Inclusão, diversidade, equidade: conheça a primeira brasileira negra a criar uma startup de impacto social na Europa
Depois de uma entrevista de emprego em que a cor da pele "incomodou", Elisangela criou o IDE Social Hub. Agora, prepara a 2ª edição de um evento internacional para discutir inovação, impacto social positivo, inclusão e sustentabilidade nas empresas.
Texto: Caroline Ribeiro
Sair do Brasil para buscar mais qualidade de vida, conhecer novas culturas e ter mais oportunidades profissionais foi o que motivou a carioca Elisangela Souza a cair na Europa. Formada em publicidade, nunca conseguiu atuar plenamente na área. "Há 20 anos, publicidade e negro no Brasil não davam match. Ninguém me avisou isso quando eu decidi estudar comunicação social", conta ao DN Brasil.
Elisangela acabou atuando na área cultural de grandes empresas e também no terceiro setor. Em 2019, com a mudança para Portugal, tentou se inserir no mercado, mas a pandemia obrigou a brasileira mudar os planos. "Fui obrigada a me reinventar e aí fui fazer o que a maioria dos imigrantes fazem. Fui vender porta a porta, fui trabalhar em call center, trabalhei nos Censos", diz.
Passada a fase mais dura da pandemia, depois do lockdown, Elisangela encontrou uma oferta de emprego em sua área profissional e se candidatou.
"Veio a oportunidade de trabalhar como técnica de comunicação numa produtora e eu submeti o currículo. Falei 'que bacana, primeira oportunidade dentro da minha área'. Tive feedback muito positivo da recrutadora, que me convidou para uma entrevista de 30 minutos. Fui com a expectativa lá em cima. Quando a recrutadora liga, para fazer a entrevista online comigo, que, até então, como estava escrito no e-mail, seria de 30 minutos, a loura, dos olhos azuis, viu uma mestiça, com uma juba, de cor, ela encerra a entrevista em três minutos. Não deu tempo nem de respirar".
Elisangela diz nem ter percebido o que tinha acontecido. Só ao contar a experiência para uma amiga, profissional de RH em Portugal, entendeu. "A cor da minha pele incomodou. O que é que eu vou fazer com essa experiência? Vou transformar em mais uma narrativa triste ou vou virar esse jogo?", conta.
Depois do "processo seletivo fatídico", Elisangela transformou a própria trajetória. Estudou, entrou em contato com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com dados da Comissão para Igualdade de Gênero de Portugal e fundou, em 2022, o IDE Social Hub, uma startup para promoção de "Inclusão, Diversidade e Equidade" nas áreas de tecnologia e digital. O empreendimento é focado em negócios de impacto social, promovendo a integração de grupos historicamente sub-representados, como mulheres, profissionais com mais de 50, minorias étnicas, imigrantes e pessoas com deficiência no mundo empresarial.
A iniciativa valeu a Elisangela o reconhecimento como uma das Top 100 Women Leaders in Social Enterprise pela Euclid Network (EN) como a primeira mulher brasileira negra a criar uma startup de impacto social na Europa.
Agora, a empreendedora prepara a 2ª edição do IDE Insights & Boas Práticas, evento que será realizado no dia 17 de outubro no auditório da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa. Cerca de 150 líderes de empresas, agentes sociais, investidores, empreendedores e outros interessados vão discutir inovação, impacto social positivo, inclusão e sustentabilidade nas empresas.
"Vou sempre fazendo provocações de forma positiva, que é pra gente trazer as pessoas pra esse lugar de 'vamos pensar juntos'. Eu preciso dos homens, preciso das mulheres, preciso dos brancos. Eu não vou ficar fazendo guerra. Eu preciso dos aliados", afirma a brasileira, que segue virando o jogo por aí.
O evento é aberto ao público, bastando apenas inscrição prévia para a participação pelo site do IDE Social Hub.
caroline.ribeiro@dn.pt