheguei, consegui atravessar o mar com o meu trabalho", relembra o artista que depois dos primeiros shows em Portugal, seguiu Europa a dentro nos últimos anos. Espanha, Alemanha, Noruega, Irlanda e Inglaterra foram alguns dos países nos quais se apresentou.
Na terrinha, tocou em diversas casas de shows de diferentes partes do país. Além da participação no Rock in Rio 2022, em Lisboa ainda rodou por lugares como MusicBox, Capitólio e o Arraial Pride, em Coimbra passou pelo icônico Salão Brasil e ainda fez shows em cidades como Porto e Barcelos. O tempo passado por aqui fez o artista se aproximar ainda mais da cultura e dos músicos locais.
"Já conheci a Carminho e foi incrível, acho que é das mais famosas dessa geração do novo fado. E fui conhecendo outras coisas, a Milhanas faz uma mistura entre o próprio fado e a música eletrônica, interessantíssimo, mais ou menos a mesma coisa que a Rosalía fez com o Flamenco. Adoro o Conan Osiris, o próprio António Variações era excelente e foi pioneiro na questão do gênero e da sexualidade na língua portuguesa", lista Johnny, que em sua carreira nunca escondeu ser gay e é um dos grandes ativistas dos direitos LGBTQIA+ na música brasileira.
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A relação com o país é tão boa que, passar temporadas maiores aqui, no esquema "cá e lá" com o Brasil, também é uma possibilidade pensada pelo artista. "Já pensei em me mudar. Não definitivamente, mas experimentar um ano mais ou menos, temporadas aqui. Mas no Brasil ainda tem muita demanda, é lá que dá dinheiro e paga as contas. Aqui a gente vem, é legal, passeia, mas teria que ser um mercado maior para viver mesmo", revela.
Agenda em Portugal
Prestes a realizar mais duas apresentações no país, Johnny Hooker fala com entusiasmo sobre a próxima agenda em Portugal. Com dois shows muito distintos, um no Utopia e outro com o Gira - que já teve sua história contada no DN Brasil - o artista declara que para ele é uma honra frequentar esses tipos de circuito, especialmente um festival de literatura.
"É maravilhoso. Sou muito fã da literatura em língua portuguesa, muito fã de Valter Hugo Mãe, por exemplo. A gente tem uma língua belíssima, intrincada, chique, complexa. E é uma língua que tem uma sonoridade maravilhosa, acho que é uma das línguas mais bonitas que tem pra se fazer música", pontua.
Já do Coletivo Gira, conta que foram as próprias meninas sambistas que o chamaram para uma apresentação. A ideia casou com o que estava pensando Johnny, que, acostumado a vir para Portugal no verão, desta vez procurou "fugir do caos" ao mesmo tempo que proporciona algo para chacoalhar o frio lisboeta.
"O continente fica uma loucura (no verão). Sugeri virmos um pouco depois, é uma época que que as pessoas estão mais saudosas de ter alguma coisa pra fazer, um programa mais quente, uma festa mais legal. Então fomos convidados para Braga e decidimos também vir para Lisboa, onde temos mais público e foi aí que o Coletivo Gira soube e nos chamou", revela o cantor, antes de finalizar:
"É sempre bom tocar fora do Brasil para variar um pouquinho, especialmente aqui, que eu amo demais. Desde que cheguei, minha DM já ficou lotada de mensagens de boas-vindas dos portugueses, pessoal me reconhece na rua... é muito bom receber esse carinho. Antes eu era mais tímido, ficava sem graça, hoje estou ficando mais velho e fico emocionado com essas coisas", conclui o artista.
O show de Johnny Hooker em Braga no Festival Utopia tem entrada gratuita e os ingressos podem ser retirados na bilheteria do Teatro Circo. Cada pessoa pode retirar no máximo quatro entradas.
Já para o show do Baile Amor ao lado do Gira, no Music Station, situado na região do Parque das Nações, os ingressos já estão quase esgotados segundo a equipe de Johnny. As entradas para os primeiros lotes já foram comercializadas e, a partir de agora, estão ou estarão à venda os últimos dois lotes, custando, respectivamente, €22 e €25. Podem ser adquiridos aqui.
nuno.tibirica@dn.pt