Habitação: sem previsão de baixar os preços
Os altos preços das habitações são justificadas pela pouca oferta de imóveis no mercado.
Texto: Rayssa Iglesias
Comissão Europeia alertou que os preços da habitação em Portugal, que estão sobrevalorizados, continuam a subir. No entanto, o aumento começa a acontecer de forma mais branda. Segundo relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no terceiro trimestre de 2023, o Índice de Preços da Habitação (IPHab) aumentou 7,6%, o que representa uma diminuição de 1,1 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior.
Os dados divulgados pelo INE também indicam que comprar casa nova ficou mais acessível do que adquirir imóveis já existentes no país. No terceiro trimestre de 2023, a taxa de variação média anual do Índice de Preços da Habitação (IPHab) foi de 9,0%, refletindo uma desaceleração de 1,4 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior. Nesse período, o aumento dos preços das habitações existentes (9,8%) superou o das novas (6,6%).
Mesmo que a subida esteja em um ritmo mais lento, não há uma previsão para queda abrupta nos preços dos imóveis do país. “Há claramente, uma sobrevalorização dos preços, mas não vejo risco de uma bolha imobiliária. Porque temos aqui outro fenómeno que tem a ver com a questão da procura e da oferta. Notamos, de facto, que há uma pressão muito forte da procura, e, ao mesmo tempo, a oferta não tem sido capaz de responder e, portanto, os preços vão se manter elevados.” diz Paulo Rodrigues, economista e professor na NOVA Business and Economics.
Além da alta procura, o preço elevado resulta da queda na produção de habitações mais acessíveis e do maior foco em construções de alto padrão. “Houve muita gente especializada na construção, que emigrou. Há uma grande falta de mão de obra, diria eu, nessa área. As empresas que existem têm se dedicado aos segmentos mais elevados, que eventualmente, oferecem mais lucro para elas, com mais rentabilidade. Restando pouco para outra construção mais barata, digamos assim”, explica o professor. “É uma queda natural, se nós olharmos a evolução dos preços. Os últimos números do INE indicam isso. Significa que, de facto, há um menor número de vendas, pois com os preços elevados das casas, as pessoas com rendimento mais baixo terão dificuldades para aquisição de casas”, afirma Paulo Rodrigues.
As transações realizadas no terceiro trimestre de 2023 atingiram 7,1 mil milhões de euros, 12,2% menos que as do 3º trimestre de 2022. As vendas de habitações às famílias registaram uma redução de 24,7% em 2023 em comparação ao mesmo período de 2022. Em valor, as transações por famílias corresponderam a 5,8 mil milhões de euros, a percentagem mais baixa desde o 1º trimestre de 2020.
De acordo com o profissional, a inflação e o aumento das taxas de juros são fatores importantes para a queda, pois “se nós pensarmos, portanto, que o ordenado médio não é muito elevado, que a inflação aumentou, os preços dos bens essenciais aumentaram, e o salário, não subiu tanto como a inflação”, explica. Mesmo assim, “ainda com o aumento das taxas de juros, significa que ao pedir um crédito para comprar casa, o crédito vai ficar mais caro e salário pode não ser capaz de manter o empréstimo”, explica. A redução significativa no número de transações imobiliárias que causam uma desaceleração sugere que os preços podem estabilizar, mas “não há uma perspetiva de mudança rápida”.
O professor Paulo não vê crise habitacional, mas sim, uma crise no acesso a habitação em Portugal. Os altos preços das habitações são justificadas pela pouca oferta de imóveis no mercado. Mas pode haver alternativas para o governo. “Há todo o conjunto de casas vazias, que são do Estado ou que são das Câmaras Municipais, que não estão a ser aproveitadas para garantir, portanto, uma oferta adequada, para que os preços caiam para um nível acessível”, ressalta.
O Orçamento do Estado para 2024 já inclui medidas destinadas a reduzir o custo da habitação. O plano “Mais Habitação”, que entrou em vigor em 2023, prevê o arrendamento dessas casas, mas com a troca de Governo, algumas medidas podem mudar.
Outra medida é o incentivo à construção civil.“O Governo pode implementar medidas que, de alguma forma, viessem a ajudar empresas do sector imobiliário a terem incentivos para construir mais. Tem de haver um estudo para garantir uma oferta adequada, para trazer os preços para um nível acessível para a economia geral”, sugere.