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Indígena brasileiro ganha a Europa com filme sobre sua história
Kawá Huni Kuin e a diretora de "Yupumá" Verónica Castro no Largo do Intendente, em Lisboa. Foto: Álvaro Isidoro / Global Imagens

Indígena brasileiro ganha a Europa com filme sobre sua história

Em conversa ao DN Brasil, Verónica Castro e Kawá Huni Kuin falam sobre o documentário “Yupumá”, que chega aos cinemas portugueses na próxima semana.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

A antropóloga mexicana Verónica Castro estava na aldeia indígena, Huni Kuin, no Acre, quando o jovem local Kawá, que lhe apresentava a região, fez um pedido inusitado: pajé aprendiz e com o desejo de mostrar ao mundo a realidade dos povos indígenas amazônicos, ele pediu a Verónica para o levar para a Europa. Sete anos depois, a história da partida da dupla virou filme através de “Yupumá”, que chega aos cinemas portugueses no dia 18 de julho.

“Tudo começou com um sonho. Na minha aldeia, temos o hábito de acordar e compartilhar o que sonhamos. E eu tive um sonho que viajava, que ia para a cidade grande junto com a Verónica e pedi para ela me levar para a Europa. A partir daí foi um processo longo, porque além de convencer ela, tive também que convencer toda a comunidade de que era uma boa ideia o que queria fazer, precisava da permissão da comunidade”, conta Kawá ao DN Brasil em entrevista em Lisboa, onde os dois se preparam para a estreia nacional do filme. 

Kawá Huni Kuin com os adereços que representam o clã a qual pertence em sua aldeia. A geometria dos objetos é chamada de Kanã. Foto: Álvaro Isidoro / Global Imagens

A dupla havia se conhecido em 2017, quando Verónica estava fazendo a pesquisa de campo de sua tese de doutorado pela Universidade de Manchester, ao mesmo tempo que dava aulas de inglês no município de Jordão, no Acre, para onde Kawá viajava para participar das aulas. Prodígio desde criança, quando tinha facilidade para aprender português nas idas à mesma cidade, Kawá logo se destacou como um dos melhores alunos de Verónica. Depois, levou a antropóloga para conhecer sua aldeia e participou do processo de produção do filme.

Estabelecida em Lisboa e diretora de filmes como “Jesus por um dia” (2012), “Um Elefante na Sala” (2016) e “Daqui” (2023), a mexicana partiu com Kawá para as terras Huni Kuin, localizadas quase na fronteira com o Peru. Lá, fez as filmagens que seriam usadas para a vertente prática de sua tese e que alguns anos depois deram origem ao filme que entra em cartaz na próxima semana. 

“Eu sabia que este primeiro recorte (filmagens para a tese), tinham potencial. Não fazia sentido um filme tão denso quanto esse ter um recorte a apenas um público, uma comunidade reduzida, como os acadêmicos. Então procurei candidatos na ICA (Instituto do Cinema e Audiovisual) para ter algum apoio para desenvolver o filme de outra forma, fazer uma nova montagem. Este ano, conseguimos deixar pronto”, conta a antropóloga e diretora de "Yupumá".

Sempre interessado por novas línguas, culturas e tecnologias, Kawá ganhou intimidade com os equipamentos que lhe foram apresentados e ajudou Verónica a frente e atrás das câmeras: tem o seu nome como responsável pelo som de “Yupumá” nos créditos do filme. “Quando a Verónica estava na aldeia junto com a gente, ela tinha que filmar para o trabalho dela de antropologia e eu comecei a ajudar. Foi minha primeira vez tendo contato com câmera e gravador e foi um desafio também convencer a minha comunidade para colaborar nesse projeto de filme, era também a primeira vez conhecendo essa tecnologia. Todo mundo recebeu muito bem”, afirma Kawá.

