Forró, milho cozido e cultura unem brasileiros e portugueses em Braga
O São João brasileiro em Braga superou as expectativas da organização, com três noites de casa cheia, todas as comidas típicas vendidas e muita integração.
Texto: Amanda Lima
Fotos: Miguel Pereira / Global Imagens
Alegria, saudade, memória afetiva e nostalgia foram algumas das palavras utilizadas para descrever o primeiro São João brasileiro em Braga neste fim de semana. As diversas barracas de comidas típicas, todas de imigrantes brasileiros empreendedores, esgotaram o cardápio rapidamente. Com uma decoração fiel, feita pela cearense Thayná Lima e trazida direto de Fortaleza, a festa parecia mesmo como se estivesse acontecendo no Brasil. Não é à toa que a cidade ao norte de Portugal é conhecida como “Braguil”.
Mas o evento não reuniu só os brasileiros que moram em Braga. Muitos imigrantes vieram de outros municípios exclusivamente para dançar forró e matar a saudade do sabor brasileiro no São João. É o caso da curitibana Ana Letícia, que foi do Porto para festejar com o marido e um casal de amigos. O quarteto participou da pescaria, dançou muito forró e aproveitou as comidas. “Comi crepe, bolo de rolo, queijo coalho, escondidinho de carne seca”, conta a brasileira ao DN Brasil. Como boa paranaense, sentiu falta do pinhão e quentão, típico das festas juninas do sul do Brasil.
Os nordestinos se sentiram ainda mais em casa. Luísa Prado, de 63 anos, natural de Fortaleza, no Ceará, disse que foi como realmente estar em uma festa de São João no Brasil. “Já estava com muita saudades das músicas, está muito animado”, relata. Luísa viajou de Viana do Castelo com um grupo de amigas para celebrar e foi vestida à caráter, até mesmo com chapéu de cangaceira. Luísa mora em Portugal há 17 anos, mas mantém o amor pela cultura nordestina e o sotaque da terra natal.
Fátima Sena, de 70 anos, também foi de Viana do Castelo para festejar o São João. “Era muita saudade das nossas músicas e comida”, explica a imigrante, natural de Belém do Pará e residente em Portugal há dois anos. Além do forró em todas as noites, as noites de festa também tiveram uma mistura de ritmos musicais, como o funk, sertanejo e samba.
A família de Fátima se divertiu na festa e a cearense Luísa foi vestida de cangaceira.
Mas o forró foi o soberano e conquistou até quem não está habituado com o estilo. “Contagia”, admite o português João Machado, morador de Braga. Para quem não sabia como dançar, a professora Catarina Oliveira, da Associação Forró Braga, ensinou. Catarina é portuguesa e viveu muitos anos no Brasil, onde aprendeu o ritmo. Hoje, dar aulas de forró e outros estilos brasileiros é a sua profissão. “Temos metade dos alunos portugueses, que dançam muito bem o ritmo”, conta ao DN Brasil.
Catarina também comandou a quadrilha, que despertou a memória afetiva das festas juninas, especialmente das apresentações escolares. Esse era um dos objetivos da festa, considerada um sucesso pelos organizadores. “Estamos muito felizes, deu tudo certo”, avalia Lucas de Freitas, DJ e produtor cultural. A festa envolveu 100 profissionais, entre brasileiros e portugueses.
As atrações foram do grupo de forró Oitenta Baixos, Forró das Comadres - formado totalmente por mulheres e grupo de pagode Vem ser Feliz, além de DJs. Na gastronomia, os brasileiros puderam matar a saudade de mais de 20 tipos de comida, como o milho cozido - 300 unidades foram vendidas só no sábado, além do arroz de carreteiro, pamonha, bolo de milho, espetinho de queijo coalho e bolinho de carne seca.
Forró foi um sucesso - e a professora é portuguesa.
Quem vê o sucesso do arraial não imagina os desafios para que este e outros eventos fossem realizados na cidade. “É o resultado de muito esforço e desenvolvimento de relações ao longo de quatro anos. A maior parte dos espaços em Braga nos fecham a porta, acham que festa que envolve brasileiros é só bagunça, mas, felizmente, estamos provando o contrário”, conta o imigrante.
Quem concorda é o artista Bemvindo Siqueira, que mora em Braga. O primeiro ator registrado do Brasil foi o patrono da festa e é um promotor da integração cultural. “É o Brasil dançando e cantando junto com os portugueses. A vida de imigrante não é fácil, mas a gente tá junto e misturado, com muita garra e alegria no São João”, discursou sob aplausos do público, que já está ansioso pela festa de 2025 em Braga. Os organizadores afirmam que a segunda edição do São João já está nos planos, além de outros eventos ainda neste verão. A festa continua na noite neste domingo, véspera de feriado na cidade.
Confira mais algumas fotos da festa:
