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Gal Café: o novo bistrô vegano de Lisboa criado por brasileiros
Molina e Vivian são os proprietários do estabelecimento localizado nos Anjos, em Lisboa. Foto: Paulo Spranger / Global Imagens

Gal Café: o novo bistrô vegano de Lisboa criado por brasileiros

Brasileira veio como nômade digital e companheiro trabalhava como cozinheiro, até que decidiram empreender.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

Fermentação natural nas padarias, cafetarias e cervejarias artesanais, estabelecimentos de comida vegana e vegetariana e gente de todos os cantos do mundo. Não há dúvidas que Arroios, em Lisboa, segue "bombando". A Rua do Forno do Tijolo - situada na região dos Anjos, pertencente ao bairro - é uma daquelas que mais exemplifica a característica viva da região: em poucos metros, é possível passar por uma hamburgueria artesanal, uma padaria francesa, um minimercado bengali, um restaurante indiano e... um recém-aberto café vegano, gerido por um casal de brasileiros.

O Gal Café, inaugurado naquela rua a pouco menos de três meses, é um empreendimento dos gaúchos Vivian Cunha e Molina. Em Portugal desde 2021, o casal sempre quis ter um negócio no país. O encerramento do Moco, outro estabelecimento vegano que ocupava aquele lugar até dezembro do ano passado e o qual os dois visitavam com frequência, foi o gatilho que fez Vivian e Molina darem o salto.

"Vim para cá como nômade digital. Curiosamente, também sou jornalista de formação, trabalhei com televisão por quase 10 anos, mas ultimamente estava mais na área de comunicação interna. Sempre tivemos esse sonho de abrir um negócio e nesses primeiros meses, até tentei conciliar o trabalho no Brasil com o café, mas não dá. Estamos com uma filha de um ano, ficar com o fuso de lá é complicado... agora é focar só em empreender", conta a gaúcha de Porto Alegre.

Molina, o companheiro de Vivian, chegou em Portugal um pouco antes da esposa. Formado em comércio exterior no Brasil, trocou os escritórios pelas cozinhas em Portugal. Por aqui, mudou o foco para o trabalho em restaurantes, especialmente veganos e tomou a decisão: o lugar dele era mesmo a cozinha.

"É engraçado porque a gente antes era super carnívoro, o Molina era um grande churrasqueiro, a gente é do Sul, né? E há sete anos viramos vegetarianos e aos poucos fomos fazendo a transição para o veganismo, sempre com ele cozinhando muito em casa. Ele falava: "nos dias que abrirmos nosso bistrô, vamos servir esse". Quando a gente abriu, já tínhamos o menu pronto", diz Vivian.

A abertura da empresa

Do momento em que decidiram começar a resolver os trâmites de abertura da empresa, até a inauguração no espaço físico, a tão temida burocracia portuguesa pregou algumas peças no caminho. Embora conte que foram pouco menos de três meses desde quando fizeram o business plan até o primeiro dia na casa do Forno do Tijolo, Molina acredita que, muitas vezes, é difícil para o imigrante conseguir obter informações em Portugal.

"A obra que fizemos foi pequena, pinturas, azulejos, foi tranquilo. Acho que a dificuldade maior foi no sentido que é uma outra regulamentação, não estamos acostumados. Descobrir todas as fases do processo, por exemplo, ter que pagar uma licença para colocar música no espaço, outra para colocar um toldo, outra para pôr uma planta na porta, a gente foi aprendendo isso durante o processo. Talvez a maior dificuldade ou o que deu mais trabalho, foi encontrar todas as informações para o Gal Café ficar apto a estar aberto", diz, antes de Vivian completar:

"No Brasil, a gente tá muito acostumado a todo mundo produzir muito conteúdo. É muito fácil você encontrar umas coisas como "5 passos que você precisa saber para fazer/abrir x, y, z". Aqui tem que garimpar um pouco mais para ter as informações, tem que ir realmente atrás de pessoas para ajudar nisso", conta a empreendedora. Vale lembrar que o DN Brasil disponibiliza informações para quem mora ou pretende vir para Portugal na página Guia do Imigrante.

Se a burocracia ou dificuldade para conseguir informações em Portugal pode trazer empecilhos, o casal não se queixa da localização que conseguiram estabelecer o Gal Café. Segundo Vivian e Molina, o alto fluxo de estrangeiros na zona dos Anjos e Arroios faz com que o café se torne o favorito de vários nômades digitais que passam ali a tarde trabalhando. O encontro de culturas proveniente dos diversos outros espaços de estrangeiros na região, sejam da Índia, China, Itália ou Rússia, é um fator que faz com que o casal se sinta integrado na região.

"Essa mistura toda é incrível. Especialmente para nós, imigrantes, faz com que a gente se sinta acolhido aqui, é o normal aqui na zona você ser de fora. De repente, se fosse um bairro mais conservador, seria mais difícil para termos sucesso, tanto por sermos imigrantes, quanto pelo conceito de ser um restaurante vegano, algo diferente", conta Molina, que diz acreditar que a comida vegana, já comum no Brasil em grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro ou Porto Alegre, tem ganhado cada vez mais espaço em Lisboa.

Com grande movimento nas manhãs e tardes, os proprietários afirmam também que o fato do Moco, antigo estabelecimento, ter uma clientela fiel, muitos desses clientes se identificaram com o conceito similar do Gal Café. O nome do bistrô que o casal tanto sonho abrir, aliás, é uma homenagem clara à Gal Costa, um dos maiores nomes da MPB no Brasil.

"A Gal é uma mulher poderosa, fez muito pela música brasileira e aqui ela é a nossa referência tropical. Aos poucos estamos deixando isso aqui com a cara que a gente quer mostrar, colocando mais plantas, playlist sempre no soft tropicalismo, enfim: é uma casinha brasileira dos anos 70", conta Molina.

Localizado no número 54A da Rua do Forno do Tijolo, o Gal Café funciona todos os dias, incluindo finais de semana, das 9h às 17h. Agora, o casal que antes morava no Intendente, e conhecia bem a região pelos tempos em que frequentavam o Moco, diz querer voltar o mais rapidamente possível para a região. No momento, vivem na Margem Sul. "Faz muito sentido estarmos aqui. Nos sentimos abraçados e queremos abraçar isso tudo também", finaliza Vivian.

O cardápio

O cardápio do Gal Café dá ao cliente uma larga variedade. O espaço serve café da manhã e almoço, levando a quem ali passa um pouco das especialidades que o casal costumava fazer em casa. A Granola da casa com iogurte e frutas frescas (€4,80) e bolo de banana (€2,80) eram alguns dos clássicos de Vivian, enquanto Molina fazia o Tofu mexido com tomates e coentros (€4,50) e algumas "invencionices", como a Panqueca de maça cozida, creme de caju, canela e mel de cana de açúcar da Madeira (€8,80), incluída na parte do café da manhã, mas que alimenta como um almoço.

Naquela que é considerada por muitos como a refeição mais importante do dia, o Gal Café ainda croissants, outras panquecas e a Tosta mista (nosso misto quente, ali feito com queijo e presunto veganos, €6). No almoço, pão com hummus (€5,80), saladas e sanduíches estão entre as opções, com destaque para o Bagel de salmão vegano, creme de caju, abacate, rúcula, rabanete e pickles de pepino (€9,50) e a Gal Tropical (tofu crocante, hummus, couscous, abacate, manga, molho de tahini, mix de folhas, couve rouxa, pickles de cenoura, rabanete e amêndoas laminadas, €12).

O Gal Café ainda serve sobremesas como a Tarte do dia (€5) e o Pastel de nata vegano (€1,50), além de cafés especiais, sucos e smoothies. Há também espaço para uma boa quantidade de bebidas alcoólicas, com destaque para vinhos naturais e sidras e cervejas artesanais.

Confira mais fotos do Gal Café.

nuno.tibirica@dn.pt

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