Produzido pela Cedro Plátano, “Yupumá” acompanha a vida de Kawá nas terras Huni Kuin e o processo de partida do jovem para a Inglaterra, para onde seguiu com Verónica em 2018 após as filmagens. Em Manchester, onde a antropóloga finalizava sua tese, o jovem passou nove meses frequentando uma escola de inglês. Se tornou fluente na língua, o que permitiu que rodasse por diferentes países da Europa ao lado da mexicana participando de conversas e debates sobre a história de sua aldeia, recitando contos tradicionais e expondo a realidade de risco da floresta amazônica.

“No filme, as pessoas daqui (Europa) podem entender que a Amazônia, que a floresta, ela ainda é viva. A nossa floresta tem que ser preservada para a próxima geração. Se a floresta for destruída, a nossa cultura acaba. E enquanto a cultura é preservada, a floresta também é preservada para o mundo, a questão da água, questão de respirar o ar livre. O humano também vem da natureza. E a natureza, a Amazônia é o pulmão do mundo”, diz Kawá.

Apresentando o filme em diversos países da Europa desde abril, Verónica faz coro às palavras de Kawá e afirma que, muitas vezes, o público fica surpreendido com a energia do povo Huni Kuin. “Quando mostramos o filme na Dinamarca, surgiu uma pergunta: “Porquê que nós precisamos ajudar essas pessoas na Amazônia? Elas estão tão felizes.” O que é que a gente faz com este comentário? Neste filme tão feliz, tem o desmatamento, o genocídio sistemático, o racismo sistemático, o medo de perder a sua terra. Está tudo neste filme. E por isso chegamos a dizer que este é um filme que mostra como a alegria pode ser uma forma de resistência. Esta gente é vibrante. A comunidade Huni Kuin está crescendo, aumentou de 32 para 38 aldeias nos últimos anos. Isso é alegria. A alegria é uma forma de resistência”, frisa a diretora.

A antropóloga e cineasta mexicana Verónica Castro tem sua base em Lisboa. Álvaro Isidoro / Global Imagens

Origem do nome

O nome escolhido pela diretora para o filme é inspirado numa palavra sagrada do Kaxinawá, língua nativa de Kawá Huni Kuin. Segundo Kawá, “Yupu” significa uma ação inédita, enquanto “Yupumá”, é uma ação inédita que teve sucesso.

“Se eu vou caçar na floresta e voltar sem um veado, sem uma anta para a comunidade, meu Yupumá foi errado. No caso do filme e da minha vinda para a Europa, o meu Yupumá está dando certo. Desde que vim pela primeira vez, as pessoas estão gostando do nosso trabalho, das traduções que faço desde que aprendi bem o inglês. Então o filme possibilitou que eu fizesse o Yupumá”, explica Kawá, antes de Verónica concluir: “O filme não termina nos créditos. O “Yupumá” é ainda o que está acontecendo com o Kawá, essas viagens para a Europa são a continuação do filme”, completa a diretora. 

Após passar pela Escócia, Dinamarca, Grécia, Inglaterra e Irlanda, “Yupumá” chega às telas portuguesas na próxima semana. Tendo Portugal como última parada, Kawá volta ao Acre depois da viagem, onde, conta o próprio, voltará a se conectar com a família e descansar, mas também “trabalhar de verdade”.

“Ficar um tempo com minha família, ouvir os pássaros, pescar, caçar… e trabalhar um pouco também. Na floresta não é igual aqui, temos que caçar e pescar para comer, temos que buscar nossa banana, nossa mandioca, carregar lenha. Aqui as pessoas também trabalham muito, mas busca comida no supermercado. Eles compram e cozinham. Lá tem que ralar mesmo. A energia é diferente. Mas vai ser bom também me conectar com meus ancestrais, com o meu povo e minha família”, finaliza Kawá que, desde que conheceu Verónica tem as idas e vindas para a Europa como algo comum na sua vida. 

"Yupumá" chega aos cinemas no próximo dia 18 de julho e terá projeções no Cinema City de Alvalade, Leiria, Setúbal, no Alvaláxia, no NOS Alma Coimbra, no NOS Alameda Shop&Spot (Porto) e no NOS Forum Almada.

nuno.tibirica@dn.pt

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